O curta-metragem brasileiro “Alice”, dirigido pelo cineasta Gabriel Novis e coproduzido pela Los Films e pela MyMama Entertainment, venceu nesta sexta-feira, 2 de maio, o Festival Hot Docs na categoria Melhor Documentário Internacional de Curta-Metragem. Com o prêmio, o filme está qualificado para disputar o Oscar.
Em seu discurso de anúncio do prêmio, o júri do festival exaltou a sensibilidade e a relevância da obra: “Pela maneira sensível, matizada e brilhante com que a cinematografia e o roteiro nos levam à experiência da protagonista e nos transportam para uma realidade que é ao mesmo tempo cheia de bondade e beleza, mas também extremamente perigosa e ameaçadora para as pessoas trans em todos os lugares, o júri concede o prêmio Hot Docs de Melhor Documentário Internacional de Curta-Metragem a Gabriel Novis por Alice”.

O documentário retrata a história de Alice, multiartista trans alagoana
O documentário retrata a história de Alice, multiartista trans alagoana e amiga de infância do diretor, e sua jornada de retorno surfe como uma forma de lidar com o luto pela morte do pai. A narrativa, contada sob a perspectiva da própria protagonista, revela suas vivências em locais marcantes de sua juventude em Alagoas, enquanto questiona a elitização, a misoginia e a transfobia presentes na comunidade surfista.
“Quando eu era criança, achava que eu não tinha sotaque. Achava que era coisa de quem era de São Paulo, do Rio de Janeiro. Mas eu não, achava que Maceió era um limbo, que não acontecia muita coisa na cidade. Mas então eu descobri Djavan e que ele é de Maceió, Hermeto Pascoal também de Alagoas, né, olho d’água das flores. Foi quando me dei conta que pertencia a um lugar real, que ocupa um espaço e que ressoa por outros cantos.” explica Alice.
“Esse deslumbre de ver algo mais de perto, de trazer essa identidade, pode possibilitar à pessoa sonhar mais. O cinema é um lugar de espetáculo onde todo mundo se senta em frente a um telão e tudo que passa por ali, por mais ordinário que seja, ganha um destaque, um sentimento a mais. Acredito que ao me verem surfando, fazendo colagens, música, se divertindo com es amigues, podem vislumbrar algo que pra nós trans é muitas vezes tirado, que é uma vida; com hobbies, lazer, profissão… enfim tudo que nós temos direito, já nascemos com esses direitos. O Brasil é o país que mais mata trans no mundo, e essa violência não é só direta, fisicamente com o assassinato, mas também implícita, oculta, disciplinar, através do medo. Acho que esse filme mostra de maneira sútil que apesar disso continuamos vivendo, que não pertencemos a um limbo”, explica.

O curta “Alice” será exibido na Mostra Competitiva do 40º Festival Internacional de Cinema Guadalajara, um dos mais importantes da América Latina.
Novis constrói um retrato íntimo e poético, reforçando seu estilo de direção que mistura aventura, descoberta e humanidade. O filme promove um debate urgente sobre diversidade e inclusão no surfe, enquanto celebra a resiliência e a arte de Alice.
“Cresci no mesmo prédio que a Alice e o pai dela, em Maceió, Alagoas. Nossos pais eram amigos, e a gente sempre se via por ali. Mais tarde, me mudei para Los Angeles, e ficamos anos sem nos encontrar. Muito tempo depois, nos reconectamos. Sempre fui fascinado por moda, estilo, criatividade e arte — e foi impossível não me encantar pela Alice. Não só pelo talento, mas pela pessoa autêntica e intensamente criativa que ela é. Alice é uma das skatistas mais estilosas da cidade, uma verdadeira multiartista. Durante uma dessas conversas, perguntei se ela ainda surfava. Eu lembrava com carinho de ver ela e o pai pegando onda juntos — era algo que faziam com paixão. Quando ela me contou que havia parado, aquilo me tocou profundamente”, relembra Novis.
“Foi nesse momento que nasceu a ideia do documentário. Tenho um fascínio especial por contar histórias ligadas ao surfe e explorar diferentes perspectivas dentro do esporte. Não queríamos apenas mostrar esse lado único da Alice — como artista, skatista e criadora — mas também criar, através do filme, uma oportunidade de levá-la de volta ao mar. Um retorno simbólico às origens, à relação com o pai, e a algo que sempre fez parte de quem ela é. Sou apaixonado por histórias de pessoas que fazem diferente, que se superam e que brigam pela sua individualidade — pela sua verdade. E, para mim, a Alice representa exatamente isso. Espero que esse filme inspire outras pessoas, especialmente aquelas que fazem parte de grupos minorizados, a ocuparem seu espaço — no esporte, na arte, na vida. Todo mundo tem o direito de ser quem é, e de fazer o que ama. Ninguém pode tirar isso de ninguém”, explica o diretor.

O filme promove um debate urgente sobre diversidade e inclusão no surfe, enquanto celebra a resiliência e a arte de Alice
Festival Internacional de Guadalajara
Em sua próxima parada no circuito de festivais, “Alice” será exibido na Mostra Competitiva do 40º Festival Internacional de Cinema Guadalajara, um dos mais importantes da América Latina.
Realizado entre os dias 6 e 14 de junho, o festival atrai grandes nomes do cinema latinoamericano, como os diretores Guillermo Del Toro, Alfonso Cuarón e Alejandro González Iñárritu, três icônices do cinema mexicano e vencedores do Oscar.
“Alice” é uma coprodução da Los Films com a aclamada produtora MyMama Entertainment, responsável por obras como “Medusa”, Quinzena dos Realizadores em Cannes, “Amarela”, indicada à Palma de Ouro de Melhor Curta-Metragem, e “Vitória”, um Original Globoplay, coproduzido com a Conspiração Filmes e distribuído pela Sony Pictures, que traz Fernanda Montenegro em seus 95 anos como protagonista em uma atuação potente e aclamada pela crítica.
Sobre a MyMama Entertainment
Duas vezes vencedora do Emmy Internacional, a Mymama Entertainment é uma produtora audiovisual que mantém o seu foco em talentos e na realização de filmes e séries de alta relevância, aclamados pela crítica e pelo público. À frente da empresa estão as sócias fundadoras e produtoras Gabrielle Auad e Mayra Faour Auad.
A produtora construiu uma trajetória sólida no audiovisual, com filmes premiados e selecionados nos principais festivais de cinema do mundo, incluindo o Festival de Cannes, TIFF, Sundance, Locarno, San Sebastián, SXSW, Berlinale, Veneza, Festival do Rio e Mostra de São Paulo.
Entre seus lançamentos recentes, destacam-se o curta “Amarela”, de André Hayato Saito, indicado à Palma de Ouro na Competição Oficial de Curtas do 77º Festival de Cannes e selecionado para o Festival Internacional de Toronto e ganhador de Havana de melhor filme. No cinema, a produtora assinou títulos como “Medusa”, exibido na Quinzena dos Cineastas do 74º Festival de Cannes; “Fogaréu”, vencedor do Prêmio do Público na 72ª Berlinale (Mostra Panorama), “Los de Abajo”, destaque no 32º Festival de Biarritz, com indicação ao Goya e aos Prêmios Platino e “O Órfão” exibido na Quinzena dos Cineastas do Festival de Cannes e ganhador do Queer Palm.
Além do cinema, a Mymama também se destaca em projetos para o streaming e a TV. Entre eles, a série “Beat Diáspora”, coproduzida com KondZilla e YouTube Originals; o documentário com “Hack the City” e “Nosso Sangue, Nosso Corpo” para FOX/DISNEY; e “Odilon, Réu de Si Mesmo”, produção original da HBO Max.
“Vitória”, o filme mais recente coproduzido pela produtora, estrelado por Fernanda Montenegro, foi amplamente aclamado por críticos e pelo público, com mais de 700 mil espectadores.