O que pode causar perda gestacional na reta final da gravidez, como aconteceu com Tati Machado?

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A equipe da apresentadora Tati Machado informou nesta terça-feira, 13, nas redes sociais, que a jornalista perdeu o bebê que estava esperando. Ela estava grávida de 33 semanas (aproximadamente 8 meses) e foi à maternidade após notar a ausência de movimentos do feto. No hospital, foi constatada a parada dos batimentos cardíacos por causas que ainda estão sendo investigadas.

“Até então, a gravidez transcorria de forma saudável e já se encontrava na reta final. […] Diante da situação, Tati precisou passar pelo trabalho de parto, um processo cercado de amor, coragem e profunda dor”, disse a equipe na publicação.

Quando um óbito fetal acontece nos últimos três meses de gravidez, a partir da 28ª semana, é considerado como “perda gestacional tardia” e “óbito intrauterino”, explica o obstetra Elias Ferreira de Melo Junior, da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Segundo o médico, as duas principais causas desses casos são a hipertensão e o diabetes, que podem ser pré-existentes ou surgir durante a gravidez.

O obstetra, que é presidente da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Febrasgo, aponta que as condições podem provocar insuficiência placentária, quadro em que a placenta não consegue fornecer oxigênio e nutrientes suficientes ao feto.

Juan Felix, ginecologista e obstetra do Hospital e Maternidade Santa Helena, ressalta que os quadros podem causar problemas vasculares na placenta, diminuindo o fluxo sanguíneo para o feto Além disso, ele destaca malformações do bebê como outra possível causa importante.

Segundo os especialistas, quando a mãe tem diabetes, o bebê pode precisar produzir uma quantidade maior de insulina – hormônio que controla o açúcar no sangue. Esse aumento provoca uma aceleração do crescimento do feto, o que pode fazer com que a placenta não consiga fornecer energia suficiente para ele.

Já nos casos de hipertensão, a insuficiência pode acontecer em razão de disfunções bioquímicas, segundo Melo Júnior.

Outra causa possível, embora menos frequente, é a trombofilia, condição em que o sangue tem uma tendência aumentada de formar coágulos, impedindo a nutrição e oxigenação adequadas do feto. Além disso, a presença de infecções, como covid-19 ou toxoplasmose, também pode interferir na saúde do bebê. Quedas e acidentes são outros possíveis motivos.

Mas a perda gestacional tardia é considerada rara. “No Brasil, a incidência é de 1 a 1,2%”, diz Melo Junior. Ele destaca, no entanto, que há casos de hipertensão gestacional indetectáveis, o que pode explicar a ocorrência de óbito intrauterino mesmo em casos de aparente saúde.

“Algumas patologias que atacam a placenta muitas vezes começam a ser percebidas a partir da 30º ou 32º semana, quando a demanda por nutrientes começa a ser mais forte”, explica.

Investigação

A investigação para descobrir a causa da perda envolve diversos processos. O primeiro é a anamnese, com levantamento do histórico obstétrico e antecedentes familiares da mãe. O segundo é composto por exames laboratoriais, com avaliação do funcionamento dos órgãos e sistemas da mãe.

Além disso, pode ser feito exame histopatológico da placenta e do cordão umbilical, permitindo analisar os tecidos de forma microscópica e verificar se houve alguma coagulação prejudicial

Exames de imagem, como a última ultrassonografia com o feto vivo, também podem fornecer respostas. Em algumas situações, o exame e autópsia do feto podem ser necessários, inclusive para descartar possíveis malformações.

Para Félix, buscar as causas é mais do que uma questão investigativa: representa acolhimento e segurança para a família “A investigação é fundamental para a prevenção de recorrências. Quando buscamos a causa, o que estamos buscando é prevenir que não se repita, bem como o acolhimento da dor da família.”

Estadão Conteúdo

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