Filme sobre Cacá Diegues em Cannes repassa sua vida e os bastidores da última obra

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CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS)

Em 1980, Cacá Diegues levou o Brasil para a competição principal do Festival de Cannes pela 23ª vez.

Quase como uma alegoria aos seus personagens de “Bye Bye Brasil”, artistas que cruzam a Amazônia para se apresentarem em cidades remotas, o diretor atravessou o Atlântico rumo à Riviera Francesa para concorrer à Palma de Ouro.

Agora, três meses após a morte do diretor, um dos mais importantes representantes do cinema novo, o festival exibe sua história na tela grande -justamente no ano em que o Brasil é o país de honra do evento.

“Para Vigo Me Voy!”, dirigido por Lírio Ferreira e Karen Harley, é um documentário que mescla trechos dos filmes de Diegues com entrevistas dadas por ele ao longo da vida.

O longa contém filmagens inéditas da última vez que o diretor esteve em um set, rodando “Deus Ainda É Brasileiro”, imagens de bastidores das gravações de “Bye Bye Brasil” e, ainda, o último encontro de Diegues com artistas que acompanharam a sua trajetória, como Antônio Pitanga, Marieta Severo e Antônio Fagundes. O cineasta morreu em fevereiro por complicações de uma cirurgia na próstata.

Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, antes de morrer, Diegues enviou uma carta ao presidente Lula, na qual expressava sua preocupação com o setor audiovisual e pedia por políticas que garantissem a “constância de conteúdo brasileiro nas nossas telas”. Hoje, uma das pautas mais urgentes para o setor cultural é a regulamentação do streaming.

“Ele entendia a necessidade da presença estatal no cinema. Essa questão do streaming é como se um grande valentão todo-poderoso quisesse passar por cima das regras da sociedade. É uma coisa mafiosa, que não deveria acontecer”, diz José Bial, neto do diretor.

Para Karen Harley, diretora de “Para Vigo Me Voy!” ao lado de Lírio Ferreira, Diegues desejava constância para o cinema nacional. “Ele queria uma indústria forte, plural, de afirmação da diversidade. Ele sempre lutou pela liberdade e pela democracia.”

A Croisette já recebeu o brasileiro várias vezes. A primeira foi em 1964, quando o diretor de apenas 24 anos exibiu “Ganga Zumba” fora da competição, na Semana da Crítica. Era o ano do Brasil golpe militar, que o obrigou a se exilar na França com a sua mulher, Nara Leão, cinco anos depois.

Naquele mesmo ano, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Vidas Secas” disputavam a Palma de Ouro, em uma edição do festival que anunciou o cinema novo brasileiro ao resto do mundo.

Diegues voltou a Croisette em 1970, também fora de competição, com “Os Herdeiros” e, oito anos depois, com “Chuvas de Verão”. “Bye Bye Brasil” foi sua estreia na corrida pela Palma, que naquele ano foi para “Kagemusha”, de Akira Kurosawa, e “All That Jazz”, de Bob Fosse.

Em 1984, voltou à competição com “Quilombo”, que mostra a batalha de Zumbi dos Palmares contra o exército colonial. Daquela vez, o prêmio foi de “Paris, Texas”, de Wim Wenders. Três anos depois, ele disputou o maior prêmio do festival com “Um Trem para as Estrelas”, que narra a jornada de um saxofonista pela madrugada carioca em busca de uma mulher.

Diegues passou por Cannes também como produtor e jurado. Em 2018, apresentou no festival seu último longa-metragem lançado em vida, “O Grande Circo Místico”, fora de competição. O filme conta a história de cinco gerações de uma mesma família circense e estrelou atores como Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer e Antônio Fagundes.

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