O chamado “fluxo” da Cracolândia, local onde por décadas ocorreu a venda e o consumo de drogas, no centro de São Paulo, tem ficado completamente vazio desde o início desta semana.
Nos últimos anos, os dependentes químicos estavam concentrados na Rua dos Protestantes. Mas o que ocorreu e para onde eles migraram?
O esvaziamento do local surpreendeu não apenas moradores da região e comerciantes, mas a própria gestão municipal, que também não tem respostas claras.
“O episódio em especial, de sábado (10) para cá, na Rua dos Protestantes (esvaziamento), nós ainda estamos tentando entender Não dá para dizer que está resolvido. Podemos associar algumas questões a essa situação”, disse o prefeito Ricardo Nunes, durante agenda nesta terça, 13.
A reportagem acompanhou a movimentação em diferentes vias da região de Santa Ifigênia na tarde desta terça. A única em que havia uma quantidade mais elevada de usuários – cerca de 20 em movimentação – era a Rua General Osório, quase no encontro com a Rua do Triunfo.
Enquanto a reportagem percorreu a região alguns pequenos grupos de usuários se direcionavam à Rua dos Protestantes. Vendo a rua completamente vazia, iam embora sem entender. Equipes de atendimento social da Prefeitura de São Paulo também foram vistas na região.
Quais as hipóteses?
Entre os fatores que contribuíram para o esvaziamento da Cracolândia, na visão do prefeito, estão as ações do governo do Estado e da Prefeitura para enfraquecer o tráfico de drogas na Favela do Moinho, comunidade próxima dali que a gestão estadual quer transformar em parque.
Os agentes que acompanham o dia a dia da região também relatam o esvaziamento nos últimos dias. “O número já vinha diminuindo bastante. Ficam os grupos pequenos, de 15 a 30 pessoas, mas nenhum grupo grupo de 100, 200 pessoas”, afirma um integrante da GCM.
Comerciantes também perceberam o esvaziamento no fim de semana. “Cheguei para trabalhar (no sábado) e até me assustei. Até brinquei com um vizinho: ‘estão de folga?'”, disse a reportagem o lojista Antônio Francisco da Costa, de 73 anos
Alguns frequentadores e comerciantes levantaram a hipótese de ser uma ordem do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que comanda o tráfico por ali, mas por enquanto não há confirmação oficial disso.
Entidades e ONGs que atuam na região apontam que a política de dispersão dos usuários de drogas se tornou mais violenta nos últimos meses.
“A partir do momento que sufocaram as estratégias de sobrevivência e aumentaram o nível de violência, eles (poder municipal) conseguiram fazer com que as pessoas deixassem a região”, afirma Giordano Magri, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole. “A questão agora é onde esse espalhamento vai reverberar”, complementa.
Estadão Conteúdo