A eleição para a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), marcada para domingo (26), será uma mera formalidade. A disputa terá chapa única, encabeçada pelo médico Samir Xaud, presidente da federação de Roraima, com apoio formal de 25 das 27 federações estaduais e de 10 clubes das Séries A e B. Na prática, o resultado já está definido.
Mas, como de costume no futebol brasileiro, o placar não revela toda a história. Abaixo da superfície da candidatura única, sete movimentos ajudam a entender o jogo jogado nos bastidores da CBF:
1. Traições e articulações de última hora
A candidatura de Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista, chegou a ganhar corpo entre clubes, mas naufragou antes mesmo da largada oficial. Clubes como Amazonas e CRB, que inicialmente apoiavam Bastos, migraram para o lado de Xaud após forte pressão das federações locais. A disputa virou um campo minado de traições, telefonemas de madrugada e promessas feitas e desfeitas em questão de dias.
2. A força do Norte e Nordeste
Samir Xaud só se tornou viável graças ao apoio massivo das regiões Norte e Nordeste, historicamente preteridas no comando do futebol brasileiro. Cinco dos oito vices em sua chapa são dessas regiões, o que dá ao grupo um inédito protagonismo no poder central da CBF. A chapa leva o nome “Futebol para Todos: Transparência, Inclusão e Modernização” — um aceno político claro à necessidade de renovar a imagem da entidade.
3. O gesto mais sóbrio de Ednaldo
Após ser reeleito por aclamação em março e derrubado pela Justiça do Rio dois meses depois, Ednaldo Rodrigues convenceu-se de que não havia outra saída, senão desistir de vez. Já no domingo (18), o STF recusou um pedido urgente para anular a eleição. Ednaldo disse que não vai mais recorrer. Isolado politicamente, sem apoio sequer dos antigos aliados em Brasília, encerra sua trajetória na CBF com o gesto mais sóbrio de sua gestão: aceitar a derrota.
4. Sabe-se agora por que ele “jogou a toalha”
Em meio ao intenso tiroteio, Ednaldo Rodrigues perdeu o seu assento no Conselho da Fifa, onde representava a Conmebol, após uma votação quase unânime: nove das dez federações sul-americanas optaram por sua destituição. Isso comprova o desgaste do ex da CBF com Alejandro Domínguez, presidente da Conmebol, e Gianni Infantino, da Fifa. Sem apoio político e acumulando reveses no STF e na Justiça do Rio, Ednaldo acabou desistindo oficialmente de tentar retornar ao comando da CBF.
5. O protesto dos clubes
Embora dez clubes tenham assinado a chapa de Xaud, a maioria — especialmente os da Série A — ensaia um protesto simbólico: não comparecer à votação. A ideia é expressar insatisfação por não terem sido ouvidos na construção da candidatura, decidida exclusivamente entre federações. Libra e Liga Forte União, adversárias na organização da liga, tentam agora formar uma frente comum nessa abstenção inédita. Não muda o resultado, mas dá o recado.
6. Principais reivindicações
Além disso, os clubes ainda tentam fazer valer suas demandas. Entre os principais pontos defendidos estão a alteração do processo eleitoral, com mudanças no peso dos votos; a obrigatoriedade de participação dos clubes em todas as Assembleias Gerais da entidade; e o reconhecimento de que os direitos comerciais das Séries A e B pertencem aos próprios clubes. Essas exigências, embora justas e amplamente discutidas nos bastidores, esbarram em um modelo de governança que favorece as federações estaduais, muitas vezes alheias aos interesses do futebol de alto rendimento. Em empo: Palmeiras e Remo foram os únicos que não assinaram o manifesto.
7. Holofotes apontados para Samir
Para concluir, transcrevo a seguir a íntegra de uma notícia do jornal O Globo, mostrando o “currículo” do nosso futuro presidente: “Samir Xaud, 41 anos, é dono da Life Fitness, um centro de treinamento voltado ao fitness e bem-estar em Boa Vista. Sua sócia no empreendimento é Simone Bekel. Ela foi presa em 2018 numa operação da PF, batizada de Escuridão, que investigava um esquema de fraudes em contratos para fornecer alimentação em presídios e unidades de saúde. Simone foi presa junto com o marido, o então deputado estadual Renan Bekel Filho, posteriormente cassado por compra de votos. A propósito, a Life Fitness consta como inapta no registro da Receita Federal por omissão de declarações. As irmãs de Samir Xaud, Samara e Sandrea, também rondam a política. Samara era assessora de Chico Rodrigues, o senador flagrado com R$ 33 mil em dinheiro vivo camuflado na cueca em 2020. E é casada com Jean Frank Lobato, ex-deputado estadual e apontado numa investigação da PF como o operador de Chico Rodrigues. A suspeita era que Jean Frank, cunhado de Samir, cobrasse, em nome do senador, 10% de empresas que atuavam no distrito de saúde indígena que abarca a terra Yanomami. Já o outro cunhado de Samir, Roger Pimentel, casado com Sandrea, é dono de uma empresa que, durante a pandemia, foi contratada pela Secretaria de Saúde de Roraima para fornecimento de testes rápidos. Segundo a PF, na Operação Desvid-19, a compra foi superfaturada em cerca de R$ 1 milhão. (Globo).