SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Seguindo a tendência de sete dias consecutivos de queda, o dólar recuava nesta terça-feira (29), enquanto a Bolsa subia, com investidores na expectativa por um novo alívio tarifário dos Estados Unidos e diante de dados fracos da maior economia do mundo.
Às 12h20, o dólar caía 0,47%, a R$ 5,620, menor patamar desde outubro do ano passado. Já Bolsa avançava 0,76%, aos 136.044 pontos. Na segunda (28), o dólar fechou em queda de 0,72%, cotado a R$ 5,647, e a Bolsa subiu 0,20%, a 135.015 pontos.
O noticiário sobre tarifas comerciais seguia no radar. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinará nesta terça-feira um decreto para amenizar o impacto de suas tarifas automotivas, segundo informou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em uma coletiva de imprensa.
Autoridades do governo disseram que as medidas vão aliviar algumas tarifas sobre peças estrangeiras para carros fabricados nos EUA, enquanto os importadores não terão que pagar tarifas acumuladas sobre carros e materiais usados para fabricá-los.
“O presidente assinará o decreto sobre as tarifas automotivas ainda hoje, e nós a divulgaremos, como sempre fazemos”, disse Leavitt ao lado do secretário do Tesouro, Scott Bessent, durante uma coletiva sobre a agenda econômica do governo Trump nos primeiros 100 dias.
Bessent disse que a incerteza tarifária é uma “estratégia nas negociações” de Trump, e afirmou que não prevê choques nas cadeia de oferta causados pelas tarifas de Trump.
“Eu não acho que teremos um choque nas cadeias de oferta. E acho que os varejistas gerenciaram seus estoques antes disso.”
Ainda segundo o secretário, a China pode perder 10 milhões de empregos rapidamente devido às tarifas e que Pequim perceberá com o tempo que as tarifas chinesas não são sustentáveis.
Os movimentos da divisa brasileira ocorriam em meio a um cenário mais positivo para a moeda norte-americana no exterior, com avanços modestos sobre pares fortes, como o euro e o iene, e pares emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano.
Por outro lado, ainda havia um certo sentimento de cautela nos mercados, controlando os movimentos cambiais, já que os agentes financeiros aguardam a publicação de uma série de dados importantes ao longo da semana que podem influenciar as negociações.
Nesta terça, foram divulgados dados sobre a confiança do consumidor americano em abril e sobre vagas de emprego nos EUA em março.
Segundo o Conference Board, a confiança do consumidor dos Estados Unidos caiu para o nível mais baixo em quase cinco anos. Entre as razões, está a crescente preocupação com as tarifas, que pesam sobre as perspectivas econômicas.
O índice caiu 7,9 pontos, para 86,0, leitura mais baixa desde maio de 2020. Economistas previam um recuo para 87,5. É o quinto mês consecutivo de queda do índice.
Já as vagas de emprego em aberto nos Estados Unidos caíram de forma acentuada em março, o que indica diminuição da demanda de mão de obra, segundo o Departamento do Trabalho no relatório Jolts.
Por outro lado, houve um declínio nas demissões, o que sugere que o mercado de trabalho permaneceu em uma base sólida.
Economistas esperam que as tarifas aumentem os preços e atrapalhem as cadeias de suprimentos, com um impacto no mercado de trabalho previsto para os próximos meses.
Na próxima sexta-feira (2), será divulgado o relatório mensal de emprego dos EUA, com expectativa de desaceleração na abertura de postos de trabalho. Também estarão no radar números de inflação e de PIB (Produto Interno Bruto), ambos na quarta-feira.
Investidores e analistas buscarão por indícios de efeitos iniciais da política tarifária de Trump sobre a economia norte-americana.
Também permanece incerteza sobre a guerra comercial entre EUA e China, à medida que os dois países seguem fornecendo visões diferentes sobre a situação das tensões comerciais entre ambos.
Na cena doméstica, o mercado avalia mais comentários do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, durante coletiva sobre o Relatório de Estabilidade Financeira.
O presidente do BC disse que não tem nenhum tipo de desconforto com a meta de 3% para a inflação, ponderando que o Brasil diverge de outros países ao seguir com dinamismo econômico mesmo convivendo com juros elevados.
No relatório divulgado mais cedo, a autarquia afirmou que as instituições financeiras indicaram mais cautela no apetite ao risco em 2025, em um ambiente em que riscos fiscais ganharam mais relevância e de percepção de piora no ciclo econômico e financeiro.
Na véspera, durante evento promovido pelo Banco Safra, Galípolo disse que o BC precisa reunir confiança de que a inflação está convergindo para a meta e que a política monetária está produzindo os efeitos desejados, ressaltando que não há uma variável única que vá dar essa segurança e é preciso reunir uma diversidade de dados.
No mesmo evento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a economia brasileira é grande demais para ser satélite de qualquer outro país e que a guerra comercial “é uma oportunidade para o Brasil fazer valer sua diplomacia comercial e obter vantagens bilaterais”.