Cara Hunter lança um romance policial para a era das redes sociais

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Cara Hunter nem se lembra de olhar para um livro e não saber como desvendá-lo. Ela aprendeu a ler sozinha, aos 3 anos, e passava horas em sessões infantis de livrarias. Nascida em Oxford, na Inglaterra, decidiu levar adiante sua paixão por livros e estudou literatura inglesa na Universidade de Oxford.

Terminada a faculdade, porém, ela se viu distante do universo das palavras. Arranjou um emprego no centro financeiro de Londres e começou a trabalhar com relações públicas. Percebeu que, na verdade, queria mesmo era escrever – e migrou para o copywriting.

Foi apenas mais tarde, trabalhando como escritora freelancer, que viu sobrar um tempo para se dedicar à sua própria literatura Uniu a paixão pelos livros e seu fascínio por crimes reais para criar Onde Está Daisy Maison? (Ed. Trama), livro que a lançaria na literatura policial e seria indicado para o prêmio de crime e thriller do ano no British Book Awards.

A obra é a primeira de uma série de crimes desvendados pelo detetive Adam Fawley. Composta por seis livros, a sequência já vendeu mais de um milhão de cópias no Reino Unido e foi publicada em 29 países. “Eu sempre gosto de dizer às pessoas que comecei a escrever mais tarde na minha vida. Porque eu gosto de encorajar as pessoas a escrever”, explica em entrevista por vídeo ao Estadão. “Algumas pessoas pensam que, a menos que você escreva quando é muito jovem, você perdeu a sua oportunidade. Escrever é uma coisa que pode esperar por você e, talvez, se estiver um pouco mais velho você tenha mais a dizer ”

Cara mantém uma base de fãs fiéis no Brasil e vem pela primeira vez ao País para a Bienal do Livro do Rio, em junho. Ela participa da mesa Com o Coração na Boca ao lado de Raphael Montes, o maior nome do suspense brasileiro da atualidade. “Vai ser uma viagem da vida”, espera ela.

Qualquer semelhança entre o detetive inglês Adam Fawley e o belga Hercule Poirot não é mera coincidência. Cara tem a também britânica Agatha Christie como grande inspiração. Segundo a escritora, ela começou a ler a autora quando tinha cerca de 13 anos – hoje, acredita que já tenha lido todos os seus livros. Questionada se costuma ser comparada com a britânica, Cara brinca: “Eu queria que me comparassem mais”. Ela chama a atenção para a técnica usada por Christie, que diz ser “impressionante”

“Sempre há o assassino presente no livro. É um truque trazer o assassino no último minuto e o leitor nem saber que aquele cara existia. Mas o assassino está sempre presente, desde o início, para a Agatha Christie. Então você sempre sente que tem uma chance de resolver”, explica.

O último lançamento da escritora no Brasil, Assassinato na Família (Ed. Trama), leva os próprios leitores a resolverem um mistério à la Agatha Christie. O livro foi escrito em formato de podcast de true crime e narrado por intermédio de e-mails, mensagens, matérias de jornal. Desde o início, o leitor sabe que o assassino já está entre os personagens.

O fato de Cara sempre envolver a opinião pública na história é marcante em seus livros. Onde Está Daisy Maison? leva em conta também a repercussão do caso nas redes sociais e traz transcrições de postagens feitas pelas pessoas que passaram a acompanhar o caso.

“As pessoas acham que podem resolver melhor do que a polícia”, comenta ela. A escritora sabe que a opinião pública pode, sim, prejudicar uma investigação. E cita o caso do desaparecimento de uma mulher no Reino Unido que teve ampla repercussão e teorias sobre um assassinato – no final, a vítima só havia sofrido um acidente.

FASCÍNIO

Onde Está Daisy Maison? narra o desaparecimento de uma criança, o que atrai muito interesse e boatos nas redes sociais. “As pessoas têm opiniões fortes e, se veem a família na televisão, começam a discutir sobre isso”, diz. Cara entende o quanto crimes reais atraem um grande público – e adverte, brincando, que o fascínio é um “guilty pleasure” (“prazer culpado”).

“É uma maneira de entender por que as pessoas fazem o que fazem”, afirma. “No true crime, são pessoas reais que tomaram a decisão de se comportar de uma certa forma, que elas sabiam que era errada e ainda assim o fizeram. Acho os motivos das pessoas envolvidas em crimes reais fascinantes.”

É com muita pesquisa que cada narrativa de Cara Hunter é formada, segundo ela. Dentre todos os feedbacks e comentários que recebe, ela tem seus preferidos: “Os dos policiais. Quando eles comentam e dizem que gostam dos meus livros, eu sinto que o que eu escrevo é verdadeiro. Então, significa que fiz meu trabalho”.

Estadão Conteúdo

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