PEDRO LOVISI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, sugeriu que empresas americanas de inteligência artificial comprem a energia excedente de Itaipu para abastecer data centers.
A recomendação foi feita durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano na terça-feira (20).
Na ocasião, ao ser perguntado por um senador republicano sobre a participação dos Estados Unidos na COP 30, Rubio contornou e disse que o setor de energia será crucial na política externa do país nos próximos cem anos. Como exemplo, ele citou as tentativas de acordo entre Brasil e Paraguai sobre o que fazer com o excedente de eletricidade produzida por Itaipu.
A eletricidade gerada é dividida igualmente entre Brasil e Paraguai, com o Brasil comprando a parte paraguaia que não é consumida no país vizinho. Em 2024, os dois países assinaram um pré-acordo que autorizava o Paraguai a vender essa energia diretamente para indústrias brasileiras, por meio do mercado livre, o que em tese diminui os custos do sistema.
As negociações, no entanto, foram suspensas após o portal UOL reportar suspeitas de que o Brasil havia iniciado uma ação de espionagem contra autoridades paraguaias que lidavam com as negociações. O governo Lula negou que a espionagem tenha ocorrido em seu governo e atribuiu a responsabilidade da operação ao governo Jair Bolsonaro.
Agora, durante a audiência no Senado, Rubio deu a entender que o assunto é acompanhado de perto pelas autoridades americanas.
“O Paraguai tem uma usina hidrelétrica e eles estavam em um acordo de longo prazo com o Brasil, onde vendiam 50% da energia produzida. Esse acordo agora expirou e eles estão tentando descobrir o que fazer com os 50% da eletricidade gerada por energia hidrelétrica que não irá mais para o Brasil. Eles não podem colocar isso em um navio e enviar para o exterior, então alguém, se for inteligente, vai descer ao Paraguai e abrir uma instalação de IA”, disse o secretário americano.
“Não produzimos energia global suficiente para atender a essa demanda, e isso vai proporcionar duas coisas: oportunidades estratégicas para nações que podem fornecer energia com custo eficiente e em volume suficiente. Isso se tornará uma enorme oportunidade para esses países se tornarem líderes no espaço da IA, mas também vai colocar pressão sobre todos os outros”, afirmou. “Portanto, precisamos estar à mesa para ter conversas não apenas sobre qual é o nosso papel na energia, mas como ajudamos a investir ou nos associar a países que têm um suprimento de energia.”
A fala de Rubio chama também atenção porque o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, esteve nos EUA no início do mês para atrair empresas de inteligência artificial para o Brasil. Mas, como Rubio deixou a entender, ao menos no que diz respeito à energia de Itaipu, a ideia é se alocar no Paraguai. O Brasil, no entanto, tem excedente de outras energias renováveis, como solar e eólica, principalmente geradas no norte de Minas Gerais e no Nordeste, o que o torna um país potencial para receber data centers.