
Séries, debates e discursos acalorados: a imigração brasileira passou a ocupar um lugar central nas eleições portuguesas de 2024. Com mais de 400 mil brasileiros legalizados vivendo em Portugal — o maior contingente estrangeiro no país —, o tema deixou de ser periférico e tornou-se peça-chave nas disputas eleitorais, especialmente diante do crescimento de partidos com discursos mais rígidos sobre fronteiras e nacionalidade.
O pano de fundo eleitoral
Além da imigração, outros temas que dominaram a campanha foram a crise habitacional, o aumento do custo de vida, a sustentabilidade dos serviços públicos e a estabilidade econômica. As dificuldades no acesso à saúde e educação, a falta de políticas para jovens e o envelhecimento populacional também pautaram os programas eleitorais.
No centro do debate, a presença crescente de imigrantes — especialmente brasileiros — foi usada como argumento por diferentes lados do espectro político, tanto como símbolo de diversidade quanto como suposto fator de pressão sobre os recursos do país.
Quem são os protagonistas da disputa?
As eleições foram marcadas pela polarização entre os tradicionais Partido Socialista (PS), de centro-esquerda, e o Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita. No entanto, o que mais chamou atenção foi a ascensão meteórica do Chega, partido de extrema-direita que vem ganhando espaço com uma pauta nacionalista, conservadora e fortemente crítica à imigração.
Fundado em 2019, o Chega cresceu nas últimas eleições legislativas e se consolidou como uma das principais forças da nova direita portuguesa. Sua retórica contra a “imigração desenfreada” e o discurso sobre “defesa da identidade portuguesa” têm mobilizado eleitores descontentes com a gestão pública e preocupados com a segurança e o mercado de trabalho.
O foco na comunidade brasileira
Embora o Chega evite mencionar diretamente a comunidade brasileira, seu discurso atinge de forma ampla todos os grupos de imigrantes. Já os partidos mais à esquerda — como o Bloco de Esquerda, o Livre e o PCP — defendem políticas de acolhimento, integração e regularização, reforçando o papel dos imigrantes no desenvolvimento econômico e cultural do país.
Enquanto isso, muitos brasileiros já legalizados e integrados à sociedade portuguesa se sentem diretamente afetados pelo tom da campanha. A insegurança em relação a políticas futuras, a burocracia nos processos de residência e trabalho e a falta de proteção contra a xenofobia são preocupações constantes.
Voto e influência política
Brasileiros com autorização de residência por mais de três anos têm direito a votar nas eleições locais — um passo importante para a representação política. Em algumas cidades, já há candidaturas de origem brasileira disputando cargos públicos, e o número de eleitores estrangeiros vem crescendo, ainda que timidamente.
Essa presença política, somada à expressiva contribuição econômica e cultural, pressiona o Estado português a rever políticas migratórias, ao mesmo tempo em que alimenta disputas eleitorais em um contexto de crescente polarização.
Um debate em construção
O avanço de partidos como o Chega sinaliza uma mudança no tom do debate sobre imigração em Portugal, aproximando-o de tendências vistas em outros países europeus. Por outro lado, há uma resistência ativa da sociedade civil e de partidos progressistas que defendem uma abordagem humanitária, com base em direitos e integração.
A imigração brasileira — antes vista como um reflexo dos laços históricos entre os dois países — agora é também um termômetro do futuro político de Portugal. À medida que o país redefine suas prioridades e sua identidade, o lugar dos imigrantes nesse cenário será cada vez mais central — tanto como pauta quanto como voz ativa no processo democrático.
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