Por Camila Coimbra
O Eixão Sul se transformou, neste domingo (18), em um espaço dedicado à diversidade e ao respeito. A terceira edição do Eixão Atípico reuniu famílias, profissionais e voluntários em uma manhã de atividades gratuitas voltadas à convivência entre pessoas típicas e atípicas. Com o tema “Inclusão com Protagonismo”, o evento é organizado pela Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Autismo da OAB/DF, com apoio da Caixa de Assistência dos Advogados do DF (CAADF), e tem como objetivo estimular a participação ativa de pessoas com deficiência, especialmente autistas, em espaços públicos.

A programação incluiu aulas de dança, oficinas de psicomotricidade, atividades terapêuticas, massagem, auriculoterapia, distribuição de lanches e brindes, além da apresentação da banda Time Out, composta por pessoas autistas. Também foram oferecidos atendimentos jurídicos gratuitos em parceria com a Universidade LS, e uma feira com produtos feitos por pais atípicos.
Para Flávia Dias Amaral, presidente da comissão organizadora, o evento representa um respiro para muitas famílias. “O objetivo do Eixão Atípico é justamente esse: tornar possível o convívio entre pessoas típicas e atípicas em uma manhã leve, com atividades inclusivas, tudo gratuito. Essas famílias já vivem uma sobrecarga no dia a dia. Esse momento é para que possam se divertir e sair de casa com tranquilidade”, explica. Segundo ela, cerca de 70 clínicas e instituições participaram da edição deste ano, que teve a expectativa de receber até 2 mil pessoas.
A pedagoga Mainara Teles Dourado, mãe de Gabriel, de 12 anos, que tem diagnóstico de TEA nível 1, frequenta o evento desde a primeira edição. Para ela, a importância está na representatividade: “Ele vê que há outras pessoas como ele, com os mesmos desafios, e percebe que há uma sociedade aberta a incluí-lo. Não como um favor, mas como um direito”, afirma. Mainara, que também integra a comissão da OAB, defende que o projeto seja expandido para outras regiões administrativas. “Ainda há muitas mães que sequer conseguiram um diagnóstico, mas já percebem que seus filhos precisam de acolhimento.”

Gabriel também participou ativamente das atrações e não hesitou ao apontar sua parte favorita: “A música. Eu gosto bastante de música. Mas também quero trabalhar com arte, com pintura e desenho”, contou, entusiasmado.
Morador de Santa Maria, Leandro Rodrigues de Brito, 34, é pai de Maria Cecília, de quatro anos, diagnosticada com TEA nível 2. Esta foi a segunda vez da família no evento. “A gente percebe que ela se sente mais à vontade aqui. Está cercada de outras crianças como ela e consegue se enturmar mais do que no dia a dia”, relata. Leandro reconhece o impacto que o diagnóstico precoce teve na vida da filha, que desde o segundo ano de vida faz acompanhamento com especialistas. “Amar e cuidar é o essencial. Eventos assim mostram que ela não está sozinha.”
Ele também reforça o desejo de ver o Eixão Atípico replicado em outras cidades do DF. “Se tivesse em Santa Maria, por exemplo, seria muito mais acessível para a gente. A inclusão precisa acontecer perto das pessoas.”
A neuropsicóloga Simone Lavorato, fundadora da clínica Lavorato Saúde Integrada, participou pela segunda vez do evento com sua equipe multidisciplinar. Para ela, o evento é essencial para a conscientização. “O autismo não é uma doença, é uma forma diferente de o cérebro funcionar. E para que haja inclusão de verdade, é preciso mostrar à sociedade o que é o espectro autista. E nada melhor do que fazer isso com leveza e vivência, como neste evento”, defende.
A clínica, que atua com crianças, adultos e idosos, monta planos terapêuticos unificados e personalizados. “Participar desse movimento é uma honra. A OAB tem sido protagonista nessa construção e nós, como parceiros, nos sentimos parte de algo muito maior. O Eixão Atípico já é uma referência em Brasília”, conclui.
A terceira edição do Eixão Atípico reforça que a inclusão não deve ser exceção, mas regra. Ao ocupar um dos espaços mais simbólicos da capital com afeto, arte, acessibilidade e respeito, o evento demonstra que é possível — e necessário — construir uma cidade mais acolhedora para todos.