MAELI PRADO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Lançado há pouco mais de um mês, o crédito consignado CLT avança impulsionado por bancos públicos e de pequeno porte. Hoje, ele já representa mais de 20% do estoque total do consignado privado.
Mesmo assim, ainda atende a menos de 4% da demanda gigantesca por esse crédito.
Dados da Dataprev (empresa de tecnologia do governo federal) indicam que, até 24 de abril, foram registrados pedidos somando cerca de R$ 220 bilhões, para R$ 8 bilhões em empréstimos efetivamente concedidos.
Ou seja, 3,6% das solicitações foram atendidas, em meio à dificuldade de se determinar o risco de cada cliente. Por enquanto, boa parte dos bancos, em especial os maiores, entraram com parcimônia para testar o mercado, aguardando os primeiros pagamentos dos contratos já fechados para determinarem o ritmo de concessões.
“O mercado está se ajustando, seja em taxa, prazo ou operacionalmente. Os próximos meses serão importantes, com destaque para junho, com os primeiros pagamentos dos empréstimos”, aponta Fabio Torelli, cofundador e CEO da OneBlinc, fintech de análise de crédito que presta consultoria a bancos em decisões sobre o consignado CLT.
Esse é um dos pontos que vêm refreando uma oferta maior do novo produto pelos bancos no ambiente de leilão, ou seja, dentro da plataforma do governo no ambiente da Carteira de Trabalho Digital.
Para se ter uma ideia, a incerteza sobre o risco é tão grande que as taxas de juros oferecidas a um mesmo cliente podem variar entre 4,5% a 7,99%, segundo um caso relatado à reportagem.
A portabilidade é considerada como um fator crucial para destravar o potencial do consignado CLT. A partir de 6 de maio, entra em vigor a portabilidade para empréstimos pessoais dentro do programa, e em 6 de junho, a funcionalidade se estenderá ao próprio consignado privado antigo.
Essa ferramenta é vista como essencial porque os trabalhadores precisam quitar dívidas anteriores (seja consignado ou crédito pessoal) para contratar o novo empréstimo. Sem ela, o produto fica restrito a quem não possui crédito prévio ou o tem na mesma instituição onde busca o novo empréstimo.
“Muitas fintechs querem entrar com força quando a portabilidade estiver acontecendo, que é quando poderão captar clientes com crédito em outras instituições financeiras”, aponta Diego Perez, presidente da ABFintechs (Associação Brasileira de Fintechs).
Enquanto a portabilidade não vem, os bancos privados de grande porte focam na migração massiva de seus atuais clientes de crédito consignado para a nova modalidade, que possui taxas mais atrativas devido às garantias adicionais do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) e de verbas rescisórias.
Ao oferecer essa substituição, buscam minimizar a ida de clientes a leilão na plataforma da Carteira de Trabalho Digital. A migração passa por uma nova oferta ao cliente, com revisão contratual e redução de taxa, diz uma pessoa vinculada ao setor financeiro.
Os grandes bancos aguardam ainda a consolidação dos processos operacionais envolvidos, com atenção especial a como as empresas empregadoras, as grandes responsáveis pela garantia, estão gerenciando a escrituração dos primeiros contratos.
Um documento do Ministério do Trabalho e Emprego indica que 38% das empresas com contratos fechados já baixaram os arquivos necessários, o que é considerado um bom sinal de que os pagamentos serão honrados.
ROTATIVIDADE BALIZA CONCESSÕES
Essa dificuldade de determinar o risco de empréstimo faz com que os bancos recorram principalmente a dados como rotatividade do trabalho e ao porte da empresa, entre outras informações, para fazer propostas e determinar taxas de juros para o consignado CLT.
As profissões com maior rotatividade, como por exemplo trabalhadores de call center ou empresas de limpeza, podem ter mais dificuldade de acessar esse crédito com taxa favorável, aponta Amilcar Collares Chaves, diretor de crédito da Matera, empresa de tecnologia especializada em produtos financeiros.
“Em alguns casos, o crédito com garantia de desconto de salário acaba se transformando quase que em um crédito pessoal em termos de garantia”, pondera ele.
A avaliação de qual taxa de juros será oferecida ao solicitante está muito mais relacionada com o perfil da empresa contratante, incluindo sua saúde financeira, do que da pessoa física. “Os bancos só oferecem crédito com apetite para funcionários de empresas que já conhecem, e que conseguem avaliar”, explica Chaves.
A expectativa do governo é que o crédito CLT alcance R$ 120 bilhões em empréstimos -valor expressivo em relação ao saldo do consignado privado registrado pelo Banco Central em março, de R$ 41,2 bilhões.