Uma tartaruga-verde registrada em 2001 por pesquisadores em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, foi encontrada em abril deste ano em Fernando de Noronha, no litoral de Pernambuco. Durante 24 anos, a jovem tartaruga se tornou adulta e mais do que dobrou de tamanho. É a primeira vez que uma tartaruga-verde jovem cadastrada é encontrada adulta em outra região do País, segundo o Projeto Tamar, de conservação da espécie.
Ubatuba fica a mais de 2,5 mil km de Fernando de Noronha, em linha reta. Uma distância que não é nenhum empecilho para a tartaruga marinha, um ser nadador por excelência. O que chamou a atenção dos pesquisadores é o tempo de 24 anos decorrido entre um achado e outro e o fato de a tartaruga-verde ter se tornado um espécime adulto com plena capacidade de reprodução. Ela foi encontrada na Praia da Quixabinha, ponto de desova das tartarugas no arquipélago.
Essa tartaruga-verde foi registrada em janeiro de 2001, quando pescadores a encontraram na Praia do Camburi, em Ubatuba. O animal estava preso em uma rede de cerco flutuante, que é uma armadilha de pesca tradicional na região. Os agentes do Tamar foram até o local e resgataram o quelônio, que pesou 13 quilos e a carapaça mediu 49 centímetros. A tartaruga recebeu duas marcas metálicas nas nadadeiras e foi devolvida ao mar.
Passados 24 anos, a mesma tartaruga foi encontrada, no dia 10 de abril último, desta vez pondo ovos, na praia de Fernando de Noronha. O local é conhecido como uma das principais áreas de desova e alimentação de tartarugas do Brasil. O animal estava com mais que o dobro do tamanho, medindo 103 centímetros de carapaça – nas áreas de desova, os pesquisadores não pesam a tartaruga. Após a conferência das placas, a tartaruga foi devolvida ao mar.
Ela tem muita vida pela frente: as tartarugas-verdes vivem até 80 anos ou mais. “Apesar de ser uma surpresa, era um resultado que esperávamos que acontecesse em algum momento. Quando colocamos as marcas, esperamos ter notícias do reencontro da tartaruga em algum outro momento, em algum outro local. E como já fazemos isso aqui em Ubatuba desde 1991, estávamos esperando que algum dia uma tartaruga aparecesse em áreas de desova. E finalmente aconteceu”, comemorou Henrique Becker, coordenador de Pesquisa e Conservação do Tamar em Ubatuba.
INÉDITO
O projeto Tamar já registrou outros reencontros com tartarugas-verdes com marcas. Uma delas, marcada em 2010 na Praia do Forte, no litoral norte da Bahia, também foi identificada em Fernando de Noronha, no ano passado. Outras viajaram ainda mais, segundo Becker: três saíram de Ubatuba e foram encontradas no Uruguai e duas foram parar na Nicarágua, na América Central. Nenhuma delas, porém, tinha chegado à idade adulta.
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