Rio e São Paulo, 06 – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a demissão da ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, nesta segunda-feira, dia 5. A ex-ministra do Desenvolvimento Social Márcia Lopes assume o cargo. A saída de Cida é a 12.ª troca na Esplanada dos Ministérios desde o início da gestão petista, em 2023.
A troca no comando do ministério ocorre após o Estadão revelar que Cida foi alvo de denúncias formais feitas por ex-servidoras da pasta por suposta prática de assédio moral e xenofobia no ministério.
O caso chegou a ser tratado na Comissão de Ética da Presidência, mas foi arquivado em fevereiro deste ano. Apesar do arquivamento, provocou incômodo no governo, mas Cida foi mantida no posto nos últimos meses.
Com a substituição no Ministério das Mulheres, Lula pretende se aproximar do eleitorado feminino para a campanha eleitoral de 2026, quando quer concorrer a novo mandato.
Pesquisas mostram que o presidente vem perdendo cada vez mais popularidade nesse público e também entre evangélicos e moradores do Nordeste.
Com a saída de Cida, o governo federal tem duas baixas em menos de uma semana. Na sexta-feira, 2, Carlos Lupi (Previdência) pediu demissão após o escândalo dos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
No mês de abril, Juscelino Filho (Comunicações) pediu demissão após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República sob acusação de desviar emendas parlamentares, investigação que teve origem em uma série de reportagens do Estadão
Polêmicas também derrubaram Gonçalves Dias (GSI), flagrado adotando postura passiva em filmagens do 8 de Janeiro, e Silvio Almeida (Direitos Humanos), acusado de assediar sexualmente integrantes do governo.
Relembre trocas de ministros:
- Abril de 2023 – Gonçalves Dias cai do GSI após filmagens do 8 de Janeiro
- Ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias
- Ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados
O então ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) general Marco Edson Gonçalves Dias foi o primeiro da equipe do governo Lula a cair. A saída dele ocorreu após a imprensa divulgar uma gravação em vídeo que mostrou uma postura passiva dele diante da invasão do Palácio do Planalto durante os atos golpistas do 8 de Janeiro.
Com o estouro da crise, membros do governo aconselharam o então ministro a pedir demissão, o que foi feito por ele. A solicitação foi prontamente aceita por Lula.
O GSI passou, então, a ser chefiado interinamente por Ricardo Cappelli. Desde maio de 2023, o chefe da pasta é o general Marcos Amaro dos Santos.
Julho de 2023 – Daniela Carneiro deixa Ministério do Turismo
Depois de seis meses de governo, Lula fez a primeira mudança na equipe para agradar ao Centrão e buscar apoio do Congresso. Sem o prestígio do União Brasil, a deputada federal e então ministra do Turismo Daniela Carneiro foi substituída pelo deputado federal Celso Sabino (União-PA). A troca foi feita para acomodar a sigla, que se sentia subvalorizada pelo Planalto.
Setembro de 2023 – Ana Moser deixa Esporte para abrigar PP de André Fufuca
Na véspera do feriado de 7 de Setembro de 2023, Lula demitiu a então ministra do Esporte Ana Moser em uma minirreforma ministerial que buscou trazer o PP e o Republicanos para a base governista. Moser, que não tinha trajetória política, foi substituída pelo deputado federal André Fufuca (PP-MA), aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Setembro de 2023 – Márcio França sai de Portos e Aeroportos e vai para Microempreendedorismo
Também na minirreforma eleitoral, Lula tirou Márcio França do Ministério dos Portos e Aeroportos e o colocou em um novo ministério – o 38° da gestão – chamado Ministério do Empreendedorismo, da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. Quem assumiu a vaga deixada na antiga pasta de França foi Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), representante do Centrão.
Janeiro de 2024 – Ricardo Lewandowski substitui Flávio Dino na Justiça
A chegada do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski no Ministério da Justiça foi a primeira troca de Lula no ano passado. Lewandowski substituiu o atual ministro do STF Flávio Dino, indicado pelo petista para a Corte.
Lewandowski foi alçado ao cargo por ter uma relação de confiança pessoal com Lula. Ele chegou ao STF em 2006, indicado por Lula com apoio da então primeira-dama Marisa Letícia.
Ele foi um dos principais interlocutores de Lula no Judiciário até 2023, quando completou 75 anos e precisou se aposentar. Em 2016, como presidente do STF, presidiu o processo de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) no Senado e foi o responsável por articular a manutenção dos direitos políticos da petista.
Setembro de 2024 – Suposto assédio sexual contra ministra derruba Silvio Almeida dos Direitos Humanos
Em um dos grandes escândalos da Esplanada durante a terceira gestão de Lula, o então ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida foi demitido por suposto assédio sexual contra pessoas ligadas ao governo federal. Uma das vítimas teria sido a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
A demissão de Almeida se deu um dia após a Me Too, ONG que atua na proteção de mulheres vítimas de violência sexual, afirmar, em nota, que ele foi denunciado por assédio sexual por pessoas ligadas ao Planalto. A organização omitiu o nome das denunciantes sob o argumento de que era preciso protegê-las, mas assegurou ter o consentimento das vítimas para expor o assunto.
Assim como no caso de Juscelino Filho, Lula decidiu exonerar Almeida para estancar a crise deflagrada pelas denúncias. Para o lugar dele, o presidente escolheu a deputada estadual do PT de Minas Gerais Macaé Evaristo.
Janeiro de 2025 – Paulo Pimenta deixa Secom após queda na popularidade de Lula
Diante de uma queda na popularidade de Lula, o petista decidiu demitir o então ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) Paulo Pimenta. Buscando uma comunicação mais efetiva para fazer os feitos do governo federal chegar na população, além de combater as ações digitais da oposição, o petista escolheu o marqueteiro Sidônio Palmeira para o cargo.
Após a demissão, Pimenta afirmou que o governo estava entrando em uma fase da gestão em 2025, e que Lula queria um perfil diferente para chefiar a pasta.
De acordo com ele, o governo entrará em uma nova fase da gestão a partir de 2025, e Lula quer um perfil diferente do seu para a chefia da pasta. O presidente julgou que o governo tinha grande número de obras e bons programas sociais, mas que problemas de comunicação estavam impedindo que isso resultasse em popularidade junto ao eleitorado.
Março de 2025 – Nísia Trindade é trocada por Alexandre Padilha e Gleisi Hoffmann assume articulação
Lula fez trocas em março deste ano no Ministério da Saúde e na Secretaria de Relações Institucionais (SRI). Na primeira pasta, a socióloga Nísia Trindade foi demitida em meio a um fogo amigo no Executivo com críticas sobre o trabalho dela, e substituída por Alexandre Padilha, que comandava a SRI desde o início do governo.
Padilha também era alvo de críticas, principalmente de lideranças da Câmara dos Deputados. O ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL) chegou a chamá-lo de “desafeto pessoal” e “incompetente” em uma coletiva de imprensa. Além da transferência de ministério, a solução encontrada por Lula foi nomear a deputada federal e então presidente do PT Gleisi Hoffmann para a SRI.
A indicação de Gleisi foi bem vista pelos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), mas foi duramente criticada por líderes da oposição ao governo Lula. Para eles, a ida dela para a articulação indicaria uma “radicalização” devido à postura combativa da ministra.
Abril de 2025 – Juscelino Filho pede demissão após denúncia da PGR e presidente da Telebras assume Ministério das Comunicações
O então ministro das Comunicações pediu demissão após ser denunciado pela PGR sob a acusação de desvio de emendas parlamentares. Relatório da Polícia Federal apontou que Juscelino Filho cometeu os crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. O caso ainda não foi julgado pelo STF. À época, a defesa do ex-ministro disse que ele é inocente.
O caso foi revelado pelo Estadão em 2023. Em uma série de reportagens, o jornal mostrou que Juscelino destinou emendas do Orçamento da União à cidade de Vitorino Freire (MA) para asfaltar uma estrada que passava pela fazenda da sua família. À época, o município era administrado por Luanna Rezende, irmã do titular das Comunicações. Ela chegou a ser afastada da prefeitura no curso das investigações.
A substituição de Juscelino Filho foi conturbada. Inicialmente, ficou acertado que o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União-MA) assumiria o posto. Porém, o parlamentar mudou de ideia após uma reunião com o com o presidente do partido, Antônio Rueda, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Pesou o fato de que a saída de Fernandes da liderança no partido na Câmara provocasse um guerra pela sua sucessão, rachando a bancada do União Brasil na Casa.
Lula acabou nomeando Frederico de Siqueira Filho para comandar a pasta das Comunicações. Então presidente da Telebras, ele teve o nome chancelado por Alcolumbre, Pedro Lucas e o próprio Juscelino Filho.
Maio de 2025 – Carlos Lupi deixa ministério após escândalo em descontos do INSS
Carlos Lupi (PDT) pediu demissão do Ministério da Previdência Social após uma reunião com o presidente Lula na tarde do dia 2 deste mês.
Lupi estava pressionado pelo escândalo dos descontos indevidos de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social. O esquema ganhou relevância após a Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU) no final de abril.
Estadão Conteúdo