SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu recuou, nesta terça-feira (29), da decisão de destituir o diretor da agência de segurança interna de Israel, Ronen Bar, um dia após o funcionário afirmar que deixaria o cargo em 15 de junho, dizem a imprensa local e a agência de notícias AFP.
Aparentemente desnecessário devido à renúncia na véspera, o recuo do governo é visto como uma estratégia para evitar que o caso seja analisado pela Suprema Corte, que havia bloqueado a decisão, e crie precedentes jurídicos. De acordo com a AFP, um documento do governo apresentado ao tribunal afirma que os recursos pendentes contra a destituição “já não têm razão de ser”.
A ONG israelense Movimento por um Governo de Qualidade chamou a medida de Netanyahu de “truque cínico e transparente, criado para impedir uma decisão fundamentada em princípios do Supremo Tribunal”.
“Não deixaremos Netanyahu escapar de uma decisão judicial por meio de manobras táticas”, afirmou a organização, segundo o jornal Times of Israel. “As falhas graves no processo de demissão, a motivação imprópria para a demissão de Bar (…) e o desrespeito contínuo ao Estado de Direito exigem uma decisão baseada em princípios que regule o relacionamento entre o governo e o Shin Bet.”
Segundo o jornal israelense Haaretz, Netanyahu segue entrevistando candidatos para o cargo e deve anunciar um substituto em breve.
“O primeiro-ministro acreditava desde o início que Ronen Bar deveria terminar seu mandato de maneira mutuamente acordada e respeitosa”, diz, de acordo com o Haaretz, a resolução do governo. “O processo de nomeação do próximo chefe do Shin Bet levará tempo, e este período será usado para garantir uma transição ordenada.”
A resolução, no entanto, não deve antecipar a nomeação de um novo nome para o cargo -o que está vetado pela Suprema Corte até que a renúncia do atual chefe da agência se concretize.
O anúncio da demissão, no dia 20 de março, marcou a primeira vez na história do Estado judeu que um governo dispensou o líder do Shin Bet, como é chamado o órgão de segurança israelense. As seis semanas que seguiram a medida foram turbulentas, colocando a coalizão ultradireitista de Netanyahu no alvo de críticos que vão de membros do aparato de segurança a famílias de reféns na Faixa de Gaza.
Dias antes da demissão, Netanyahu disse que havia perdido a confiança em Bar. O funcionário, por sua vez, afirma que a decisão ocorreu após ele se negar a atender solicitações do governo que incluíam espionar manifestantes israelenses.
A controvérsia ocorre após mais de dois anos de hostilidade entre apoiadores de Netanyahu e membros de órgãos de segurança e defesa -crise agravada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, a pior falha de segurança na história de Israel e o gatilho para a guerra em Gaza. A oposição sustenta que o funcionário estava na mira do premiê por criticar o governo em relação ao atentado.
Bar, que havia sido um dos principais negociadores israelenses nas conversas sobre cessar-fogo e libertação de reféns, já havia indicado que renunciaria antes do término de seu mandato, em cerca de 18 meses, aceitando a responsabilidade pelo fracasso do Shin Bet em impedir o ataque.