SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)
O diretor de engenharia da Sabesp, Roberval Tavares, afirmou nesta segunda-feira (12) que o uso incorreto da rede de esgoto pelos moradores pode ter causado a cratera na marginal Tietê, que se abriu pela segunda vez em menos de um mês. Especialista, no entanto, discorda de versão apresentada pela direção.
O solapamento ocorreu devido a uma fissura na caixa de inspeção de um interceptor de esgoto. A estrutura, que fica a 18 metros de profundidade, é responsável por levar o resíduo produzido na região norte de São Paulo para ser tratado na estação de Barueri.
Sabesp alega que a pressão da água da chuva, que não deveria estar na rede, contribuiu para o dano na caixa. ”Os dois eventos aconteceram sempre quando estava chovendo.
Isso é um indicativo de que havia presença muito forte de água de chuva na rede de esgoto e isso não pode acontecer”, explicou Roberval ao UOL.
Água da chuva teria entrado no sistema de esgoto por erro da população, falou o diretor.
Roberval argumenta que, em muitas casas, a água da chuva é direcionada para a rede de escoamento de esgoto, quando deveria ir para o sistema de drenagem e ter um destino separado.
Após uma manutenção ”corretiva” há 30 dias, a Companhia fará obras para substituir a caixa danificada. Na ocorrência anterior, foi feita uma restauração na rachadura pensando em uma solução a curto prazo. Desta vez, a estrutura será substituída por uma nova e um poço de visita também será construído.
Questionado, o diretor disse que a escolha anterior de apenas consertar foi ”correta”. ”A decisão tomada há 30 dias está correta, que foi executar uma manutenção e, agora, como o acontecido foi no mesmo local, fazer uma nova estrutura”, comentou. Ele chamou ainda o evento de abertura da cratera de ”raro”.
‘DESCULPA INOVADORA’, DIZ ESPECIALISTA
Argumento apresentado é ”desculpa inovadora e inventiva”, para Amauri Pollachi, especialista em Planejamento e Gestão do Território e coordenador do ONDAS (Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento). À reportagem, ele disse que os dois sistemas, de água pluvial e de esgoto, deveriam estar separados, mas é esperado que não aconteça completamente na prática.
Pollachi observa que uma falha desse porte não pode ser atribuída unicamente a moradores e à quantidade de chuvas. Segundo ele, a ”mistura” acontece em várias etapas do sistema e não apenas em moradias. Além disso, pontua que a cidade de São Paulo já enfrentou quantidades maiores de chuva em períodos menores: ”E por que não teve rompimento em outras vezes?”.
Especialista cita a possibilidade de falhas operacionais ou construtivas da própria Companhia. Ele fala que pode ter acontecido erros na construção desse interceptor de esgoto, que deveria receber atenção especial por estar em uma região de tráfego intenso, suscetível a vibrações que causem fissuras.
Para Pollachi, inspeção na primeira abertura da cratera também foi falha. ”Não houve uma avaliação correta quando houve a primeira, que levou a necessidade de um segundo reparo para solucionar o mesmo problema. Talvez, pela pressa de fazer e liberar as pistas, não tenham feito uma avaliação adequada. Manutenções de grande porte não voltam a falhar 30 dias depois. Não vi isso na minha experiência de 30 anos na Sabesp”, contou.
”Mistura” de esgoto e chuva poderia ser prevenida pela Sabesp. Os especialistas ouvidos dizem que a Companhia deve realizar um trabalho de inspeção preventivo para detectar esses lançamentos irregulares nas redes. ”Há várias formas de fazer inspeção nas tubulações. Ela tem como avaliar tudo isso e tomar as precauções necessárias”, entende o professor Roberto Kochen, do departamento de Desenvolvimento de Projetos e Serviços de Infraestrutura do Instituto de Engenharia.