PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
De janeiro a 15 de maio de 2025, a cidade de São Paulo já registrou 353 casos de hepatite A. O número representa 57,1% do total do ano passado, que finalizou com 618. Neste ano, três pessoas morreram -em 2024 houve um óbito. No ano passado, de janeiro a abril, foram registrados 172 casos da doença. Os dados são da Secretaria Municipal da Saúde.
O cenário epidemiológico do município, em 2025, segue a mesma tendência de alta observada no estado de São Paulo -até 16 de maio, foram computados 642 casos de hepatite A. No ano anterior (até 18 do mesmo mês), alcançou 412 (1.142 de janeiro a dezembro). As informações são da plataforma estadual, atualizada até às 17h de 16 de maio.
No interior, Sorocaba tem o maior número de casos, 119. Na Baixada Santista, Santos (67) e Praia Grande (10) aparecem na frente, com mais infecções.
Segundo a Secretaria Estadual da Saúde, em 429 dos 642 casos a fonte provável de infecção é ignorada. Em 106, alimentos e água contaminados provocaram a doença.
Outros 35 contraíram hepatite A por contato sexual. Nos demais, transmissão pessoa a pessoa (7), domiciliar (4), tratamento dentário (3) e uso de drogas (3). Em branco e outros somam 55.
Para o infectologista, diretor nacional de infectologia da Rede D’Or e reitor do Centro Universitário FMABC, David Uip, o aumento de casos está relacionado à falta de saneamento básico.
“Primeiro, a contaminação fecal-oral. Tudo tem a ver com o saneamento básico. De um país que só tem 50% [da população] sem coleta ou com esgoto tratado não dá para esperar muito. Esse é o ponto crucial. O segundo é que a doença é prevenível por vacina.
Se o programa de vacina é efetivo, você seguramente vai ter, a despeito da exposição, menos casos. Terceiro, os cuidados pessoais. Lavar as mãos antes das refeições. Quando o indivíduo tem hepatite diagnosticada, ele tem que ficar afastado. Há uma série de regras que são básicas para evitar o aumento de casos”, afirma Uip, que já foi secretário estadual da Saúde de São Paulo.
Como prevenir a hepatite A
A melhor forma é a vacinação, mas há outras:
– Lavar as mãos (incluindo após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos);
– Lavar com água tratada, clorada ou fervida os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
– Cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente frutos do mar e peixes;
– Lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
– Usar instalações sanitárias;
– No caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária.
– Não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de esgoto;
– Evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
– Usar preservativos e higienização das mãos, genitália, períneo e região anal antes e após as relações sexuais.
Uip alerta que a hepatite A é uma doença benigna, mas pode se tornar grave no caso de pacientes com comorbidades e imunodepressivos.
De acordo com o infectologista, a maioria dos casos é assintomático. Quando apresenta sintomas, os principais são mucosas (principalmente dos olhos) e a pele ficam amareladas, urina escura, fezes claras e mal-estar. Febre, cansaço e constipação também podem ocorrer.
O diagnóstico é laboratorial. “Você faz um exame, que é TGO/TGP, que são as enzimas do fígado. Para ser hepatite, elas devem estar bem elevadas. Quando isso ocorre, você vai atrás do agente que causou a hepatite. Lembrando que quando se fala em hepatite viral, para o leito é a hepatite A, B ou C. Não é assim. Tem uma porção de outros vírus que causam hepatite. O diagnóstico é fácil: alteração das enzimas hepáticas e sorologia específica”, explica o especialista.
Não há um tratamento específico contra a doença. Para aliviar os sintomas, siga a prescrição médica. Evite a automedicação.
VACINAÇÃO
A vacina contra hepatite A é indicada para crianças de 15 meses até 4 anos, 11 meses e 29 dias em esquema de uma dose. Para grupos especiais incluindo, desde 11 de abril, pessoas que fazem o uso de PrEP (profilaxia pré-exposição), são duas doses com intervalo de seis meses. A proteção começa após dez dias da primeira dose.
De janeiro a abril de 2025, foram aplicadas 1.645 doses da vacina Hepatite A Adulto -1.932 no mesmo período de 2024. Em relação à vacina Hepatite A pediátrica, de janeiro a abril de 2025, a cidade ministrou 37.535 doses. No mesmo intervalo de 2024, foram 39.354 doses. A cobertura vacinal da hepatite A é calculada no público infantil e está em 99,71%.
Grupos especiais
Pessoas com hepatopatias crônicas de qualquer etiologia, inclusive portadores do vírus da hepatite C; quem possui o vírus da hepatite B; coagulopatias; pessoas vivendo com HIV/Aids; imunodepressão terapêutica ou por doença imunodepressora; doenças de depósito; fibrose cística (mucoviscidose); trissomias; candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em programas de transplantes; transplantados de órgão sólido; transplante de células-tronco hematopoiéticas; doadores de órgão sólido ou de células-tronco hematopoiéticas, cadastrados em programas de transplantes; hemoglobinopatias; asplenia (ausência total ou parcial do baço) anatômica (ausência física do órgão) ou funcional (o baço não funciona adequadamente) e doenças relacionadas, e usuários de PrEP.
Os grupos podem ser vacinados nos CRIEs (Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais) e nos SAEs (Serviços de Assistência Especializada), que são equipamentos estaduais localizados na capital paulista. Os demais devem se dirigir às UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e AMAs/UBSs integradas.