VITOR HUGO BATISTA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Após a sinalização do presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, de que a autoridade monetária deve manter a taxa básica de juros, a Selic, hoje em 14,75% ao ano, mais alta por mais tempo, o dólar EUA passou a cair e a Bolsa brasileira a subir.
Mais cedo, a moeda registrava leve alta, enquanto a Bolsa caía com os investidores repercutindo a notícia de que a agência de classificação de riscos Moody´s rebaixou a nota máxima de créditos AAA dos Estados Unidos para AA1, mas os movimentos se inverteram a partir da fala do dirigente do BC.
Às 14h16, o dólar tinha queda 0,40%, a R$ 5,645. No mesmo horário, a Bolsa tinha alta de 0,62%, a 140.060 pontos, a caminho de renovar seu recorde histórico. Na máxima do pregão até então, o índice atingiu a marca de 140.159 pontos, renovando a máxima intradiária, que havia sido de 139.418 pontos, registrados na última terça-feira (13).
Durante o evento Annual Brazil Macro Conference, promovido pelo banco Goldman Sachs, em São Paulo, Galípolo afirmou que o BC dependerá de novos dados sobre a atividade econômica e a inflação para decidir o que fará com os juros nas próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do BC).
“Faz sentido que os juros fiquem em um patamar restritivo por mais tempo. Agora o momento é de pensar como vamos reagir, e não o que vamos fazer.”
Segundo Willian Andrade, CIO da Kaya Asset Management, a permanência de juros reais elevados torna o Ibovespa mais atrativo, trazendo investidores e recursos estrangeiros para cá.
Mais cedo na sessão, os mercados de câmbio e de ações eram influenciados pela notícia de sexta-feira (16), quando os EUA perderam sua classificação de crédito máxima (triplo A) concedida pela Moody’s Ratings devido a preocupações com o aumento dos níveis da dívida pública.
Ao rebaixar a nota, a agência de classificação de risco citou dívida e juros crescentes no país, “que são significativamente mais altos do que os de soberanos com classificação semelhante”.
As outras principais agências, Fitch e S&P, já haviam retirado a classificação impecável dos EUA anteriormente.
“A gente já começa a semana com uma notícia não muito boa para os Estados Unidos. O rebaixamento da nota por lá acontece porque toda essa pressão tarifária que o Trump fez acabou tirando parte de investimentos do país ou quem estava pensando em investir lá está segurando um pouco até ver realmente onde vai os desdobramentos”, afirmou Alison Correia, analista de investimentos e sócio-fundador da Dom Investimento.
Na perspectiva de Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, “esse movimento pode favorecer o fluxo de capital para mercados emergentes, beneficiando países como o Brasil”.
Os impactos no exterior também eram sentidos. Os rendimentos do Tesouro americano, considerados os mais seguros do mundo e referência para investidores, subiam e as ações dos EUA caíam junto com o dólar. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras seis divisas fortes, teve queda de 0,85%, a 100,24 pontos. As ações europeias e asiáticas também caíram.
Com essa mudança, os investidores acreditam que os Estados Unidos vão manter prêmios de risco altos. Isso significa que as taxas de juros devem continuar elevadas, fazendo com que os títulos do Tesouro ofereçam rendimentos maiores no médio e longo prazo.
Como resultado, esses títulos se tornam mais atrativos para investidores estrangeiros, o que pode diminuir o interesse por ativos considerados mais arriscados.
“O rebaixamento da nota de crédito dos EUA está reverberando um pouco. Naturalmente, o mercado vai pedir um pouco mais de prêmio pelo risco EUA e deve refletir nos Treasuries também”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Nesta segunda, o assessor para assuntos econômicos da Casa Branca, Kevin Hassett, minimizou o rebaixamento da nota de crédito, dizendo que a mudança não deveria ser uma surpresa.
Já o vice-presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Philip Jefferson, disse que o rebaixamento da Moody’s será tratado como qualquer outro dado na política monetária
“Colocaremos esse rebaixamento na mesma perspectiva que fazemos com todas as informações que chegam: quais são as implicações disso em termos de atingirmos nossos mandatos, sem comentar o que esse rebaixamento pode significar em um contexto político da economia”, disse Jefferson em uma conferência sobre os mercados financeiros do Fed de Atlanta nesta segunda.
“Estamos tentando cumprir nosso duplo mandato: pleno emprego e estabilidade de preços. Em um momento como este, em que os mercados financeiros estão mudando, é importante que nos concentremos em nossa missão”, disse Jefferson.
No domingo, o Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, também minimizou o rebaixamento da Moody’s durante entrevistas para televisão, enquanto advertia os parceiros comerciais de que receberiam tarifas máximas se não oferecessem acordos de “boa fé”.
As incertezas comerciais continuam em foco, com os mercados à espera do anúncio de novos acordos tarifários dos EUA com seus parceiros, já que negociações seguem em andamento para conter as altas tarifas de Trump.
Na cena doméstica, o mercado avaliava dados sobre atividade econômica, com o Banco Central informando que o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), considerado um sinalizador do PIB (Produto Interno Bruto), avançou em março 0,8%, em resultado acima do esperado.
Mais cedo, analistas consultados pelo BC na pesquisa Focus voltaram a reduzir a estimativa para a inflação este ano, de 5,51% na semana anterior 5,50%. Esta é a quinta queda consecutiva na previsão feita. O centro da meta oficial para a inflação é de 3,00%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Com a agenda doméstica mais fraca nesta semana, o agentes do mercado devem acompanhar de perto as atualizações sobre algumas medidas fiscais “pontuais”, segundo o ministro Fernando Haddad (Fazenda), que estão sendo preparadas pelo governo para assegurar o cumprimento da meta fiscal.
“O que está em evidência é toda essa questão fiscal, principalmente essas possíveis movimentações de planos populistas que o governo poderia fazer. Está todo mundo de olho para entender os próximos passos do governo”, afirmou Correia, da Dom Investimentos.
Na semana passada, as medidas em questão elevaram os ruídos sobre o cenário fiscal e aumentaram as preocupações dos investidores de que o governo poderia lançar medidas econômicas para melhorar a avaliação de Lula, elevando a dívida pública. Havia rumores de um reajuste no valor do Bolsa Família de R$ 600 para R$ 700 a partir de janeiro de 2026.
“As únicas medidas que estão sendo preparadas para levar ao conhecimento do presidente [Lula], que seria hoje [quinta], mas em função do falecimento do Mujica [ex-presidente do Uruguai] passou para semana que vem, são medidas pontuais para o cumprimento da meta fiscal”, disse Haddad em entrevista a jornalistas nesta quinta na sede da Fazenda, em Brasília.
Na sexta-feira (16), a Bolsa brasileira fechou o pregão com um recuo discreto de 0,10%, a 139.187 pontos, depois de encerrar aos 139.334 pontos na quinta-feira (15) e bater um novo recorde histórico. Ao longo da semana passada, o Ibovespa acumulou um ganho de 1,96%.
O índice foi puxado para baixo pelos papeis do Banco do Brasil, que fecharam com recuo de 12,38%, a R$ 25,76, após o banco divulgar uma queda de 20,7% nos lucros no 1º trimestre. A Marfrig esteve entre os destaques positivos, subindo 21,35% e renovando máximas históricas após anunciar que irá incorporar a BRF.
A desvalorização dos papeis do setor agropecuário brasileiro também pressionaram o sinal negativo do Ibovespa, após a confirmação, nesta sexta-feira (16), do primeiro caso de vírus da influenza aviária de alta patogenicidade, H5N1, em uma granja de aves comerciais no Rio Grande do Sul. As ações da JBS fecharam em queda de 0,71%, da Boa Safra em baixa de 2,90%, enquanto os papeis do BrasilAgro perderam 0,84%.
Já o dólar encerrou a sessão com uma leve queda de 0,19%, cotado a R$ 5,668, após ter alcançado os R$ 5,713 na máxima do dia. Na semana passada, porém, acumulou alta de 0,25%. A divisa chegou a registrar avanços com investidores de olho em novidades sobre negociações comerciais dos Estados Unidos com parceiros, mas desacelerou alta e passou a cair após dados sobre a confiança do consumidor americano, que diminuiu ainda mais em maio.