ANDRÉ BORGES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A área de segurança pública do governo estadual do Pará tem apresentado a sua fatura para o Ministério da Justiça e Segurança Pública do governo Lula (PT) conforme se aproxima a realização da COP30, a conferência climática da ONU (Organização das Nações Unidas). O evento ocorre em novembro, em Belém.
Só em abril, o governo recebeu da gestão Helder Barbalho (MDB) pedidos de apoio envolvendo a doação de carros descaracterizados e drones, recursos para bancar a diária de bombeiros e adiantamento de entrega de lanchas previstas para ações pelos rios da região.
Conforme informações obtidas pela Folha de S.Paulo, a Polícia Civil pediu a doação de sete carros seminovos “com ar-condicionado e automático”, todos descaracterizados, para simular padrão civil, “em perfeitas condições operacionais e no padrão das autoridades presentes no evento”.
Segundo a corporação, a doação ajudará a “reduzir a sobrecarga sobre a frota atual, que se encontra limitada e com desgaste natural em razão do uso intensivo”.
A solicitação também inclui quatro drones com tecnologia de visão noturna ou por calor. “Esses equipamentos irão auxiliar nas buscas, levantamentos e investigações das principais áreas do evento da COP30 e proximidades”, afirmou a Polícia Civil.
Um segundo pedido foi enviado pela Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, que solicitou ao ministério da Justiça repasse de R$ 7,2 milhões para viabilizar o pagamento de diárias de até 120 bombeiros por dia, que seriam mobilizados nas regiões mais afetadas pelos incêndios.
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar do Pará, houve aumento de 85,66% na área queimada no estado em 2024 sobre o ano anterior, com mais de 56 mil focos de calor registrados.
“Considerando a necessidade de garantir uma resposta eficaz durante a COP 30, torna-se imprescindível o reforço de recursos financeiros e humanos, por meio da ampliação do custeio de diárias disponibilizadas pela Operação Protetor do Bioma”, afirma.
As demandas que chegaram à pasta comandada por Ricardo Lewandowski também incluem a antecipação de cronograma para entrega de lanchas já adquiridas e que serão usadas pelo Grupamento Fluvial de Segurança Pública do Pará. Não é especificado um número de equipamentos ou prazo.
Por meio de nota, o gabinete da Secretaria Nacional de Segurança Pública do ministério informou que “os processos estão em análise técnica”. A Secretaria de Segurança Pública do Pará não se manifestou.
A despeito dos gastos com segurança, o governo federal tem se incomodado com a questão dos preços de hospedagem no Pará.
Como informou a Folha, o governo Lula quer fechar um acordo com a rede hoteleira estadual para que as empresas respeitem uma faixa de variação de preços de hospedagens durante a COP30, baseada no que é praticado durante o Círio de Nazaré, que é celebrado em outubro.
As autoridades já monitoram valores de passagens aéreas, tema que deve ser objeto de negociações com empresas do setor, também levando em conta a realidade do mercado na festa religiosa. Em 2024, mais de 2 milhões de pessoas acompanharam o Círio em Belém.
Como mostrou a Folha, a quase seis meses da COP30, Belém registra um déficit de 13.985 leitos em relação à meta usada pelos governos federal e do Pará para receber os visitantes do evento.
A capacidade da capital paraense para acomodar os participantes é uma das principais preocupações dos organizadores desde que Belém foi anunciada como sede da conferência. Os temores têm levado a mudanças na programação, como a antecipação da reunião de líderes do evento para o começo de novembro, para reduzir a pressão na rede hoteleira.
O governo federal assinou um contrato com a Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) para ampliar a hospedagem em Belém por meio de navios e, assim, tentar reduzir o déficit de leitos na capital paraense durante o evento.