
O governo francês anunciou a construção de uma nova prisão de segurança máxima em seu território ultramarino na América do Sul, a Guiana Francesa. O anúncio foi feito pelo ministro da Justiça da França, Gérald Darmanin, durante visita oficial à região.
A futura unidade, orçada em € 400 milhões (cerca de R$ 2,5 bilhões), será destinada a isolar traficantes de drogas de alta periculosidade e radicais islâmicos condenados. A prisão será construída em uma área remota da selva amazônica, nos arredores de Saint-Laurent-du-Maroni, e deverá ser inaugurada até 2028. A estrutura terá capacidade para 500 detentos, incluindo uma ala especial para presos considerados de altíssimo risco.

História que se repete?
A escolha do local carrega um forte peso simbólico. Saint-Laurent-du-Maroni já foi sede da mais temida colônia penal francesa: a Ilha do Diabo, que funcionou entre 1852 e 1954, recebendo mais de 70 mil condenados. O complexo penal ficou mundialmente conhecido através do livro “Papillon”, publicado em 1969 por Henri Charrière.
Charrière, condenado por assassinato, alegava inocência e descreveu sua dramática fuga da colônia penal francesa. O livro mistura experiências próprias com histórias de outros detentos, sendo considerado semi-autobiográfico por diversos estudiosos. Após escapar, Henri teria vivido por um período na Venezuela e, segundo registros, morreu no Brasil em 1973, aos 66 anos.

Sucesso no cinema
A obra foi um sucesso mundial e deu origem a duas adaptações para o cinema. A primeira versão, lançada em 1973, tornou-se um clássico do gênero, com Steve McQueen no papel de Papillon e Dustin Hoffman como Louis Dega. A segunda adaptação chegou aos cinemas em 2017, com Charlie Hunnam e Rami Malek nos papéis principais. Ambas as versões reconstroem com intensidade o ambiente brutal da colônia penal e a perseverança dos presos para conquistar a liberdade.
Mistério em Roraima
A figura de Papillon continua cercada de mistério e versões alternativas. Em Roraima, o fotojornalista e escritor Platão Arantes passou cerca de 20 anos pesquisando a vida do verdadeiro autor de “Dry Guillotine”, o francês René Belbenoit, que também cumpriu pena na Ilha do Diabo. Belbenoit publicou livros como “Dry Guillotine” (A Ilha do Diabo), “Hell on Trial” (Inferno no Julgamento) e *”Papillon e Banco”, todos baseados em sua própria experiência como prisioneiro.
Arantes ouviu relatos de moradores do município de Normandia (RR) que afirmavam que Papillon teria vivido seus últimos dias na vila Surumu, em Roraima, após fugir da prisão na Guiana Francesa. Há até quem diga que ele estaria enterrado na região, o que alimenta o imaginário popular e reforça a teoria de que Charrière teria apropriado — parcial ou totalmente — das histórias de outros detentos, como Belbenoit.
Pragmática e controversa
A nova prisão anunciada pelo governo francês é vista como uma medida para isolar presos de altíssima periculosidade, principalmente aqueles ligados a facções do narcotráfico internacional e grupos extremistas. O isolamento geográfico da Guiana Francesa é considerado estratégico para dificultar fugas e minimizar comunicações externas.
Além disso, o projeto também busca reduzir a superlotação do sistema penitenciário francês e ampliar a atuação do Estado em seus territórios ultramarinos.

Guiana Francesa: território estratégico
Embora esteja geograficamente localizada na América do Sul, a Guiana Francesa é parte integral da França, com status de departamento ultramarino. Seus habitantes são cidadãos franceses, com direitos plenos, como o voto e acesso ao sistema de saúde, educação e previdência social da França continental. A região também abriga o Centro Espacial de Kourou, ponto estratégico para lançamentos da Agência Espacial Europeia.
A construção da nova penitenciária reacende memórias da antiga colônia penal e levanta debates históricos, jurídicos e humanitários sobre o uso da selva amazônica como espaço de reclusão extrema. Quase dois séculos depois, o nome Papillon — real ou lendário — continua ecoando entre as celas, os livros e os mistérios que o cerca.
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