“Leão XIV vai defender a fé e aquilo que é da Igreja Católica”, afirma padre Revislande 

Padre Revislande no programa Agenda da Semana – Foto: FolhaBV

Em entrevista ao programa Agenda da Semana, o padre Revislande dos Santos, especialista em direito canônico, traçou um perfil detalhado do Papa Leão XIV, eleito em conclave surpreendentemente rápido.

Segundo o religioso, o novo pontífice combina a experiência pastoral com populações vulneráveis no Peru e um rigor intelectual influenciado por Santo Agostinho, posicionando-se como uma figura de equilíbrio entre o progressismo de Francisco e o conservadorismo de Bento XVI.

Nascido nos Estados Unidos, mas com cidadania peruana, Leão XIV foi arcebispo de uma diocese pobre no Peru antes de ser elevado ao cardinalato há dois anos e meio.

“Ele é um intelectual refinado, doutor em direito canônico, mas também próximo do povo”, explicou Revislande. O padre destacou que o pontífice herdou de Francisco a atenção aos pobres, mas difere na abordagem.

“Enquanto Francisco era direto e influenciado pela teologia da libertação, Leão XIV é discreto, metódico e guiado pela conciliação entre fé e razão proposta por Santo Agostinho”.

A escolha do nome “Leão” carrega simbolismo histórico:

  • Leão XIII (século XIX): Autor da encíclica Rerum Novarum, base da doutrina social da Igreja, que defendeu direitos trabalhistas durante a Revolução Industrial;
  • Frei Leão: Confessor de São Francisco de Assis, reforçando a ligação simbólica com o antecessor Francisco.

O padre revelou detalhes inéditos do processo de eleição:

  • Pela primeira vez, uma mulher – a irmã Simona, missionária da Consolata – participou das congregações pré-conclave, embora sem direito a voto;
  • Dos 108 cardeais votantes, muitos haviam sido indicados pelo próprio Leão XIV quando ele integrava a Congregação para os Bispos, órgão responsável por nomeações episcopais.

“O Papa Francisco o nomeou cardeal há pouco tempo, mas sua atuação na escolha de bispos para dioceses pobres pesou na eleição”, afirmou Revislande.

Questionado sobre como o novo Papa lidará com desafios modernos, como a inteligência artificial, o padre citou a tradição agostiniana: “Ele buscará respostas que harmonizem inovação e ética, sem ceder a modismos”. Também mencionou preocupações com fenômenos como o narcopentecostalismo – alianças entre facções criminosas e grupos religiosos –, citando o caso do traficante Álvaro “Peixão”, que expulsou católicos e religiões de matriz africana de comunidades no Rio de Janeiro.

Revislande traçou paralelos:

  • Francisco: “Jesuíta prático, vinculado à teologia da libertação”;
  • Bento XVI: “Intelectual que dialogou com filósofos como Martin Buber”;
  • Leão XIV: “Síntese discreta, mas firme. Não será radical, mas defenderá a doutrina com clareza”.

O padre destacou a emocionada primeira aparição do Papa: “Ele recitou o Regina Caeli em latim, com lágrimas nos olhos. É humilde como Francisco, mas sem o ativismo político”.

A participação da irmã Simona no conclave foi vista como um gesto importante, mas Revislande lembrou que 90% dos ministérios leigos (catequese, ação social) são exercidos por mulheres. “A Igreja perdeu a chance de discutir seu papel nas decisões. Enquanto isso, seguimos dependendo delas para manter comunidades vivas”, ponderou.

Sobre críticas de que Leão XIV seria muito “tecnocrata”, o padre rebateu: “Sua experiência no Peru mostra que sabe ouvir as periferias. Ele não é um burocrata, mas um pastor que pensa”. Já a relação com movimentos sociais foi abordada com cautela: “A Igreja não pode ser ingênua. Defender os pobres não significa aderir a ideologias”

Para Revislande, o maior legado de Leão XIV pode ser a unidade. “Num mundo polarizado, ele representa equilíbrio. Defenderá a fé sem fechar os olhos à realidade, como fez ao chorar diante dos fiéis no primeiro Angelus“. O desafio, concluiu, será navegar entre a tradição agostiniana e as demandas por justiça social – herança que, segundo ele, “já começa a ser escrita com humildade e lágrimas”.

Confira a entrevista completa

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