O Lago Paranoá, cartão-postal de Brasília e um dos principais destinos de lazer ao ar livre do Distrito Federal, tem registrado um aumento preocupante nas ocorrências de afogamento. Só nos quatro primeiros meses de 2025, o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBMDF) já confirmou quatro mortes no lago. Em todo o DF, foram 89 atendimentos classificados como “afogamento ou salvamento aquático” entre janeiro e abril.
Apesar do número total de atendimentos representar uma redução em relação ao mesmo período de 2024 — quando houve 84 casos nos quatro primeiros meses e 254 no total do ano —, o cenário preocupa as autoridades, especialmente pela concentração de acidentes no Lago Paranoá, onde muitas vítimas ignoram regras básicas de segurança.
De acordo com o CBMDF, os casos de afogamento no Distrito Federal ocorrem, principalmente, em três contextos: no Lago Paranoá, em residências com piscinas e em cachoeiras ou córregos. Em regiões como Brazlândia e Planaltina, as ocorrências costumam estar ligadas a quedas em cachoeiras, enquanto áreas urbanas como Guará, Park Way e Taguatinga concentram acidentes em piscinas particulares. Já o Lago Paranoá lidera em número de ocorrências públicas com grande fluxo de banhistas.
Neste ano, o Plano Piloto lidera o ranking de ocorrências com 43 casos, seguido por Lago Sul (15), Jardim Botânico (12), Ceilândia (4), Planaltina (4), Lago Norte (2), Park Way (2), Sobradinho (2), Taguatinga (2), e com um caso registrado em Águas Claras, Brazlândia e Guará.
Fatores de risco no Lago Paranoá
Segundo o Capitão Ramon Lauton, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF), o principal fator é o desconhecimento sobre os perigos da região.
“A profundidade do lago é bastante irregular. Às vezes, em um passo, o banhista sai de uma área rasa e já se encontra em um ponto com mais de cinco metros de profundidade, mesmo próximo à margem”, explica o capitão. A água turva, que compromete a visibilidade, e a presença de pedras ou pedaços de madeira no fundo também contribuem para os riscos de acidentes.
Entre as principais recomendações, o oficial destaca a importância de evitar o consumo de bebidas alcoólicas ou substâncias entorpecentes antes do banho no lago. “O álcool reduz o tempo de reação, o grau de atenção e altera o julgamento. A maioria dos afogamentos no Paranoá tem alguma relação com uso de álcool ou drogas”, afirma.
O CBMDF mantém cinco pontos com guarda-vidas ativos aos fins de semana e feriados, entre 10h e 18h. Os postos estão localizados na ponte da água da Ponte JK, no Deck Norte, na ponte do Braguetto, na Ermida Dom Bosco, na Pracinha dos Orixás e no Piscinão do Lago Norte. Cada ponto conta com três militares especializados.
Outra orientação importante é não superestimar a própria capacidade de natação. “Muita gente acredita que pode atravessar longas distâncias e acaba se cansando, tendo cãibras ou passando mal no meio do caminho”, alerta Lauton. Também é fundamental evitar o uso de boias improvisadas, como colchões infláveis, câmaras de pneu ou caixas de isopor, que podem furar ou virar com facilidade, colocando o banhista em risco.
Brincadeiras de mau gosto, como empurrões e saltos de cabeça em áreas desconhecidas, são extremamente perigosas. “A pessoa pode bater a cabeça em pedras ou no fundo raso e sofrer uma lesão raquimedular, que pode causar paralisia ou até mesmo a morte”, reforça o bombeiro.
Para quem leva crianças ao lago, a recomendação é manter vigilância constante. “É preciso atenção 100% do tempo. A distração, especialmente se o adulto estiver sob efeito de álcool, pode resultar em acidentes graves”, alerta.
Já no uso de embarcações, o capitão orienta a verificação prévia de equipamentos obrigatórios, como coletes salva-vidas suficientes para todos os ocupantes, e a regularidade da embarcação junto à Marinha. Também é necessário que o condutor esteja habilitado e não tenha ingerido álcool. “Quem estiver de carona em jet skis também deve evitar manobras perigosas, especialmente próximo às áreas de banho”, diz.
Para atletas que usam o lago para natação esportiva, a recomendação é nunca nadar sozinho e utilizar boias de sinalização chamativas, que além de fornecerem suporte em caso de cansaço, ajudam embarcações a visualizarem os nadadores e evitarem acidentes.
Dados do SAMU reforçam alerta
A Secretaria de Saúde do DF também registra chamadas relacionadas a afogamentos por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Em 2024, foram 18 solicitações — 16 para pacientes do sexo masculino e 2 para o sexo feminino. Já em 2025, até o momento, foram registradas 8 solicitações: 6 para homens e 2 para mulheres.
Entretanto, a pasta explica que esses dados se referem apenas ao resgate e não permitem identificar o local da ocorrência nem se os pacientes vieram a óbito. Em algumas situações, os atendimentos podem ter sido registrados como parada cardiorrespiratória (PCR), mesmo quando causados por afogamento, o que dificulta a categorização exata dos casos.
Com a proximidade de feriados e o aumento das temperaturas, a expectativa é de que o fluxo de banhistas aumente nos próximos meses. A prevenção, portanto, segue sendo a melhor aliada para salvar vidas.