
Por Cyneida Correia
Na região mais valorizada de Boa Vista, moradores do bairro Paraviana se mobilizam contra a construção de um conjunto habitacional destinado a famílias com renda de até R$ 8 mil. A justificativa oficial? Medo da desvalorização imobiliária. Mas, por trás do discurso, o que se revela é o velho preconceito de classe — o desejo de manter distância de quem não faz parte da mesma bolha social.
Estamos falando de pessoas que ganham até R$ 8 mil por mês. Não se trata de ocupações irregulares nem de famílias em situação de rua. São professores, servidores públicos, pequenos empresários, profissionais liberais — a base que sustenta qualquer cidade. E mesmo assim, a presença deles em um bairro de “alto padrão” é vista como ameaça.
O que essa movimentação escancara é o incômodo que a elite sente quando é chamada a dividir os espaços urbanos. Boa Vista não pode ser uma cidade que escolhe quem tem direito a usufruir da infraestrutura pública de qualidade. A cidade é de todos, e não de uma minoria que tenta transformá-la em condomínio fechado.
A segregação geográfica é um dos pilares da desigualdade social. Impedir o acesso de outras classes sociais a bairros bem localizados reforça essa estrutura. A luta por moradia digna não é só pelo teto, é por acesso à cidade: às escolas, aos hospitais, ao transporte e ao direito de pertencer.
Boa Vista precisa decidir: vai se desenvolver como uma cidade inclusiva ou continuar reproduzindo os muros invisíveis que separam quem pode e quem “não deve” estar ali?
“As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal”
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