Localizada no Guará I, a Biscoito Brasília é uma empresa familiar que fabrica biscoitos com um gostinho bem brasiliense. A marca conta com dez tipos de biscoitos, e quem passa perto do endereço já consegue sentir o cheiro irresistível das iguarias feitas na casa. A fundadora, Marina de Oliveira Barbosa, contou ao Jornal de Brasília que o amor pela cidade e o retorno do filho para a capital foram a inspiração por trás da receita do “xodó” da casa: o biscoito artesanal estampado com a arquitetura da capital.
A confeiteira por trás do Biscoito Brasília tem 58 anos e nasceu no interior de Minas Gerais, mas se considera brasiliense, pois mora na capital há 34 anos. Antes de encontrar a receita perfeita — que equilibra chocolate e caramelo com artes inspiradas na arquitetura da cidade — Marina trabalhou por 15 anos em uma empresa de confecção de roupas. Depois disso, como ela sempre gostou de cozinhar, resolveu fazer um curso de seis meses de padaria e confeitaria no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-DF). “Lá eu me destaquei muito no curso e também gostei muito das aulas. Desde então, comecei a fazer biscoitos em casa”, afirmou.
A partir desse momento, Marina começou a fazer cupcakes para vender. “Eu achava esse tipo de doce muito bonito e vendia nas lanchonetes das escolas”, contou. Ela chegava a vender 2 mil cupcakes para a cantina de um colégio grande de Brasília. Mas, na mesma época, foi sancionada a lei que proibia a venda de doces nas instituições de ensino, e ela perdeu seu negócio. Uma situação que logo foi resolvida, quando Marina conheceu a dona da Oficina de Tortas, por meio do colégio onde os filhos dela estudavam. “Ela faz tortas maravilhosas e gostou dos meus cupcakes. Eu comecei a fazer biscoito e colocar à venda na loja dela”. Nesse período, ela tinha muita vontade de trabalhar com chocolates, por isso começou a procurar mais cursos para aprimorar o ofício de confeiteira.
Marina destacou as oficinas que fez com Renata Penido e, depois, com o confeiteiro Flávio Federico. Segundo ela, graças a essas pessoas, foi capaz de desenvolver receitas de chocolates. “Nada saiu do zero. Foi com essas experiências que eu me aprimorei.” A empresária conta que, nessa época, já tinha montado a empresa de biscoitos — só não trabalhava com chocolates ainda.
O nome da marca de Marina era Fazenda Biscoiteria antes de se tornar Biscoito Brasília. Nessa fase, a empresária queria resgatar toda a estética e o sabor de coisas feitas na roça. “Por exemplo, nós fazemos uma rosca 100% caseira”, acrescentou. Ela queria trazer para as pessoas a sensação nostálgica da infância. “Queria que as pessoas falassem: Nossa, eu comia isso aqui na casa da minha avó”.
Marina sempre procurou trabalhar com produtos de qualidade e fazer um biscoito que realmente fosse artesanal. “Queria que fosse aquele biscoito que você faz na sua casa”, salientou. Para ela, a autenticidade dos quitutes sempre foi um ideal a ser seguido. Mais para frente, surgiu o biscoito de caramelo e chocolate, que Marina considera ter sido realmente um divisor de águas. “Porque, naquela época pandêmica, o pequeno empresário estava falido. O comércio fechou”, lembrou.
A inspiração que mudou a vida de Marina
O Biscoito Brasília surgiu da necessidade de ter um produto diferente para vender e teve como inspiração o filho Vitor, que tinha acabado de retornar à capital depois de muito tempo morando fora. “Eu estava completamente perdida, sem saber como seguir por causa da pandemia. Todo mundo ficou naquele desespero”, acrescentou. Marina lembra que trabalhava com outro empreendedor, que tem quiosques em shopping, e eles não sabiam o que fazer, já que os centros comerciais fecharam. “Eu cheguei em casa e o Vitor falou para mim: Nossa, eu estou com muita saudade de Brasília”, Marina recordou.
O filho de Marina, Vitor Valentin de Oliveira Barbosa, 29 anos, acredita que se trata daquelas situações na vida em que as coisas são mais valorizadas depois que não estão mais ao alcance da pessoa. “Eu morava em Brasília e era tudo garantido, era o lugar de sempre, e depois de ter passado vários anos fora e voltar, que comecei a reparar o valor arquitetônico das quadras, o tanto que o trânsito flui bem e o quão agradável é andar nessas áreas verdes que tem na Asa Sul”, comentou Vitor. Dessa nostalgia surgiu o comentário que ele fez para a mãe sobre a capital e sua arquitetura. “Foi a partir daí que eu falei: vou criar um biscoito em homenagem a Brasília”, salientou Marina.
A confeiteira queria dar o melhor de si nessa receita e explica que, sempre que alguém vai experimentar a iguaria pela primeira vez, ela afirma com todas as palavras: “Você vai comer o melhor biscoito da sua vida”. Marina sabe que colocou todo o amor e o que tinha de melhor para fora, para chegar àquela receita. “Foi o melhor que eu pude tirar de mim para fazer a criação da bolacha, que surgiu do zero, por exemplo. Eu fui testando os ingredientes e combinando os elementos para não ficar muito doce”, cita.
Para fazer a camada de caramelo que vai entre as duas bolachas, Marina precisou buscar conhecimento para desenvolver uma textura que, como ela explica, teria que ser agradável no recheio, na hora da mordida. “Eu queria criar algo que fosse agradável no sabor, que não fosse muito enjoativo”, enfatizou. Para complementar com o chocolate por cima da última bolacha, a confeiteira pesquisou muito e concluiu que o item precisava ter 52% de cacau. “Foi na intenção de criar o melhor biscoito que eu pudesse. Eu precisava muito que desse certo, pela situação financeira da pandemia”, frisou Marina.
Todo esse cuidado para encontrar o ponto perfeito da iguaria foi dedicado aos dois filhos e aos brasilienses, pois Marina considera que o morador de Brasília reconhece as coisas boas e de qualidade. “Eu tenho uma cliente, por exemplo, que mora aqui em Brasília, mas tem uma casa em Orlando, nos Estados Unidos, e ela tem que levar aquele monte de biscoito, porque ela sabe que está comendo uma coisa boa”. A família da cliente virou regular na loja e consome outros quitutes desenvolvidos por Marina.
Brasília vista através dos Biscoitos
A escolha das estampas que vão em cima dos biscoitos é algo que Vitor gosta de destacar, pelo fato de enaltecer os traços arquitetônicos da cidade. “É um valor que talvez nós, que estamos aqui na capital, não apreciamos tanto por ser garantido. Eu morei aqui por 17 anos no início da minha vida e nunca tinha ido à catedral. Só quando voltei, que eu fui visitar e comecei a olhar para a cidade com outros olhos.” Para ele, a identidade da capital é algo que pertence aos brasilienses e que precisa ser valorizada.
Com essa ideia romântica de ressaltar a beleza arquitetônica da cidade, através das sinetes com vários monumentos marcantes da capital, Vitor e a mãe acreditam que o Biscoito Brasília tem esse caráter de levar a beleza dessa região para os clientes locais, nacionais e internacionais. “Brasília tem um grande potencial e nós queremos ser protagonistas na escrita dessa história. Queremos levar Brasília para o resto do Brasil, para o pessoal nos conhecer por meio do fornecimento do Biscoito Brasília para eventos fora de Brasília ou através de pessoas que estão indo encontrar familiares, conhecidos em outras cidades e levar como lembrancinha”, frisou.
Brasiliense de coração, Marina aprendeu a gostar de Brasília e fica com raiva se vê alguém falando mal do quadradinho. “Eu defendo o meu lugar. Quando vejo motorista de aplicativo falando que só tem gente que rouba em Brasília, eu fico com muita raiva.” Ela, inclusive, já negou ofertas de levar a marca para fora do DF. “Já tive propostas de empresários querendo levar a empresa para outros lugares, mas eu gosto muito de Brasília”, comentou.
Sonho e impacto social
A empresa familiar hoje conta com a participação de Vitor à frente da parte administrativa, mas Marina afirmou que Laura, sua outra filha, também faz parte da marca. “Mas o mérito da construção da empresa é 100% da minha mãe, que está batalhando há mais de uma década”, destaca Vitor. Ele acredita que seu papel, por enquanto, é trazer um pouco do conhecimento da área de tecnologia e passar a parte administrativa do papel para o digital.
Marina tem um sonho muito grande de fazer um trabalho social na Cidade Estrutural, por meio do que ela e a família conquistarem com a empresa. Atualmente, além dela e do Vitor, trabalham na empresa dez funcionários. Desse número, apenas uma pessoa não é moradora da Estrutural. “Os meus funcionários são pessoas inteligentes e de muito boa vontade, pessoas que me ajudam muito”, afirmou.
Saiba mais
- A Biscoito Brasília atualmente trabalha com a produção de sete tipos de bolos caseiros e dez tipos de biscoito, além do pão de rosca, com três opções: açúcar, coco ou natural. A marca também aceita encomendas do Biscoito Brasília para festas e casamentos, por exemplo. Marina conta que tem parcerias importantes com hotéis da capital e com eventos culturais.
- Biscoito Brasília
- QI 10 Bloco B, lote 5, lojas 1 e 2 – Guará I