Cannes recebe o diretor iraniano Jafar Panahi após uma espera de 15 anos

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O diretor iraniano Jafar Panahi contrariou o governo dos aiatolás nesta terça-feira (20) com seu filme em competição “Um Simples Acidente”, marcando o retorno do cineasta ao Festival de Cinema de Cannes após 15 anos.

O festival também celebrou a estreia da estrela americana Scarlett Johansson como diretora e o 25º aniversário do lançamento de “Amores Brutos”, o filme que lançou o mexicano Alejandro González Iñárritu ao estrelato.

Panahi é um diretor perseguido no Irã, onde passou meses na prisão, país do qual não conseguia sair há anos, enquanto no exterior era premiado por seus filmes honestos e de baixo orçamento.

“Um Simples Acidente” é outro exemplo de cinema fortemente comprometido com a realidade, filmado na clandestinidade.

Apesar da seriedade dos temas abordados, sempre há espaço para o humor nos filmes de Panahi.

O filme começa com este tom: um casal e sua filha pequena no carro, dirigindo à noite, com o rádio ligado no volume máximo.

O carro quebra e o pai sai para pedir ajuda no que parece ser um armazém na estrada. Um trabalhador acha que o reconhece: é o capanga da polícia que o torturou durante meses. Enlouquecido pela lembrança, ele decide sequestrá-lo.

Assim começa uma jornada que, apesar de sua dureza, nunca perde completamente o senso de humor. E sem deixar de fazer as perguntas básicas: onde termina a justiça e onde começa a vingança?

– “Estou vivo porque faço filmes” –

“Estou vivo porque faço filmes”, disse Panahi à AFP antes da estreia, que recebeu longos aplausos na Croisette.

“O mais importante é que o filme foi feito. Não parei para pensar no que poderia acontecer” quando voltasse, ele admitiu.

“Um Simples Acidente” está na disputa pela Palma de Ouro, que o júri anunciará no sábado.

Pela primeira vez desde sua condenação em 2010, o cineasta dissidente pode participar de um festival internacional de cinema.

O premiado diretor, que ficou preso por vários meses entre 2022 e 2023, conseguiu deixar Teerã com sua equipe para apresentar este filme, financiado com dinheiro francês.

Durante seus anos na prisão, Panahi ganhou o Urso de Ouro em Berlim em 2015 por “Taxi Teerã”, o prêmio de Melhor Roteiro por “3 Faces” em Cannes em 2018 e o Prêmio Especial do Júri em Veneza em 2022 por “Sem Ursos”.

O outro filme em competição pela Palma de Ouro, apresentado nesta terça-feira, é “Fuori”, do italiano Mario Martone, uma biografia da atriz e escritora italiana Goliarda Sapienza, ativista anarquista e feminista no século XX.

– O projeto mais pessoal –

O festival também contará com a estreia de Scarlett Johansson na direção, com “Eleanor the Great”.

A estrela americana é conhecida por seus papéis em sucessos de bilheteria como “Viúva Negra” e a saga “Vingadores”, mas também em filmes independentes como “Sob a Pele” e “Encontros e Desencontros”.

Atriz desde os 10 anos de idade, Johansson explicou que aprendeu com os grandes diretores com quem trabalhou, como Woody Allen, Sofia Coppola e Jonathan Glazer, antes de se lançar em seu projeto mais pessoal, ao lado da roteirista Tory Kramen.

“Eleanor the Great” apresenta uma atriz mais velha, June Squibb (95 anos), indicada ao Oscar por “Nebraska” em 2013.

Sua personagem acaba de perder a melhor amiga, uma sobrevivente judia do Holocausto, e o desejo de Eleanor de prestar homenagem a ela a leva a cometer uma falha grave.

Completando o elenco principal está Erin Kellyman, jovem atriz britânica que se destacou em “Han Solo”, filme da saga “Star Wars”.

Agence France-Presse

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