
Nascido em 20 de maio de 1945, Renato Teixeira festeja 80 anos de vida pautada pela música do interior
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♫ ANÁLISE
♪ Nascido em Santos (SP) em 20 de maio de 1945, o trovador paulista Renato Teixeira chega hoje aos 80 anos, em ritmo intenso de produtividade, como o mais elegante artesão da canção folk de cepa brasileira. A obra reflete a vivência do artista que passou a infância em Ubatuba (SP) e atravessou a adolescência em Taubaté (SP) – cidades do interior paulista – antes de migrar para a miscigenada capital do estado de São Paulo, onde reside com o status de ser uma grife no universo musical do Brasil rural.
Em vez de sertanejo, é mais apropriado caracterizar como caipira – com tudo o que adjetivo carrega de mais refinado – o som de Renato Teixeira de Oliveira, cantor, compositor, violonista e violeiro que entra hoje para o panteão dos octogenários da música brasileira.
O artista segue tocando a vida e a obra em frente, sem saudosismo ou apego ao repertório do passado. Nos últimos dez anos, Teixeira lançou dois álbuns com Almir Sater e outros dois com Fagner. Todos com músicas inéditas. Em março, o artista apresentou álbum com o pianista Antonio Adolfo, Combinados (2025), com parcerias também inéditas em que Adolfo entrou com as melodias e Teixeira com os versos. O cronograma deste festivo 2025 inclui turnê comemorativa dos 80 anos em show que já entrou em cena.
Autor de 412 músicas cadastradas no Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (ECAD), Renato Teixeira é o compositor de Romaria, tocante canção sobre a fé que move o povo do Brasil, representado na letra pelo retirante de espirito desassossegado que busca conforto aos pés de Nossa Senhora Aparecida.
Em 1977, a gravação da então inédita Romaria por Elis Regina (1945 – 1982) deu impulso à carreira desse artista que já estava em cena desde 1967, ano em que outra grande cantora do Brasil, Gal Costa (1945 – 2022), defendeu com Silvio César uma música de Teixeira, Dadá Maria, no III Festival de Música Popular Brasileira, exibido pela TV Record. A concorrência era forte e Dadá Maria não chegou à final, mas o compositor registrou a música com Gal Costa em disco com composições do festival.
No embalo dessa tímida visibilidade, o compositor teve música gravada por Roberto Carlos – Madrasta, parceria com Beto Ruschel, encerrava o álbum O inimitável (1968) como alien no repertório deste disco importante na transição de Roberto para o universo adulto – e o cantor conseguiu lançar em 1969 o primeiro álbum. Aliás, um meio disco, já que esse álbum de estreia foi dividido com Chico Maranhão e saiu pela gravadora independente O Jogral, a mesma que lançou em 1971 o primeiro LP solo de Teixeira, Álbum de família.
Seguiu-se um segundo álbum solo, Paisagem, em 1973, ano em que Renato Teixeira compôs Romaria. Segunda música mais tocada e mais gravada de Renato Teixeira, de acordo com levantamento feito pelo ECAD por conta dos 80 anos do artista, atrás apenas de Tocando em frente (parceria com Almir Sater apresentada em 1990 na voz de Maria Bethânia), Romaria esperou quatro anos para chegar ao mundo em gravação feita por Elis em 1977 com o toque do grupo Água, formado por Teixeira nos anos 1970.
Com Água, o compositor encontrou o ponto de maturação de cancioneiro que, enraizado no solo do sertão brasileiro, incorporou referências do folk, do country e das toadas caipiras para chegar a uma mistura nacionalista, feita sem ranços folclóricos.
Sem apelações popularescas, o cancioneiro de Renato Teixeira é mais completa tradução do universo das estradas e dos caminhoneiros (Frete, música composta em 1979 para a abertura do seriado Carga pesada, é a sexta música mais tocada deste cancioneiro), dos cantadores e músicos do grande sertão brasileiro (Um violeiro toca, parceria com Almir Sater, é a terceira música mais gravada na obra do compositor), dos peões, enfim, de um Brasil rural, interiorano, que avança no tempo sem se desconectar das raízes caipiras.
É a partir desse universo rural que Renato Teixeira versa sobre amor (Amora, canção de 1979 ocupa a quinta posição no ranking das músicas mais gravadas do compositor) e fraternidade (Amizade sincera, 1981).
Embora nunca tenha rejeitado um ou outro sutil toque de urbanidade na obra fonográfica, constituída por álbuns como Romaria (1978), Amora (1979) e Garapa (1980), Renato Teixeira permaneceu fiel a esse romantizado universo caipira. Por mais que ganhe o mundo, o coração e a obra do artista batem dentro do campo.
Renato Teixeira é o compositor de músicas como ‘Romaria’ (1977) e ‘Amora’ (1979)
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