Quilombolas moram mais no campo do que na cidade, mostra Censo


62% dos quilombolas moram em áreas rurais, ante 87% no conjunto da população. Mesmo os indígenas têm uma população urbana maior que a rural, segundo o instituto. Para pesquisadora do IBGE, fato tem relação com a escravização. Dirani Francisco Maia é moradora do Quilombo Kalunga, no nordeste de Goiás
Fábio Tito/G1
Os quilombolas têm a maior parte de sua população no campo, diferentemente do que acontece até mesmo com os indígenas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
➡️ Dos 1.330.186 quilombolas do país, 62% estão em situação rural, e 38% no meio urbano, revelam dados do Censo 2022.
Para a pesquisadora do IBGE Marta de Oliveira Antunes, este resultado “tem a ver com o histórico da escravização, da ocupação pela escravização e como foi essa resistência organizada ao longo dos séculos”.
Estes dados são inéditos, já que é a primeira vez que o Censo incluiu em seus questionários perguntas para identificar pessoas que se autodenominam quilombolas.
“Era um elemento completamente desconhecido da sociedade brasileira. (…) É uma descoberta, nós temos ainda um grupo populacional no nosso país que é majoritariamente rural, e isso é um dado muito relevante. Às vezes achamos que o rural está em extinção”, afirmou o pesquisador do IBGE Fernando Souza Damasco.
Para os pesquisadores do instituto, este dado passa a ser uma referência nova para todos os órgãos públicos que vão lidar com essa população e para o direcionamento de políticas públicas.
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Dentro dos territórios quilombolas oficialmente delimitados esse número é ainda maior: 87,3% vivem em situação rural e 13% na área urbana.
Quando se analisa por gênero, as mulheres quilombolas em situação urbana apresentam um peso relativo superior quando comparadas com o mesmo grupo em situação rural.
Para a pesquisadora Antunes, estes números mostram que as mulheres estão “em busca de melhores oportunidades, em busca de estudos e trabalho”.
➡️Em áreas urbanas, a cada 92 homens quilombolas foram identificadas 100 mulheres quilombolas. Nas áreas rurais, eram 105 homens para cada 100 mulheres.
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O Nordeste concentra quase 70% dos quilombolas, com grande destaque para os estados da Bahia e do Maranhão. Juntos, eles têm 50% dos quilombolas do país.
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87,41% dessa população vive fora de territórios oficialmente delimitados para quilombolas.
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