LEONARDO VIECELI
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)
Em um movimento esperado, a taxa de desemprego subiu a 7% no primeiro trimestre deste ano no Brasil, apontam dados divulgados nesta quarta (30) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O indicador estava em 6,2% nos três meses finais de 2024, que servem de base de comparação.
Apesar do avanço, a taxa de 7% é a menor para um primeiro trimestre na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua). A série histórica começou em 2012.
No início de ano, o desemprego costuma subir com a busca por recolocação após o fechamento de vagas temporárias. O novo resultado veio em linha com a mediana das projeções do mercado financeiro, que também era de 7%, segundo a agência Bloomberg.
De acordo com o IBGE, o avanço da desocupação foi puxado pela perda de postos informais (sem carteira ou CNPJ), enquanto a renda média de quem seguiu ocupado renovou o recorde da pesquisa (R$ 3.410).
“O bom desempenho do mercado de trabalho nos últimos trimestres não chega a ser comprometido pelo crescimento sazonal da desocupação”, disse a coordenadora de pesquisas domiciliares do instituto, Adriana Beringuy.
A pesquisadora avaliou que é “extremamente complexo” associar os dados do primeiro trimestre a “perspectivas adversas” na economia, que atravessa período de juros altos e inflação pressionada no Brasil.
Para a técnica, o mercado de trabalho ainda mostra sinais de resiliência.
A população desempregada de 14 anos ou mais, que está sem emprego e que segue à procura de oportunidades, foi estimada em 7,7 milhões no período de janeiro a março. O número cresceu 13,1% (mais 891 mil pessoas) ante o quarto trimestre (6,8 milhões).
INFORMALIDADE PUXA QUEDA NA OCUPAÇÃO
Já a população ocupada com algum tipo de trabalho (formal ou informal) foi estimada em 102,5 milhões no início deste ano. O contingente caiu 1,3% (menos 1,3 milhão) em relação aos três meses imediatamente anteriores.
Dessa redução de 1,3 milhão, uma parcela de 1,1 milhão estava na informalidade (sem carteira ou CNPJ).
“Ou seja, 85% da queda da ocupação foi da queda da informalidade”, afirmou Adriana. “O aumento da taxa de desocupação foi influenciado pela perda de trabalho dos informais.”
O número de empregados com carteira assinada no setor privado, segundo o instituto, não teve variação significativa na comparação com o trimestre móvel anterior. Foi calculado em 39,4 milhões, ainda próximo do recorde da série (39,6 milhões).
O contingente de empregados sem carteira no setor privado (13,5 milhões), por sua vez, caiu 5,3% em relação ao último trimestre de 2024 (14,2 milhões). O IBGE destacou a retração em ramos de construção, serviços domésticos e educação.
A taxa de informalidade recuou a 38% no período até março, após marcar 38,6% até dezembro. O indicador mede a proporção de informais em relação à população ocupada.
RENDA MÉDIA RENOVA RECORDE
Com a força do emprego formal, que costuma pagar mais, a renda média da população que seguiu ocupada voltou a bater recorde.
O rendimento real habitual de todos os trabalhos foi calculado em R$ 3.410 por mês no primeiro trimestre.
Houve alta de 1,2% na comparação com o intervalo até dezembro (R$ 3.371) e de 4% em relação a igual período de 2024 (R$ 3.279).
Considerando toda a série histórica, o recorde anterior havia sido registrado no trimestre móvel até fevereiro de 2025 (R$ 3.401).
A geração de trabalho e renda, verificada em trimestres recentes, é vista como estímulo para o consumo, motor do PIB (Produto Interno Bruto).
O BC (Banco Central), no entanto, tem elevado a taxa básica de juros (Selic) para tentar esfriar a demanda por bens e serviços e, assim, conter a inflação.
A taxa de juros está em 14,25% ao ano, e o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC volta a se reunir na próxima semana para definir o patamar dela.
Analistas do mercado financeiro esperam um aumento de 0,5 ponto percentual, para 14,75%. As projeções também indicam Selic de 15% ao final de 2025.
O desemprego já havia alcançado 6,8% no trimestre móvel até fevereiro, conforme o IBGE. O instituto, contudo, evita a comparação direta entre intervalos com meses repetidos, como é o caso dos períodos encerrados em fevereiro e março.
Para Claudia Moreno, economista do C6 Bank, o mercado de trabalho permanecerá forte ao longo de 2025, apesar da desaceleração gradual esperada para a economia.
“Nossa projeção é de que a taxa de desemprego encerre o ano próxima a 6%, patamar bastante baixo para os padrões históricos do país”, diz.