ADRIANA FERNANDES
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
As negociações do Master com o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) devem resultar na concessão, nesta semana, de uma linha de assistência de liquidez ao banco de Daniel Vorcaro. A aprovação da linha é considerada a primeira fase antes da análise final pelo Banco Central da operação de compra do Master pelo BRB (Banco de Brasília).
As negociações avançaram porque o BRB protocolou no BC uma nova proposta de operação de compra de uma fatia do Banco Master. Na papelada, entregue na semana passada, há a revisão da extensão do chamado “perímetro” do negócio -a fatia do Master que interessa ao banco do governo do Distrito Federal.
Os ativos remanescentes que não serão adquiridos pelo BRB, que ficou conhecido como “bad bank” (banco ruim), foram recalculados e subiram de R$ 23 bilhões para um pouco abaixo de R$ 33 bilhões. Esses são ativos de maior risco e menor liquidez, mas também entraram operações de crédito.
Pessoas a par das negociações informaram à Folha de S.Paulo, sob a condição de anonimato, que a linha de assistência deverá ser “inicialmente mais emergencial” para suportar passivos que estão vencendo agora dos CDBs (Certificados de Depósito Bancário) emitidos pelo Master.
O Master tem cerca de R$ 53 bilhões de CDBs, garantidos pelo FGC, que cobre depósitos e aplicações de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em caso de instituições financeiras não honrarem seus compromissos.
O acerto da linha é uma questão de “um, dois, três dias”, segundo uma pessoa ouvida pela reportagem. A decisão é do conselho do FGC. Elas são sigilosas, a menos que a contraparte solicite que haja divulgação.
Vorcaro também está negociando com os donos da J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, a compra de alguns ativos do seu patrimônio pessoal, como precatórios (títulos de dívidas judiciais). A venda desses ativos teria a função de suportar parte do passivo do “bad bank”.
Essa possibilidade foi discutida em reunião do presidente do BC, Gabriel Galípolo, com Joesley Batista, encontro ocorrido no feriado do Dia do Trabalho (1º).
Na fase seguinte, seria fechada a negociação para uma liquidação privada dos ativos, que não seriam absorvidos pelo BRB, com a possibilidade de apoio também de outra linha do FGC. O chairman do BTG Pactual, André Esteves, segue como o mais interessado em ser contratado como o liquidante (responsável por vender e renegociar ativos e passivos).
Somente depois desse processo é que o BC, então, poderá concluir a avaliação final da operação do BRB, o que pode demorar mais algumas semanas.
A etapa final é o “closing” (fechamento) do negócio, o momento em que a transação é formalmente concluída, após a assinatura do contrato e a satisfação de todas as condições predefinidas.
A entrega da nova proposta ao BC levou em consideração a conclusão da auditoria e o redesenho da operação, mas também várias solicitações do BC.
A operação ficou bem mais enxuta em termos de ativos, o que facilitou o andamento das negociações porque deixou o BC mais confortável.
O FGC e o BC não comentam casos específicos de instituições assistidas pelo fundo. Procurado, Vorcaro não respondeu até a publicação deste texto.
Desde 2008, o FGC pode oferecer linha de assistência. De lá para cá, o fundo já fez vários empréstimos desse tipo, mas eles têm caráter sigiloso para evitar que a divulgação dos casos acabe aumentando o risco à estabilidade do sistema bancário brasileiro.
A entidade prefere a opção de fazer empréstimos à alternativa da liquidação da instituição financeira pelo BC. Quando um banco é liquidado, o fundo tem que pagar a cobertura da garantia dos depósitos de até R$ 250 mil por CPF e CNPJ.
Para cada R$ 100 que paga de cobertura em caso de liquidação, o FGC consegue recuperar cerca de R$ 40 a R$ 50. Já com as linhas de empréstimos às instituições financeiras em dificuldades, chamadas tecnicamente de assistência de liquidez, o FGC consegue economizar em relação aos casos de liquidação.