Guerrilha no trânsito e a impunidade que precisa ser combatida no país

Corredores deu rua fizeram manifestação em Boa Vista para pedir Justiça no caso de atropelamento (Imagem: Reprodução)

Não há dúvida nenhuma de que a impunidade continua sendo uma autorização por parte das autoridades para que condutores irresponsáveis continuem matando no trânsito. O recente caso dos quatro corredores de rua atropelados por uma condutora visivelmente bêbada, com a morte de um deles, é o exemplo dessa triste realidade que insiste em desafiar a nossa sociedade, afligida por uma guerra gratuita no trânsito.

O atropelamento ocorreu no dia 29 de março, quando o engenheiro José Francisco, o Ferrinho, foi atropelado junto com a esposa e mais outros dois corredores quando treinavam na zona rural de Boa Vista, na estrada da região do Bom Intento. Ferrinho morreu no dia 27 passado após quase um mês internado. O carro era conduzido por Jully Gabriella Passos Mota, 26 anos, que estava em visível estado de embriaguez, conforme a Guarda Civil Municipal e a Polícia Civil atestaram.

O que chama a atenção neste emblemático caso é que, no ato do atropelamento, a condutora tentou fugir, mas foi impedida pelos corredores, quando chegou a dizer que “não daria em nada” e que “apenas aguardaria o pagamento da fiança para ser liberada”, segundo testemunhas, o que acabou se confirmando, em uma antecipada explicitação da sensação de impunidade que reina em casos assim.

Apesar de suas declarações e da situação em que estava, a condutora não apenas foi solta durante a audiência de custódia como a defesa dela ainda emitiu uma nota que, de forma bem clara, tenta inverter a realidade dos fatos, imputando a culpa aos corredores e ainda enfatizando que o atropelamento seguido da morte de uma das vidas servisse de “alerta” a todos os corredores de rua.

No mundo jurídico, é difícil aceitar as diferentes interpretações da lei em que magistrados não entendem que matar uma pessoa ao dirigir sob efeito de bebida alcóolica não haveria intenção de matar ou que mandar para casa os atropeladores sob medidas impostas seria suficiente em vez de manter a prisão preventiva. É como se dissessem à sociedade que uma vida não importasse diante de um condutor que assumiu todos os riscos ao dirigir embriagado.

No mesmo dia em que os clubes de corridas de rua organizaram uma manifestação em Boa Vista para protestar e pedir Justiça no caso do corredor morto, na cidade de Manaus (AM) um motorista, também um jovem embriagado, atropelou cinco corredores de rua, matando um deles. Só que, neste caso, a Justiça decretou a prisão preventiva do condutor, “em garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal”.

São dois lados da mesma moeda que revelam as brechas jurídicas que incentivam a impunidade, apesar da lei ter sido alterada recentemente, aumentando a pena para motoristas que assumem o risco de matar ao dirigirem embriagados, podendo pegar de 5 a 8 anos de reclusão, enquanto a lei anterior previa de 2 a 4 anos de detenção para os infratores, além da suspensão da Carteira de Habilitação.

As manifestações que ocorreram tanto em Boa Vista quanto em Manaus chamam a atenção da sociedade para que a impunidade não possa mais reinar no país sitiado por uma guerrilha no trânsito. Não é mais possível aceitar que crimes cometidos no trânsito sejam tratados apenas como um “pecado” para quem se julga cidadão superior aos demais e com dinheiro para pagar a fiança.

*Colunista

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