PEDRO S. TEIXEIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O crescimento do índice de desenvolvimento humano (IDH) registrou o nível mais baixo desde 1990, quando o então bloco socialista estava em derrocada após a queda do muro de Berlim.
De acordo com novo relatório da ONU (Organização das Nações Unidos), que analisa dados de 2024, a inteligência artificial pode ser a nova mudança estrutural com potencial de retomar o ritmo do avanço da humanidade em termos de saúde, educação e renda.
“Novas capacidades surgem quase diariamente e, embora a IA não seja uma solução mágica, as escolhas que fizermos poderão reacender o desenvolvimento humano e abrir novos caminhos e possibilidades”, diz Achim Steiner, chefe global do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
Para isso, defende o relatório, a sociedade precisa escapar da armadilha de buscar automatizar todo e qualquer trabalho possível e usar a tecnologia para aumentar a inteligência humana, a exemplo do trabalho laureado do Prêmio Nobel de química de 2024 que usou IA para mapear proteínas.
Caso a sociedade falhe em empregar a tecnologia de maneira eficiente e o baixo avanço registrado entre 2021 e 2024 se repita nos próximos anos, o marco de um desenvolvimento “muito elevado”, quando o IDH ultrapassa 0,800, pode acabar atrasado “por décadas”, diz a organização.
“Durante décadas, estivemos no caminho para alcançar um mundo de desenvolvimento humano muito elevado até 2030, mas essa desaceleração representa uma ameaça real ao progresso global,” afirma Steiner.
O Brasil subiu cinco posições no ranking entre 2022 e 2023, da 89ª para a 84ª posição entre 193 países e territórios. O índice passou de 0,760 para 0,786, considerado alto. Desde 1990, no entanto, a alta do país foi grande: a taxa era de 0,641 naquele ano, uma alta de 22,6%.
“Entre 1990 e 2023, a expectativa de vida ao nascer no Brasil aumentou em 9,99 anos, os anos esperados de escolaridade aumentaram em 1,70 ano e a média de anos de escolaridade aumentou em 4,74 anos. A renda nacional bruta per capita do Brasil aumentou cerca de 47,9% nesse período”, afirma o relatório.
Ainda segundo as Nações Unidas, a desigualdade entre os países de IDH baixo (menor do que 0,55) e IDH muito alto (maior do que 0,8) registrou, em 2023, alta pelo quarto ano consecutivo -até 2021, havia uma tendência histórica de redução das disparidades.
Os países menos desenvolvidos sofrem mais do que os desenvolvidos com guerra comercial, piora no nível de endividamento e avanço da industrialização sem geração de emprego.
Para a ONU, a inteligência artificial pode ser uma ferramenta para mudar a situação e impulsionar o desenvolvimento.
A organização se baseia em uma pesquisa de opinião que colheu respostas em 21 países, segundo a qual só 13% dos entrevistados afirmam temer o desemprego por causa da tecnologia. Metade das pessoas ouvidas diz que a IA pode automatizar o próprio emprego e 60% considera que haverá impactos positivos.
Um quinto das pessoas no mundo já afirmam usar IA com alguma frequência.
Nos países de IDH baixo e médio (entre 0,55 e 0,7), o otimismo é maior, com 70% dos respondentes afirmando que esperam ganhos de produtividade com a tecnologia. Dois terços esperam que a IA terá aplicações em educação, saúde e trabalho já em 2026.
Os países, defende a entidade, precisam fechar lacunas de acesso à eletricidade e à internet, para incluir a população nas novas oportunidades que emergem junto à a tecnologia. A disparidade de acesso às ferramentas mais recentes criou, nos últimos anos, uma dívida digital que aprofundou a desigualdade social no mundo.
Segundo o relatório, a tecnologia ainda precisa ser empregada para potencializar as atividades econômicas e sociais que as pessoas já fazem, por meio da introdução precoce de ferramentas e conceitos de IA na educação.
Para garantir um desenvolvimento sustentável da tecnologia, a ONU defende que deve haver participação humana em todo o ciclo de projeto e implementação da inteligência artificial.
A recomendação vai na contramão da atual principal tendência do mercado -os agentes de IA capazes de realizar trabalhos de forma completamente autônoma por meio da interação entre dois ou mais modelos de linguagem.
A organização também pede prioridade à aplicação da tecnologia em educação e saúde a fim de atender demandas urgentes do século 21.