GIOVANA KEBIAN
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Distribuidoras de medicamentos apostam em caminhões blindados, carros-fortes e escolta armada, diante do crescimento de roubos de carga de produtos farmacêuticos, segundo um relatório da Abradimex (Associação Brasileira de Distribuidores de Medicamentos Especializados, Excepcionais e Hospitalares).
De acordo com o levantamento, metade das transportadoras do segmento aumentou em até 20% os investimentos em segurança em 2024.
Embora representem apenas 2% das cargas roubadas no Brasil, os produtos farmacêuticos são alvos frequentes das quadrilhas devido ao alto valor agregado do mercado. Em 2024, o montante de produtos apreendidos em roubos de carga foi avaliado em R$ 283 milhões.
Ao todo, foram registrados 18.038 episódios do tipo em todo o país no ano passado, representando aumento de 5,4% em relação a 2023.
Segundo Paulo Maia, presidente executivo da Abradimex, os principais remédios visados são para tratamentos oncológico, de doenças raras e doenças terminais. “Os valores dependem do produto, mas podem custar de R$ 10 mil a R$ 30 mil a caixa. A carga inteira é avaliada em até R$ 2 milhões”, explica.
O Keytruda, imunoterápico usado no tratamento de câncer da fabricante Merck Sharp, é um dos remédios mais cobiçados pelos criminosos. Uma única caixa de 100 ml do produto custa cerca de R$ 25 mil.
A busca por canetas utilizadas para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade também fez algumas empresas ampliarem a segurança no transporte.
“Este tipo de medicamento precisa ser transportado em um veículo com laterais blindadas e, em alguns casos, não é suficiente. Precisa ainda de uma escolta armada para acompanhar o veículo”, diz Djalma Campos, diretor de operações logísticas da Andreani, empresa especializada em transporte de medicamentos
A empresa faz uso de caminhões com mais de um nível de blindagem, que protege tanto contra perfurações quanto contra cortes feitos com serra no baú para roubo das mercadorias.
“Todas as portas do veículo têm travas e o caminhão é pensado para ter apenas porta traseira, a fim de evitar uma invasão pela porta lateral”, explica Campos.
A Prosegur Cash, empresa de logística de mercadorias de alto valor, possui 100% da frota blindada, incluindo carros-fortes, que são usados em alguns casos no transporte de medicamentos.
“Nós temos uma estrutura própria de segurança. Dentro do caminhão, vão quatro homens armados, de maneira que não é preciso contratar escolta separadamente”, afirma Sérgio França, diretor comercial e de estratégia da Prosegur.
Os veículos também contam com rastreadores de monitoramento 24 horas, câmeras de segurança e bloqueadores de sinal, que visam impedir os criminosos de acessarem o sistema e embaralhar o acesso ao rastreador.
Além disso, tecnologias de inteligência artificial são usadas para aumentar a eficiência no processamento de dados sobre áreas de risco e gerar rotas mais seguras no transporte de medicamentos.
“O carro blindado, sem a escolta e sem os demais mecanismos, talvez não faça tanta diferença. Por isso, esse conjunto de ações tem sido tão importantes para defender a carga. E não é uma opção barata”, afirma Maia, da Abradimex.
Os investimentos em blindagem e equipamentos de segurança podem custar de R$ 150 mil a R$ 180 mil para cada caminhão.
ROUBOS DE CARGA TÊM HORA, DATA E LUGAR MARCADOS
Segundo o relatório da Abradimex, as distribuidoras também ampliaram o valor do seguro, que foi duplicado em alguns casos. Em zonas de risco de transporte, como na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, o custo do frete aumentou de 5% a 10%.
De acordo com a associação, Rio de Janeiro e São Paulo concentram 70% das ocorrências de roubo de carga de medicamentos no país, seguidos pelos estados do Rio Grande do Sul (4,5%), Minas Gerais (4,5%) e Paraná (4,5%).
O Rio também lidera a lista dos roubos de carga em avenidas urbanas, sendo a maior parte delas (14,3%) na avenida Brasil, que corta a capital fluminense. Na sequência, a rodovia Anhanguera, em São Paulo, aparece em segundo lugar, com 10,7% dos casos.
De acordo com o levantamento, a maior parte dos crimes acontece às quartas (34%) e terças-feiras (27%), enquanto sábado (2%) e segunda-feira (3%) são os dias menos visados.
Há preferência dos criminosos pelo período diurno e vespertino: 43% das ocorrências acontecem das 6h às 12h e 34%, das 12h às 18h. “São sinalizadores importantes que fazem as empresas diversificarem os horários de entrega para diminuir a incidência do crime”, afirma o presidente executivo da Abradimex.
Segundo a Polícia Civil do Rio, os roubos de carga tiveram diminuição em todo estado, após o início da segunda etapa da Operação Torniquete, em setembro de 2024, contra roubo, furto e receptação. Em março, o estado registrou queda de 2,3% no número de casos em comparação com o mês anterior, de acordo com o Instituto de Segurança Pública.
A Secretaria da Segurança de São Paulo (SSP) diz que as polícias Civil e Militar intensificaram as ações contra quadrilhas especializadas no furto e na receptação de medicamentos de alto valor. De acordo com a SSP, houve redução no número de roubos em geral, mas a pasta informou que não possui dados específicos sobre roubo de cargas de medicamentos.
A Polícia Civil de Minas Gerais afirma que faz operações baseadas na troca de informações entre as agências de inteligência, para localizar criminosos que atuam no roubo de cargas, especificamente de medicamentos e insumos hospitalares. A PM do estado informou que aumentou as ações de policiamento preventivo e repressivo nas rodovias estaduais e federais.
Desde setembro de 2024, Minas conta com a Câmara Técnica de Prevenção, Fiscalização e Repressão ao Furto e Roubo de Cargas, formada por representantes de diversos órgãos, responsável pela articulação entre setores logísticos e empresas transportadoras, com objetivo de alinhar estratégias de proteção ao transporte de cargas em todo o estado.
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná afirma que a Polícia Rodoviária Estadual atua de maneira estratégica na fiscalização ostensiva em rodovias estaduais e colabora com a Polícia Rodoviária Federal para atuação nas rodovias federais que cortam o estado.
Segundo a Delegacia de Repressão ao Roubo e ao Furto de Carga do Rio Grande do Sul, o estado registrou casos isolados de roubos de cargas de medicamentos no último ano.