NATHALIA GARCIA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central deve elevar nesta quarta-feira (7) a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, a 14,75% ao ano -mesmo nível registrado em agosto de 2006. Essa é a expectativa majoritária de analistas do mercado financeiro, que também preveem mudança na comunicação do colegiado sobre seus próximos passos.
Das 32 instituições ouvidas pela Bloomberg, 31 esperam alta de 0,5 ponto percentual. E uma, de 0,25 ponto percentual.
Incerteza, cautela e flexibilidade são alguns dos termos usados recentemente pelos membros do Copom em declarações públicas que, na visão dos economistas, reforçam o cenário projetado.
Quanto ao fim do ciclo de alta de juros, há divergência entre os agentes econômicos. Enquanto uma parcela estima um aumento residual em junho, outra fatia aposta que a elevação desta quarta será a última feita pelo Copom.
O comportamento das expectativas de inflação, do câmbio e a da economia global entram no cálculo do mercado, que também pondera as decisões do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em meio à guerra comercial imposta pelos Estados Unidos.
Apesar da pressão do presidente Donald Trump pela redução dos juros nos EUA, é dado como certo que o Fed manterá inalterada a taxa básica no atual intervalo de 4,25% a 4,50% ao ano nesta “superquarta” -dia em que os bancos centrais de Brasil e Estados Unidos decidem o rumo dos juros de suas respectivas economias.
No Brasil, também vem ganhando peso a avaliação de que há espaço para o início do ciclo de flexibilização de juros ainda neste ano. Segundo o boletim Focus, a mediana das projeções para a Selic em 2025 ficou em 14,75%. Essa foi a primeira queda depois de 16 semanas com a estimativa de 15%.
Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore, projeta alta de juros de 0,5 ponto percentual, mas não descarta um cenário alternativo de aumento de menor intensidade, de 0,25 ponto. Para junho, prevê o fim do ciclo, com a Selic em 15% ao ano.
Segundo o economista, o panorama atual da economia brasileira não é bom, com a inflação muito distante da meta de 3% e sem sinais de que o hiato do produto se tornou menos positivo. Isso significa que a atividade continua operando acima do seu potencial e sujeita a pressões inflacionárias.
O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), que sinaliza tendência para o índice oficial de inflação, somou 5,49% no acumulado de 12 meses até abril, puxado por aumentos nos preços dos alimentos e de gastos com saúde.
A taxa de desemprego subiu a 7% no primeiro trimestre. Apesar do avanço, foi o menor resultado para o período na série da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. Com a força do emprego formal, a renda média da população também voltou a bater recorde.
Para Schwartsman, há ainda um “véu gigantesco” de incerteza à frente devido à guerra comercial aberta pelos Estados Unidos. Com isso, ele espera que o Copom não dê qualquer sinalização sobre o que pretende fazer na próxima reunião, em junho. “Se amarrar de alguma maneira pode sempre acabar custando em termos de credibilidade”, afirma.
O tarifaço imposto por Trump levou algumas instituições financeiras, como o Santander, a revisar sua projeção para a Selic. O banco espera o fim do ciclo de alta de juros já na reunião desta quarta, com um aumento de 0,5 ponto percentual.
Marco Antonio Caruso, economista do Santander, considera a expectativa de um efeito desinflacionário para o Brasil, com redução dos preços de commodities e apreciação do câmbio. Em março, a cotação do dólar usada pelo comitê foi de R$ 5,80 -cifra que deve cair a R$ 5,70 nesta quarta.
Ele também avalia que as falas públicas do presidente do BC, Gabriel Galípolo, e dos diretores da instituição sinalizam que o momento “de parar para olhar” está próximo, considerando o avanço do ciclo de alta da Selic.
“Um juro real de 9,5% é bastante até para a história brasileira”, diz. “Se você quer cautela, quer flexibilidade e [o cenário] está incerto, está chegando o momento de reduzir o passo. Não agora porque ainda temos uma desancoragem das expectativas de inflação persistente [distante da meta].”
Para Caruso, o BC deve adotar um “guidance light”, dando pistas sobre os próximos passos, sem ser categórico. O economista considera que o colegiado poderia seguir os moldes do comunicado divulgado em agosto de 2022.
Naquela ocasião, o comitê disse que avaliaria “a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião” e enfatizou que seguiria vigilante e que os passos futuros da política monetária poderiam ser ajustados.
Segundo o economista, o colegiado do BC estava pronto para encerrar o ciclo de alta de juros, mas avaliaria a necessidade de um aumento derradeiro de 0,25 ponto percentual. “Esse é o tipo de comunicação que eu entendo que eles poderiam fazer”, diz.
Para Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, será difícil o Copom encerrar o ciclo de alta de juros agora em maio diante de um cenário em que as expectativas de inflação estacionaram em um patamar distante da meta e que a inflação corrente continua “salgada”.
Ela ressalta também que, quando o BC está perto de dar o trabalho por encerrado, os membros do colegiado buscam enfatizar que grande parte do ajuste na taxa de juros foi feita. Discurso que não tem sido adotado por Galípolo nem pelos diretores.
Com isso em vista, a economista prevê um aumento de 0,5 ponto percentual nesta quarta e outro de 0,25 ponto no encontro de junho, levando a Selic a 15% ao ano.
Quanto à sinalização dos passos futuros, ela acredita que o Copom não vai se comprometer com um número fechado para junho, mas deve mencionar a intenção de um ajuste de menor magnitude no encontro seguinte. Também espera maior ênfase de que o BC estará mais dependente da evolução dos dados econômicos.
Pinheiro vê chance de corte de juros em dezembro, quando projeta uma redução um pouco mais agressiva que o restante do mercado no primeiro movimento, de 0,5 ponto percentual.
“A gente tem o efeito da política monetária, a possibilidade de desinflação por conta do tarifaço dos Estados Unidos, e a gente precisa de uma política fiscal bem comportada, comprometida com as metas de resultado primário. A combinação desses três fatores abre espaço para o Banco Central começar a cortar juros no final do ano”, afirma.