Cristina Camargo
Folhapress
O estudante Edson Luiz de Lima Souto, morto aos 18 anos durante uma manifestação contra a ditadura militar no galpão do restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, será incluído no Livro dos Heróis e Heroínas do Estado.
A medida, prevista em projeto de lei da deputada estadual Dani Monteiro (PSOL), foi aprovada pela Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) e agora segue para sanção do governador Cláudio Castro (PL).
Edson Luís foi morto pela Polícia Militar com um tiro no peito no dia 28 de março de 1968 e se tornou um símbolo histórico da resistência estudantil contra a repressão política durante a ditadura.
“Houve confronto entre a polícia e os estudantes, que realizaram depredações. A PM respondeu com disparos e matou o estudante secundarista Edson Luís Lima Souto, de 16 anos, que cursava o Instituto Cooperativa de Ensino”, escreveu a Folha de S.Paulo, na época.
Nascido em Belém (PA), o secundarista morava no Rio para concluir o segundo grau (atual ensino médio) e foi assassinado depois que policiais militares invadiram o Restaurante Central dos Estudantes, conhecido como Calabouço, no centro da cidade. Ele era um dos 300 alunos que comiam no local.
No mesmo ano da morte, o regime militar decretou o AI-5 (Ato Institucional número 5), que aumentou a repressão e permitiu a cassação de políticos eleitos.
“Quero referenciar o quanto Edson foi um herói, pois lutava diretamente pela democracia, pela educação e pelo direito à alimentação”, disse a deputada.
Os deputados Carlos Minc (PSB) e Luiz Paulo (PSD) pediram para ser coautores do projeto. Os dois estavam na manifestação em que o estudante foi morto.
“Sou testemunha ocular da história deste assassinato praticado pela ditadura. Os estudantes pegaram o corpo dele e trouxeram para onde hoje é a Câmara Municipal”, disse Luiz Paulo, que fazia parte do movimento estudantil na época.
Minc lembra que os manifestantes gritavam “mataram um estudante, e se fosse um filho seu?”.
“Isso pegou na classe média porque, de fato, ele não estava cometendo crime algum e sim almoçando em um restaurante”, recorda.
O corpo de Edson Luís foi carregado pelos estudantes em uma passeata pelo centro do Rio, até a então sede da Assembleia Legislativa, onde foi velado. A autópsia foi realizada no meio da manifestação. A morte provocou outros protestos no país nos dias seguintes.
“O Rio de Janeiro já foi uma cidade capaz de parar numa sexta-feira à tarde para enterrar um estudante morto pela PM”, escreveu o jornalista e escritor Zuenir Ventura no livro “1968 – O Ano que Não Terminou”.
Segundo ele, no dia 29, uma sexta-feira, 50 mil pessoas acompanharam o corpo ao Cemitério São João Batista, em Botafogo, na zona sul.
Na Cinelândia, os cinemas Império, Pathé e Odeon anunciaram filmes que faziam alusão à tragédia: “A Noite dos Generais”, “À Queima-Roupa” e “Coração de Luto”.
O Livro dos Heróis do Estado do Rio de Janeiro foi criado em 2010 para a inscrição de “pessoas ilustres que tenham por seus atos contribuído para a defesa, o progresso ou desenvolvimento do estado, do Brasil ou da humanidade”.