Roma é palco da diplomacia e da esperança

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Por Renata Bueno*

Roma viveu dias de rara solenidade e relevância histórica ao sediar o velório e o sepultamento do Papa Francisco. Um evento de dimensão planetária, que reuniu mais de 170 delegações oficiais e atraiu chefes de Estado, autoridades religiosas, líderes políticos e representantes de diferentes culturas e credos.

Estar presente nesse momento me levou a refletir sobre o papel insubstituível que a Itália continua desempenhando como ponte entre civilizações, como terra de diálogo e escuta em meio a um mundo em constante tensão.

O adeus a Francisco foi muito mais que uma cerimônia fúnebre. Foi uma manifestação viva de união e respeito mútuo entre as nações.

Em sua dor silenciosa, Roma reafirmou sua vocação ancestral para a diplomacia. As ruas e praças da cidade eterna tornaram-se novamente cenário de encontros que podem mudar os rumos da história.

Um desses encontros chamou particular atenção nos bastidores: a breve, porém significativa, conversa entre Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia.

O diálogo aconteceu à margem das cerimônias oficiais, longe das câmeras, mas não passou despercebido aos olhos atentos da comunidade internacional. Mesmo que sem uma pauta formal divulgada, a aproximação entre dois líderes que simbolizam lados opostos em um dos conflitos mais delicados da atualidade representou um raro gesto de abertura.

Segundo fontes diplomáticas, o tom foi respeitoso e direto, uma troca de palavras que, embora breve, carrega um simbolismo profundo: o reconhecimento mútuo da necessidade de diálogo em tempos de guerra.

Em um ambiente carregado de espiritualidade e contemplação, esse gesto, ainda que inicial e talvez apenas simbólico, reaviva uma esperança que parecia remota: a de que a paz pode, sim, começar com uma conversa.

Em um mundo polarizado, esse tipo de encontro, por menor que pareça, tem o poder de acender novas possibilidades. A organização do evento foi exemplar. A segurança, a logística e a hospitalidade italiana demonstraram mais uma vez a capacidade do país de acolher com dignidade e eficiência grandes acontecimentos da cena internacional.

Roma se mostrou, mais uma vez, à altura de sua história como capital espiritual e diplomática da humanidade. Para a Itália, este momento reafirma seu protagonismo político e espiritual. Somos mais que o berço do catolicismo, somos um território onde se constroem pontes, não muros.

A presença de tantos líderes mundiais, reunidos em um mesmo espaço de reflexão e homenagem, mostra que Roma continua sendo referência quando o mundo busca sentido, direção e reconciliação.

O adeus ao Papa Francisco será lembrado não apenas pela grandeza espiritual do homem que partiu, mas também pela potência simbólica dos encontros que ele proporcionou, mesmo após sua morte. Que esse momento nos inspire a manter vivo o espírito de diálogo, paz e cooperação entre as nações, valores pelos quais Francisco sempre lutou em vida.

 

Renata Bueno é uma parlamentar ítalo-brasileira nascida em 1979 em Brasília, DF, Brasil. Conhecida por seu envolvimento na política e na defesa dos direitos dos descendentes de italianos no Brasil. Renata Bueno foi eleita deputada federal em 2010, sendo a primeira mulher eleita pelo Partido Socialista Italiano (PSI) fora da Itália. Sua atuação política tem sido focada em temas relacionados à cidadania italiana, imigração, e fortalecimento dos laços entre Brasil e Itália. Ela é presidente da Associação pela Cidadania Italiana no Brasil e tem trabalhado para facilitar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes de italianos no país. Além de parlamentar, Renata é advogada e empresária, com o Instituto Cidadania Italiana e Mozzarellart.

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