JOÃO GABRIEL E RAPHAEL DI CUNTO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A bancada do PDT na Câmara dos Deputados decidiu deixar a base do governo Lula (PT) e discutir candidaturas alternativas para a eleição presidencial de 2026 após a saída de Carlos Lupi do Ministério da Previdência.
Sob pressão no governo em razão do escândalo de fraude no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Lupi pediu demissão na última sexta (2).
Para o seu lugar, Lula nomeou Wolney Queiroz, que era seu número 2 na pasta. O partido trata a escolha como pessoal do presidente, já que não foi consultado sobre a substituição.
“Neste momento, estamos nos colocando em posição de independência”, disse o líder do PDT na Câmara, deputado Mário Heringer (MG). “O PDT na eleição anterior ofereceu alternativa para a Presidência e a gente acha que podemos oferecer alternativa também para 2026”, afirmou o parlamentar.
Em 2022, o PDT lançou a candidatura de Ciro Gomes, que ficou em quarto lugar, com apenas 3% dos votos válidos. A sigla apoiou a candidatura de Lula no segundo turno.
A decisão de sair da base do governo Lula ocorreu em reunião dos deputados do partido com Lupi na manhã desta terça-feira (6), da qual Ciro não participou.
A ministra Gleisi Hoffmann (PT), da SRI (Secretaria de Relações Institucionais), já conversou com Heringer na segunda-feira e pretende se encontrar com toda a bancada nos próximos dias para tentar reverter a posição.
Apesar de Lupi e Wolney serem do PDT, a troca incomodou o partido, uma vez que o ex-ministro não é citado na investigação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre fraudes do INSS.
Lupi também discordou abertamente de Lula ao defender que o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, não deveria deixar o cargo após a operação policial.
Diferentemente do ex-ministro, porém, Stefanutto foi alvo da operação da PF. Ele nega as acusações.
Apesar de deixar a base do governo, deputados do partido dizem que a postura não será de oposição, mas de apoio a projetos de interesse do país e, principalmente, as pautas defendidas pela centro-esquerda.
No grupo de Whatsapp da bancada, a versão de que eles deixarão de votar com o governo foi contestada.
A ideia é repetir o posicionamento de outras siglas que têm cargos na Esplanada, mas dizem que são independentes e não compõem oficialmente a base do governo, como PP -quem tem André Fufuca (Esportes)-, União Brasil -com Celso Sabino (Turismo), Waldez Goés (Integração) e Siqueira Filho (Comunicações)– e Republicanos -Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
O deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP) disse que o partido agora fará uma reflexão sobre cada projeto ao invés de aderir imediatamente às pautas do governo. “Continuamos como base no governo no sentido das discussões macro, mas iniciamos uma reflexão sobre 2026 e sobre a relação política com o PT nos estados”, afirmou.
Estas siglas, sobretudo o União Brasil, costumam votar junto com o governo em projetos da área econômica, mas também ajudam a oposição a, por exemplo, conseguir assinaturas para a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do INSS na Câmara ou aprovar projetos da pauta de costumes no Congresso.
Por outro lado, essas três siglas têm perfil ideológico de direita, enquanto o PDT, historicamente, é de esquerda.
Heringer afirmou que a decisão de ficar independente mudará a postura do partido nas votações. Se antes a sigla aderia 100% aos projetos do governo sem questionar, agora serão discutidos caso a caso e divergências serão autorizadas. “Num caso desses, daqui para frente, será mais fácil a gente dizer: a bancada está liberada, cada um faz o que lhe aprouver”, disse.