Por Gustavo Mariani*
Em 22 de julho de 2014, o Papa Francisco confirmou as desculpas da Igreja Católica aos devotos de uma divindade que passara vários séculos acusada de se entusiasmar facilmente pelos homens e que fora identificada pelo nome do local em que nascera – Magdala.
Magdala! Onde fica isso? Na Bíblia? Nem tanto. Magdala foi cidade helenística (cultura grega misturada à local) fundada pelos judeus hasmoneus na costa ocidental do Mar da Galileia e dominada pelos romanos, em 37 Antes de Cristo-AC, tendo ficado sob o comando de Herodes, o Grande (preposto de Roma).
Embora abençoada por Francisco, não há citações na Bíblia daquela cidade como Magdala. Fontes gregas mais antigas, como o Códice Vaticano, afirma que barco com Jesus “foi para as costas de Magadan”, mesma opinião de Eusébio – bispo de Cesaréia e primeiro historiador do cristianismo – e de Jerônimo – tradutor oficial da Bíblia para o latim.
Francisco, então, abençoou lugar que não existe? Peregrinos que visitavam a Terra Santa jamais haviam ouvido falar de Magdala, até um copista bizantino trocar o nome Magadan por Magdala, palavra derivada do aramaico magdal (idioma falado por Jesus) e do hebraico migdal, significando torre – Magadan equivalia a preciosidade. Foi por ali que disseram ser Magdala a terra da Madalena, o que significa que Francisco foi na onda dos peregrinos que foram na onda do copista bizantino, certo?
Além de Magadan/Magdala, escritos rabínicos do Século 5-Depois de Cristo-DC falam de Migdal Tsebay e de Migdal Nunya, não mencionados pelo Antigo e nem pelo Novo Testamento, mas que arqueólogos calculam terem existido perto da Magadan/Magadala, tendo o segundo dos dois locais sido destruído pelos romanos devido ao seu alto índice de prostituição, o que fizera a Igreja Católica jogar tudo isso na conta de Madalena – em 591-DC, por intermédio do Papa Gregório I, para quem ela fora a “mulher pecadora” que ungira os pés de Jesus, conforme o contado em Lucas 7:36-50.
Além dos nomes que lhe foram atribuídos nos tempos de Jesus, a cidade que pesquisadores escavaram na Galileia teve, também, o nome de Mejdal (em árabe) durante o domínio Otomano que deixou-a abandonada, por a séculos, tornando-a uma aldeia miserável.
Maria Madalena acompanhou, financiou e esteve presente quando crucificaram Jesus. Não era pra menos. Por isso, em 3 de junho de 2016, o Papa Francisco elevou a memória litúrgica dela ao nível de festa católica – no 22 de julho – e reconheceu a sua importância na história do cristianismo. Também, recordou que São Tomás de Aquino chamou-a por “Apóstola dos Apóstolos”, sublinhado o seu papel como primeira mensageira da ressurreição de Jesus.
O local abençoado por Francisco foi redescoberto durante escavações iniciadas durante a década 1970, quando ele ainda era um jesuíta da Companhia de Jesus, na Argentina. Mas, por ali, já havia lido o que conta Jerônimo sobre casamento ocorrido, em Caná, entre Madalena e João Evangelista (autor do quarto evangelho), embora o evangelho de João deixe indícios de que o noivo teria sido Jesus. Logo, como progressista e a serviço de Yehoshua (Jesus em aramaico), Francisco seguiu o Papa Paulo VI (Giovanni Montini) que, em 1969, começou a corrigir as distorções sobre a “pecadora” Madá – grande sacada! Os devotos agradecem.