BRUNA FANTTI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
Apesar de advogados do CV (Comando Vermelho) confirmarem que a aliança entre a facção fluminense e o PCC (Primeiro Comando da Capital) foi rompida, a cúpula de segurança do Rio de Janeiro ainda se mostra cética quanto à possibilidade de cisão.
A reportagem conversou nesta quarta-feira (30) com delegados, secretários e promotores ligados à segurança pública do estado, e a avaliação é de cautela e desconfiança. Um dos principais fatores apontados pelas autoridades é a ausência de movimentações de pedidos de transferência no sistema carcerário estadual. Para elas, tais pedidos confirmariam o fim da trégua.
O rompimento entre as quadrilhas foi divulgado na noite de segunda-feira (28) por meio de mensagens no WhatsApp e em perfis de redes sociais ligados à facção, que viralizaram. Na mensagem atribuída ao PCC, o texto afirmava que o rompimento era pacífico. “Não aceitaremos que integrantes pratiquem qualquer tipo de covardia contra familiares ou pessoas inocentes de qualquer organização, ou com quem quer que seja. Questões que ferem a ética do crime nunca foram e nem serão aceitas em nenhuma aliança ou amizade.”
As autoridades fluminenses, no entanto, não descartam a possibilidade de que as mensagens sejam parte de uma manobra com o objetivo de dificultar ou desviar investigações já avançadas que indicam a união entre as facções na exploração de serviços, como o fornecimento clandestino de internet.
Além disso, os serviços de inteligência identificaram a presença de foragidos do PCC em comunidades controladas pelo Comando Vermelho, o que levanta a hipótese de que uma falsa ruptura esteja sendo utilizada para confundir os investigadores.
Em fevereiro, um relatório da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais) apontava indícios de uma possível ação conjunta entre as facções, incluindo um pacto de não agressão.
O objetivo da união seria coordenar ações para pressionar a flexibilização de regras do sistema prisional federal, como a retomada das visitas com contato físico, incluindo as íntimas, entre detentos e seus familiares.
Informações de inteligência indicam ainda que PCC e CV uniram esforços para o pagamento de defensores, custeio de viagens e apoio a ONGs ligadas a presos.
A aliança, no entanto, gerou dificuldades na definição de diretrizes claras quanto às rotas de armas e drogas, resultando em tensões constantes entre os grupos. Autoridades acreditam que, se a ordem de cisão realmente foi dada, ela teria o aval de Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, apontado como líder do CV, mesmo estando preso em um presídio federal. Sua defesa, porém, nega essa hipótese.
Oficialmente, as secretarias de Polícia Civil, Polícia Militar, Segurança Pública e Administração Penitenciária não se manifestaram.
A disputa mais violenta entre as duas facções teve como marco a morte do traficante Jorge Rafaat Toumani, em 2016, assassinato que teria sido planejado pelo PCC.
Rafaat fornecia drogas para as duas facções e sua morte gerou disputas entre as quadrilhas.