FÁBIO PUPO
BELÉM, PA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
A quase seis meses da COP30 (30ª conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas), Belém registra um déficit de 13.985 leitos em relação à meta usada pelos governos federal e do Pará para receber os visitantes do evento.
A capacidade de Belém para acomodar os participantes é uma das principais preocupações dos organizadores desde que a capital paraense foi anunciada como sede da conferência. Os temores têm levado a mudanças na programação, como a antecipação da reunião de líderes do evento para o começo de novembro, para reduzir a pressão na rede hoteleira.
De acordo com dados do governo federal, atualmente estão garantidos 36.015 leitos. O objetivo é chegar a um total de 50 mil vagas até novembro, quando o encontro internacional será realizado.
A situação é agravada se for considerada apenas a quantidade de leitos localizados dentro dos limites de Belém. Do total computado pelo governo, 7.966 estão em hotéis na capital paraense e outras 4.788 vagas estão espalhadas pelas redondezas -em municípios como Ananindeua, Barcarena, Benevides, Castanhal, Marituba e Santa Izabel.
Esses locais estão de 9 a 70 quilômetros do Parque da Cidade, principal local da COP30. No caso de um deles, Barcarena, há necessidade de transporte por barco para escapar das duas horas de estrada para chegar ao evento.
Do total, o aluguel por temporada (por meio de plataformas como o Airbnb) responde por 15.256 leitos. Segundo o governo, há ainda 2.005 leitos em motéis, e a previsão de 6.000 leitos em navios de cruzeiro.
A vice-governadora do Pará, Hana Ghassan Tuma, afirma que a meta de 50 mil leitos é mais elevada do que a necessidade observada em COPs anteriores devido ao aumento do interesse de delegações estrangeiras pelo evento.
“Existe grande interesse na COP em Belém, na COP da Amazônia. A gente está trabalhando com um número maior de hospedagem do que em COPs anteriores”, disse.
De acordo com ela, no entanto, os 50 mil visitantes sendo esperados não estarão presentes ao mesmo tempo. “Em Baku [sede da COP29, no ano passado], foram 27 mil visitantes no dia que mais teve gente.
Portanto, esse número de visitantes se dilui ao longo do evento”, disse.
A vice-governadora afirma que as estratégias de hospedagem, que incluem férias de 5 a 23 de novembro para dar lugar aos participantes do evento em escolas, camas em estabelecimentos religiosos e até alojamentos indígenas, darão conta da demanda.
Além da estrutura já existente, diz o governo federal, estão sendo criados 9.877 leitos. São 1.282 vagas em novos hotéis em construção (como os das redes Tivoli e Vila Galé), 5.165 em escolas que funcionarão no formato hostel, 2.267 disponibilizados em habitações das Forças Armadas e 1.163 leitos em alojamentos religiosos.
Uma obra-chave é a do porto do Outeiro, que permitirá receber grandes navios para ajudar a reduzir o déficit de hospedagem. Os trabalhos, nesse caso, estão 69% concluídos, segundo o Governo do Pará.
Além disso, o governo afirma que outros empreendimentos imobiliários (como hotéis, flats e apartamentos) cujo primeiro uso será destinado ao aluguel de temporada durante a COP continuam surgindo em Belém, mas só serão incorporados ao levantamento oficial à medida que tiverem sua viabilidade comprovada.
O secretário extraordinário do governo federal para a COP30, Valter Correia, afirmou que as soluções estão dentro do planejamento previsto e do cronograma e que as delegações estrangeiras vêm sendo atualizadas em tempo real sobre a situação.
“Tive reunião com todas as embaixadas há menos de 20 dias, dando todas as informações, e conversei com mais de 120 delegações”, conta.
Ele lembra que será lançada uma plataforma oficial de hospedagem, de iniciativa do governo e da ONU (Organização das Nações Unidas), para facilitar a busca por leitos. O mesmo foi feito em COPs anteriores.
De olho na demanda, moradores de Belém estão reformando e expandindo suas casas.
A professora aposentada Ana Maria Cardoso de Sousa, 61, está construindo duas suítes para receber os visitantes em novembro e planeja anunciar os quartos em maio. Ela, que também tem feito cursos de capacitação capitaneados pelo governo estadual voltados ao empreendedorismo, vê a COP30 como oportunidade.
“Um momento como esse nunca houve e a gente não sabe se vai haver no futuro. Então o momento é agora”, afirma.
O jornalista viajou a Belém a convite do Governo do Pará.