ANDRÉ FONTENELLE
ROMA, ITÁLIA (FOLHAPRESS)
“Ontem à noite, fomos hipervencedores.” Assim o arcebispo de Argel, o francês Jean-Paul Vesco, 63, descreveu o clima na Capela Sistina, encerrado o conclave. Vesco falou longamente sobre detalhes da eleição do papa, reservando o sigilo aos temas interditados, como o resultado das votações.
“Quando há uma campanha [eleitoral], quando sai o resultado, filmam o lado dos que ganharam e o lado dos que perderam. Ali, não havia lado. Havia alegria de todo mundo, havia apenas hipervencedores”, explicou, na saída da missa rezada por Leão 14 para os cardeais.
Vesco contou que Prevost não estava de fato entre os favoritos no início, mas que, em um determinado momento, que ele não soube definir, a maré mudou. “Sentimos que era ele e todos concordamos”, afirmou o líder religioso.
Ele disse que “muitas coisas o impressionaram” no conclave. “Temos a impressão de estar entrando em algo muito grande, muito ritual.”
Bem-humorado, Vesco disse que, mesmo tendo gostado da experiência, não quer vivenciá-la de novo. “De forma alguma. Primeiro, porque desejo uma vida longa [ao papa]. Não quero me projetar nesse momento, porque quero viver esses 15 anos”, disse, numa aparente referência à expectativa de vida dos papas (Leão 14 tem 69 anos).
Ele admitiu que passa pela cabeça dos cardeais -inclusive ele, que seria considerado um azarão- a possibilidade da própria eleição. “Porque na lista de papáveis que vocês [da imprensa] fizeram, todos os que estão nela dizem: ‘Posso ser eu.’ Então, tenho que me preparar. E, obviamente, para se preparar, a gente se imagina um pouco. A gente se projeta.”
Acrescentou, porém, ter ficado emocionado com o desprendimento dos cardeais favoritos.
“Na vida, somos alimentados, talvez, pela ambição, pela inveja. E, obviamente, nos dizem: ‘Por que não você? Por que não você?’ E acho bonito ver todos esses homens inteligentes, que têm tudo o que é preciso, que poderiam dizer a si mesmos: ‘Sim, por que não eu?’, terem essa lealdade, esse reconhecimento, na alegria.
Fiquei muito emocionado com aqueles que, ao contrário de mim, podiam realmente dizer: ‘Posso ser eu’.”
Vesco admitiu ter estranhado inicialmente o nome “Leão”. “Quando ele nos disse Leo -‘Leão’ em latim-, pensamos: ‘Quem ainda põe no filho o nome de Leão hoje em dia?’ Só que o bonito é que o povo cantou ‘Leone, Leone…’ O ritmo foi encontrado instantaneamente e isso me tocou muito”, afirmou.
O cardeal brincou quando um repórter lembrou que ele poderia ser excomungado por contar segredos do conclave: “Agora só ele [Leão 14] pode fazer isso. Mas não seria muito bacana da parte dele. Acabamos de fazer o serviço!”.