ISABELA PALHARES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Pais e alunos das escolas municipais realizam um ato na manhã desta terça-feira (23) em frente à Câmara Municipal de São Paulo, no centro da capital paulista, em apoio à greve dos professores.
As crianças carregam cartazes com frases como “respeite a minha professora”, “Nunes inimigo da educação” e “tire a mão da minha escola”. As famílias pressionam os vereadores a votarem contra o projeto do prefeito Ricardo Nunes, que prevê reajuste de apenas 2,6% para os servidores municipais neste ano.
O texto foi aprovado em primeira votação na última quarta-feira (23), mas para entrar em vigor precisa passar por uma segunda votação em plenário, prevista para a tarde desta terça. O projeto prevê um novo aumento de 2,55% a partir de maio de 2025, assim os servidores teriam um aumento de 5,2% parcelado em duas vezes. A inflação em 2024 foi de 4,83%.
O ato reúne famílias de ao menos 20 escolas municipais, além de professores que estão em greve. Os pais dizem que decidiram se mobilizar após o prefeito ameaçar os servidores de punição pela paralisação e por não atender aos pleitos da categoria.
“Não vão nos colocar contra os professores, nós, pais, sabemos o quanto eles se dedicam para educar nossos filhos, mesmo em condições tão precárias. Nossa mobilização é em defesa daqueles que cuidam dos nossos filhos, em defesa da escola em que eles estudam”, disse a arquiteta Gabriela Luna, 42, mãe de uma aluna de 5 anos.
Os servidores reivindicam 12,9% de reajuste linear para todo o funcionalismo municipal. Pedem também a elevação do piso de todos os profissionais da educação (não apenas dos professores), com a incorporação dos valores à carreira, e o fim da contribuição previdenciária de 14%.
Pedem ainda melhores condições de trabalho, como a contratação de mais profissionais de apoio para atuar com crianças com deficiência nas escolas e mais funcionários de limpeza. Eles também são contrários à proposta de Nunes de privatizar a gestão de escolas municipais.
A arquiteta Isadora Barroso, 39, afirma que há uma piora na qualidade das escolas. A filha dela, de 5 anos, estuda na rede municipal desde o primeiro ano de vida.
“As salas têm cada vez mais alunos, menos estrutura, menos investimento. A consequência recai nos professores e na qualidade da educação para os nossos filhos. Não tem como os professores fazerem milagre.”
Nunes chegou a dizer que puniria os servidores que parassem, sobretudo os professores. “A gente não vai permitir que essas pessoas utilizem de ações políticas partidárias para conturbar o processo pedagógico. Estamos monitorando para fazer a punição daqueles que utilizarem desse tipo de recurso contra a educação, contra as crianças”, disse.
A Prefeitura de São Paulo ingressou na Justiça para a instalação de dissídio coletivo para considerar a greve abusiva. Em decisão liminar, o desembargador Artur César Bereta da Silveira atendeu parcialmente o pedido da gestão Nunes e determinou que os sindicatos devem garantir ao menos 70% dos profissionais das escolas em atividade durante a paralisação.
O descumprimento da medida está sob pena de multa diária de R$ 10 mil para cada um dos sindicatos.
Por ser uma decisão liminar, temporária, ainda cabe recurso. Os sindicatos defendem o direito constitucional de greve.