LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
O Brasil manteve a trajetória de queda no número de nascimentos em 2023. É o que indicam as Estatísticas do Registro Civil, divulgadas nesta sexta (16) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Conforme o órgão, que usa informações de cartórios, o país registrou 2,523 milhões de crianças nascidas em 2023. Isso equivale a uma baixa de 0,7% ante 2022 (2,542 milhões). Em termos absolutos, a redução foi de 19 mil.
Trata-se do quinto ano consecutivo de baixa no indicador. O IBGE focou sua apresentação no recorte a partir de 2015, e o patamar de 2023 é o menor visto ao longo desse intervalo. O dado mais recente ficou 12% abaixo da média de 2015 a 2019 (2,868 milhões), período anterior à pandemia de Covid.
Ao retirar da conta uma fatia residual de 5.228 registros com a residência da mãe ignorada ou no estrangeiro, o IBGE disse que o número de nascimentos no Brasil foi de 2,518 milhões em 2023.
Para esse indicador, o instituto divulgou uma série histórica comparável com dados desde o início da pesquisa, em 1974. O número de 2023 (2,518 milhões) é o menor desde 1976 (2,469 milhões).
O IBGE, contudo, fez uma ponderação nessa análise. O órgão lembrou que as mulheres tinham mais filhos no passado, mas a subnotificação de nascimentos era maior, já que o registro em cartórios era considerado mais complicado.
Ainda de acordo com o instituto, não havia uma metodologia para a estimativa de sub-registros tão adequada como a utilizada desde 2015.
“Está acontecendo uma queda no número de nascimentos. As pessoas estão tendo cada vez menos filhos”, afirmou Klivia Brayner de Oliveira, pesquisadora do IBGE responsável pela apresentação das estatísticas.
“A gente pode fazer um link com outras pesquisas. No Censo, a gente observa a população crescendo numa velocidade cada vez menor”, completou.
Segundo a técnica, uma combinação de fatores pode explicar a redução dos nascimentos. Ela citou questões como a prioridade dada por parte das mulheres para estudos e trabalho, os custos financeiros da criação dos filhos e o avanço dos métodos contraceptivos. “É um combo.”
O IBGE ainda indicou que o contexto não é exclusivo do Brasil, já que situações semelhantes também são vistas no exterior.
“A própria pandemia teve uma influência grande, as pessoas tiveram mais medo. Tem a conjuntura do país, as pessoas ficam inseguras, e muitas vezes a mulher tem priorizado o estudo ou trabalhar mais”, disse Klivia.
Entre as grandes regiões, somente o Centro-Oeste registrou aumento nos nascimentos em 2023 (1,1%). O Sudeste mostrou a queda mais intensa ante 2022 (-1,4%).
No recorte dos estados, Rondônia apresentou a maior baixa (-3,7%), seguida pelas reduções do Amapá (-2,7%), do Rio de Janeiro (-2,2%), da Bahia (-1,8%) e de São Paulo (-1,7%). Por outro lado, Tocantins (3,4%) e Goiás (2,8%) tiveram as principais altas.
39% DOS NASCIDOS VIVOS TÊM MÃES DE 30 ANOS OU MAIS
As estatísticas do IBGE sinalizam que uma parcela maior das mulheres está tendo filhos mais tarde no país. Em 2003, 23,9% dos nascimentos haviam sido gerados por mães de 30 anos ou mais. Duas décadas depois, em 2023, o percentual subiu para 39% -ou 4 em cada 10.
Já a parcela dos nascimentos associada a mães mais novas (até 19 anos) encolheu. Era de 20,9% em 2003, baixando a 11,8% em 2023.
O IBGE disse que, mesmo com essa diminuição, o indicador permaneceu elevado em parte do Brasil. Conforme o instituto, a maternidade entre mulheres jovens pode trazer dificuldade para a permanência delas nos estudos.
O Norte (18,7%) e o Nordeste (14,3%) tiveram os maiores percentuais de nascimentos gerados por mães de até 19 anos em 2023.
O Sudeste e o Sul, por sua vez, mostraram as proporções mais elevadas de nascidos com mães mais velhas, de 30 anos ou mais (42,9% e 42,5%, respectivamente).
Entre os estados, Acre (21,4%), Amazonas (20,5%) e Pará (19,2%) tiveram os maiores percentuais de nascimentos com mães mais jovens (até 19 anos). Os menores foram encontrados no Distrito Federal (7,3%), em Santa Catarina (8,1%) e em São Paulo (8,2%).
Quando a análise considera a participação das mães mais velhas (30 anos ou mais) no total de nascimentos, Distrito Federal (49,4%), Rio Grande do Sul (44,3%) e São Paulo (44,3%) lideram o ranking. Pará (27,6%) e Amazonas (28,5%) aparecem na outra ponta, com os menores percentuais.
SUB-REGISTRO CAI NO BRASIL
O IBGE também divulgou nesta sexta as Estimativas de Sub-Registro de Nascimentos. O sub-registro corresponde ao percentual de nascimentos que ocorreram em determinado ano, mas que não foram registrados até o primeiro trimestre do ano seguinte.
Em 2023, essa proporção foi estimada pelo instituto em 1,05%, ante 1,31% de 2022. O patamar mais recente é o menor da série histórica iniciada em 2015.
Para verificar o sub-registro, os pesquisadores do IBGE pareiam as bases de dados do registro civil e do Ministério da Saúde.
O instituto associou a redução a ações como a instalação de cartórios interligados a maternidades no país. No começo da série histórica, em 2015, o percentual de sub-registro era de 4,21%.
Regionalmente, o maior patamar de 2023 foi verificado no Norte (3,73%), seguido pelo Nordeste (1,49%). O menor ocorreu no Sul (0,19%).
Nascidos vivos de mães com menos de 15 anos apresentaram o maior sub-registro (6,57%).