“Quando não há solução, solução tá dada”

Na semana passada embarquei para as duas maiores capitais brasileiras, São Paulo e Rio de Janeiro, a trabalho.

Ao chegar no aeroporto Marechal Cunha Machado, em São Luís, chovia forte. Tenho por hábito chegar cedo em aeroportos, traumatizado por perdas de voos.

Fiz check in, fiquei na sala de embarque, aguardando a hora de seguir para a aeronave. Na hora prevista, entrei, sentei no assento determinado, afivelei o cinto, aguardando a partida. Portas fechadas, aeronave lotada, com destino ao Rio de Janeiro e escala em Brasília. Duas horas dentro da aeronave, aguardando autorização da equipe de solo para iniciar o voo. A chuva arrefeceu, persistindo em uma garoa. Ao desembarcar em Brasília, fiquei sabendo do motivo do atraso em São Luís: pane no sistema elétrico do aeroporto, por causa da queda um raio. Tumulto geral no aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília. Outros voos, vindos de várias cidades também atrasaram, gerando caos. Todos corridos, com compromissos inadiáveis, a confusão era grande. Muitas reclamações por parte dos passageiros.

Perdi a conexão para o Rio, e a companhia aérea acomodou-me em hotel, com refeições inclusas. Nestas horas, lembro sempre do meu saudoso pai, Luiz Magno, homem manso, sábio e cordato, que repetia sempre, “Quando não há solução, solução está dada”.

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Tinha um evento no Rio, logo cedo; com o cancelando da conexão, perdi o compromisso. Desembarquei no aeroporto Santos Dumont no meio da tarde.

Também na semana passada, houve um apagão elétrico na Espanha e Portugal, deixando milhões de pessoas sem energia e internet. Em um mundo todo conectado, uma pane como essa tumultua a vida de todos.

Na Europa: voos cancelados, transporte público parado, corrida aos supermercados para comprar alimentos e gêneros de primeira necessidade. Cirurgias adiadas. Além disso, os estabelecimentos não conseguiram receber por meio de pagamentos eletrônicos, como cartões de crédito. Os moradores e turistas ainda afirmam ter tido dificuldades de sacar dinheiro em caixas eletrônicos.

Enfim, coisas que não estamos mais acostumados. Para completar, circularam, ainda, “fake news” de que as falhas teriam ligação com um suposto ciberataque russo, causando medo nas pessoas. Mas, segundo agências internacionais, não existiram indícios de que isso teria acontecido.

Como a saída para os transtornos é o humor, vi nas redes sociais vários espanhóis e portugueses se divertido ao ar livre, enquanto aguardavam a vida voltar à normalidade.

Somos dependentes da eletricidade e da internet. Não vivemos mais sem os smartphones. Toda a nossa vida está na palma da mão. Olhos sempre presos às telas. Agora até carteira de identidade, passaporte, carteira de vacinação e de motorista está no celular. O cartão de crédito também, aumentando ainda mais a possibilidade de sermos roubado e ter nossa vida devassada.

Evoluímos muito, a tecnologia nos trouxe até aqui, para ficarmos reféns dela.

O amigo Francisco Brandão, residente no Porto, Portugal, me ligou para falar dos transtornos que passou com o apagão. Precavido, entre sorrisos, me disse que está pensando seriamente em comprar uma charrete, um fogareiro e lanterna, como no passado. Vai que precise.

Luiz Thadeu Nunes e Silva

Escritor e globetrotter. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. O cidadão mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países.

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