True Crime: o que explica o fascínio psicológico por crimes reais

Narrativas de crimes reais despertam no público a curiosidade sobre o comportamento desviante, levando à busca por entender como a mente de um criminoso funciona (Foto Divulgação)

Séries, documentários, podcasts e livros que exploram crimes reais estão entre os conteúdos mais consumidos atualmente. O gênero true crime, que narra investigações, assassinatos e mistérios baseados em fatos verídicos, desperta um interesse profundo — e muitas vezes até obsessivo — no público. Mas o que leva tanta gente a se sentir atraída por histórias tão sombrias?

De acordo com a psicóloga Julia Arnaud (CRP 20/8833), pós-graduanda em Neuropsicologia e Terapia Cognitivo-Comportamental, e membro da Comissão de Ética do Conselho Regional de Psicologia, esse fascínio tem origem neurobiológica. “Podemos dizer que é natural esse interesse. Em geral, esse tipo de conteúdo desperta emoções como medo, curiosidade e indignação, todas ligadas ao nosso instinto de sobrevivência”, explica. A exposição a essas histórias ativa regiões do cérebro relacionadas à vigilância e à antecipação de perigo. “É como se inconscientemente quiséssemos aprender como evitar situações semelhantes”, completa.

Júlia Arnaud em entrevista à FolhaBV

(Foto: Nilzete Franco/ FolhaBV)

Um mergulho na mente humana
Narrativas de crimes reais despertam no público o desejo de entender o comportamento desviante. Como funciona a mente de um criminoso? O que leva alguém a cometer um ato extremo? Essas perguntas, segundo Julia, aguçam o sistema de recompensa do cérebro: “Existe um mecanismo cerebral que nos atrai por histórias com conflito, suspense e comportamento extremo. Isso libera dopamina e gera uma excitação emocional, que reforça nosso interesse”.

Essa busca não é apenas curiosidade mórbida. Muitas pessoas relatam se sentir mais preparadas para lidar com os perigos do mundo real ao consumir esse tipo de conteúdo. “Há pesquisas que mostram que mulheres, especialmente, relatam se sentir mais alertas e preparadas ao consumir esse tipo de conteúdo”, destaca a psicóloga. Isso pode acontecer por identificação com as vítimas e uma tentativa inconsciente de entender os padrões dos agressores como forma de autoproteção.

Catarse e senso de justiça
As histórias também oferecem uma oportunidade de vivenciar emoções intensas, como choque, tristeza, raiva e empatia, em um ambiente seguro. Para muitos, há uma espécie de catarse psicológica ao acompanhar as investigações, especialmente quando há punição dos criminosos. Isso proporciona uma sensação de justiça que nem sempre se vê no cotidiano.

Reflexo social — e alerta para o excesso
Mais do que entretenimento, o true crime também lança luz sobre questões sociais relevantes, como violência de gênero, falhas no sistema judiciário, racismo e negligência institucional. São temas que mobilizam o debate público e ajudam a dar visibilidade a vítimas muitas vezes esquecidas.

No entanto, Julia Arnaud alerta para os riscos do consumo excessivo. “Esse tipo de conteúdo pode intensificar sentimentos de medo, angústia e desconfiança, principalmente em pessoas com tendência à ansiedade ou pensamento catastrófico”, afirma. O exagero pode reforçar a percepção de que o mundo é extremamente perigoso, levando à hipervigilância constante — até em situações cotidianas sem ameaça real.

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