FRANCISCO LIMA NETO E FÁBIO PESCARINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A linha 5-lilás, do metrô de São Paulo, não conta com sensor de presença entre as portas da plataforma de embarque e desembarque e o trem. Segundo especialistas, o dispositivo poderia ter evitado a morte de um passageiro na manhã desta terça-feira (6).
Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35, ficou preso no espaço entre o trem e a porta de plataforma na estação Campo Limpo, na zona sul paulistana, e acabou imprensado e caiu na via.
O acidente foi às 8h, horário em que há grande fluxo de passageiros na estação. Segundo a ViaMobilidade, empresa que faz a gestão da linha 5-lilás, o usuário não respeitou os alertas sonoros e visuais de fechamento das portas.
Para Luis Kolle, presidente da AEAMESP (Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô), houve falha no sistema das portas de plataforma.
Kolle afirma que o passageiro não poderia ter ficado preso entre o trem e a porta de plataforma e, caso isso ocorra, o trem não deve conseguir partir, como ocorreu nesta terça.
“Ali [entre as portas] é preciso um sensor, tem que detectar que há uma pessoa ali. A porta de plataforma teria de abrir de novo. A porta do trem até poderia permanecer fechada, mas a de plataforma deveria abrir para a pessoa sair da zona de risco. Algum erro de procedimento, alguma falha aconteceu”, afirma.
Em nota, a concessionária diz que a linha 5-lilás dispõe de um sistema, utilizado nacional e internacionalmente, de sensores de obstrução de portas para impedir que os trens partam com as portas abertas, mas não de presença.
“No caso em questão, mesmo após os alarmes visuais e sonoros, ao tentar entrar no vagão, o passageiro acabou ficando no espaço entre o trem e a plataforma, onde não há sensores. Como tanto as portas de plataforma quanto as do vagão estavam fechadas, o trem partiu”, afirma trecho da nota da empresa, que diz realizar regularmente campanhas para alertar os passageiros sobre a importância de não entrar nem sair do trem após os alarmes nem tentar segurar as portas.
O presidente da AEAMESP reforça que somente a perícia técnica vai poder afirmar as causas do acidente.
“A atitude do passageiro foi indevida, mas a gente não pode culpar a vítima. Houve uma fatalidade, mas é preciso pensar na melhoria do sistema, porque se aconteceu de uma pessoa ficar presa, alguma coisa no sistema falhou”, diz.
Coordenador adjunto da Câmara Especializada de Engenharia Mecânica e Metalúrgica do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de São Paulo), e pós-graduado em automação industrial, o engenheiro mecânico Carlos Peterson Tremonte afirma que a instalação de sensores de presença não é um processo complexo.
“É preciso fazer uma programação, existe uma lógica que impediria o trem de sair. Se todas as portas estivessem com esses sensores ativos, o trem não sairia”, afirma ele, que desconhece uma norma que obrigue a instalação de sensor de presença.
“Mas [esse tipo de sensor] é o que mais tem. É um custo de segurança muito baixo para um metrô”, diz.
Em entrevista no fim da tarde desta terça, o presidente da ViaMobilidade, Francisco Pierrini, afirmou que a concessionária vai instalar sensores de presença nas portas das plataformas até fevereiro do ano que vem.
À Band, ele disse que esse projeto já estava sendo tocado pelos engenheiros da empresa, mas que agora será antecipado em função da fatalidade.
Enquanto isso, conforme o executivo, será implantado até o fim do ano um sistema de barreiras físicas na parte interna das portas da plataforma. Segundo Pierrini, são hastes de metal que vão bloquear a presença de qualquer pessoa ou mala entre o trem e a porta da plataforma.
O Metrô afirma que todas as portas instaladas nas linhas administradas pela estatal contam com sensores para evitar o fechamento da porta quando há pessoas ou objetos entre as fachadas e o trem.
A linha 4-amarela, administrada pela ViaQuarto, que assim como a ViaMobilidade faz parte da Motiva (grupo CCR), também não conta com sensor de presença, mas há uma barreira e, segundo a empresa, o sistema e a infraestrutura não permitem passageiros entre o trem e a plataforma.
Em março passado, uma passageira ficou presa entre a porta de segurança e o vagão na estação Vila Prudente da linha 2-verde do metrô. A composição teve de ficar parada para a retirada da mulher.
Por causa desse caso, o Metrô diz ter intensificado as orientações aos passageiros e instalou anteparos nesses equipamentos para evitar que o usuário se coloque entre a porta de plataforma e a porta do trem.
Também em nota, o Sindicato dos Metroviários afirma que a linha 5-lilás, passada à iniciativa privada em 2018, não foi construída originalmente com portas de segurança nas plataformas e diz que é preciso cobrar a instalação de dispositivos de segurança.
“A sociedade deve cobrar a ViaMobilidade sobre o funcionamento dos sensores das portas de plataforma da linha 5-lilás. Esses sensores podem impedir o fechamento das portas com presença de pessoas e, por consequência, impedir o deslocamento dos trens”, diz trecho da nota do sindicato.
Segundo relatos em redes sociais, passageiros começaram a gritar após o acidente e houve correria na estação. Um deles disse que a cena foi desesperadora.
“A porta fechou, a primeira porta do desembarque dos passageiros e a porta do trem, junto com o rapaz. O trem passou por cima dele. Todo mundo começou a chorar na hora, foi desesperador. Não sei nem como mencionar na verdade, não tenho nem cabeça pra isso. Ele ficou preso entre o trem e a porta”, afirmou o gestor comercial Bruno Moreira Costa, em entrevista à TV Globo.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que a ocorrência está sendo registrada na Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano).
O Metrô diz que a companhia está à disposição das autoridades e da concessionária para discutir mais medidas de segurança.