JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
FOLHAPRESS
Autoridades federais da Alemanha desmantelaram uma célula terrorista de extrema direita nesta quarta-feira (21) em operação coordenada em diversos pontos do país. Cinco jovens, com idades variando de 14 a 18 anos, foram presos sob suspeita de terrorismo. Todos eram menores de idade quando perpetraram dois dos crimes imputados a eles: provocar o incêndio em um centro cultural no estado de Brandemburgo e a tentativa de incendiar um alojamento de refugiados na Turíngia.
Stefanie Hubig, ministra da Justiça, classificou como chocante o fato de o grupo ter sido formado por adolescentes. “É um sinal de alarme e mostra que o terrorismo de extrema direita não tem idade.” E está em ascensão.
Números divulgados nesta semana pelo governo federal mostram que crimes com motivação política deram um salto de 40% no último ano. Metade, 42.788 ocorrências, foram atribuídas à extrema direita, que tiveram crescimento ainda maior, de 48%.
Ao apresentar as estatísticas, na terça-feira (20), o ministro do Interior, Alexander Dobrindt, declarou que o extremismo de direita era a maior ameaça à democracia neste momento na Alemanha, notadamente os movimentos juvenis, como o desbaratado agora, formado no ano passado e que se autointitulava como a “Última Onda de Defesa”.
O objetivo da facção, de acordo com investigação do Ministério Público, era provocar o colapso do governo alemão por meio de ataques a imigrantes e políticos de esquerda, o que levou ao enquadramento de terrorismo. Também foi constatado a troca de conteúdo extremista e a incitação de crimes em redes sociais e aplicativos de mensagem.
A prisão dos integrantes, que seriam líderes do grupo, de acordo com a polícia, que usou mais de cem agentes e revistou dezenas de locais, frustrou planos para novos ataques.
Reportagem do jornal Die Zeit, publicada no mês passado, mostrou uma proliferação de grupos neonazistas entre adolescentes alemães, em geral organizados pelo WhatsApp, que misturam o universo teen, como a adoração a marcas de tênis e roupas de grife, com extremismo político, visões deturpadas da história germânica e violência.
A investigação jornalística encontrou mais de 120 comunidades do tipo, responsáveis por episódios como o do ataque a Matthias Ecke, candidato social-democrata ao Parlamento Europeu, que foi espancado por três jovens de 17 anos enquanto colocava cartazes de sua campanha, em meados do ano passado. Ecke foi hospitalizado, com fraturas no rosto.
De acordo com especialistas, o fenômeno não está descolado da ascensão institucional da extrema direita na política. A AfD, Alternativa para Alemanha, partido que processa o governo neste momento por ter sido classificado como extremista de direita, vive o melhor momento desde sua criação, em 2013, com a segunda maior bancada no Parlamento e a liderança em algumas pesquisas de intenção de voto.
A legenda, que tem integrantes investigados por crimes de ódio e neonazismo, defende pautas populistas, como a saída da Alemanha da União Europeia e a volta do marco alemão. Soluções simplistas como deportações de imigrantes em massa para solucionar a escassez de moradia acessível e emprego teriam como alvo exatamente o público jovem.