A NOVELA DA FOTO

irrrrmmaa

As fotonovelas italianas vendiam bem no mercado brasileiro. Mas eram muito caras. Então, o “Titio” Adolpho Bloch – como os empregados o da revista Manchete o chamavam –  resolveu produzir as dele. Nos meios dos papos com a sua galera do departamento financeiro, alguém sugeriu-lhe falar com o amigo Roberto Marinho, e contratar atores menos famosos da TV Globo a preços mais baratos, para não deixar parar as suas fotonovelas. O Doutor Roberto (), liberou campo livre e a galera de menos  fama, pra morder uma graninha por fora, levava até as roupas usadas nas gravações globais.

– Adolpho! É até um favor que você me faz. Esta moçada vive me chamando de pão-duro, reclamando da holerite. Não posso lhes pagar o que ganham Tarciso Meira e Regina Duarte, que levantam minha audiência, me rendem muita publicidade. Acerte com eles – respondeu o “Doutor” Roberto Marinho, que havia sido repórter de jornal e conhecia todos as choradeiras de quem vivia reclamando do salário.

Começou, então, a Editora Bloch as suas produções com os “menos famosos” da Globo, para a revista Sétimo Céu. Lá pelas tantas, um produtor achou ser hora de fazer uma novela com uma atriz famosa. E sugeriu Irma Alvarez, que havia estrelado, em 1957, a primeira fotonovela feita nesse país. Ela faria o papel de moça pobretona atropelada por um ônibus que a deixava paralítica mas, mesmo assim, seu namorado decidia se casar com ela.

irmmmaaa

Foto: Reprodução

Irma Alvarez era uma morenaça argentina que apaixonara-se pelo Rio de Janeiro e naturalizara-se brasileña. Sonhada, paquerada por dez em cada nove cavalheiros, causava pânico quando desfilava de biquíni, em 1959, nas programações do Hotel Copacabana Palace. Era paparicadíssima pelo maior diretor de shows cariocas – Carlos Machado –  e os grandes diretores cinematográficos da década-1960 – Paulo César Saraceni, Domingos de Oliveira, Jece Valadão, Bruno Barreto e Roberto Farias -,  tendo, com Gláuber Rocha, atuado em sua obra prima, Terra em transe, de 1967.  Antes, em 1962, trabalhando em Porto das Caixas, fora eleita melhor atriz do ano no cinema brazuca. Na TV, brilhava desde 1963.

Rola o tempo. Convencido o “Titio” a liberar a grana para a contratação da hermana, a produção da novela negociou com as autoridades do trânsito carioca para desviar os automóveis de uma parte da Avenida Niemeyer, no Leblon. Conseguido isso,  escalou-se os fotógrafos Nílton Ricardo (fotografara a parte anterior da novela), e mais Gervásio Baptista, para dois não deixar estourar o tempo negociado com o pessoal do Detran. Foi, então, a moçada  para o fechamento da produção. Os fotógrafos encheram a cara da atriz de um sangue composto por anilina, glicerina e chocolate, para obtenção de melhor qualidade nas fotos do acidente, e rolou  fotografagem. Rapidão, o local ficou repleto de curiosos. Não demorou até mesmo a aparecer uma ambulância do Hospital Souza Aguiar, que passava por perto e foi chamada pelos curiosos.

Até ali, nada de menos, ou de mais. Só que, ao saber do que se travava, a moçada da ambulância ficou uma fera, achou ter sido feita de palhaço e partiu para o maior bate-boca com a turma da fotonovela. Nisso, a bela  Irma Alvarez foi se levantando do chão, deixando as coxas, generosamente, ao deleite da galera, que ficou estática, com os olhos pregados em sua calcinha.

iiirmmmaa

Foto: Reprodução

Ameaças e xingamentos passados, o fotógrafo Gervásio Baptista falou pra atriz:

– Irma! Eu já contava ter os meus dentes quebrados pelos enfermeiros, mas a sua calcinha branquinha  salvou a minha cara.

– Pois quem vai quebrar os seus dentes, agora, sou eu, seu indecente – e entre calcinhas e indecências, ainda deu pra fotografar o final da fotonovela, com um beijo entre o modelo Jefferson Dantas (ator principal da trama) e a namorada acidentada – último ato em pé de guerra.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.