Mercado do sexo online ganha força em Roraima

Vender conteúdo adulto na internet se tornou uma alternativa de renda para muitos roraimenses que hoje apostam no mercado do sexo. A prostituição online aparece em várias páginas de travestis, mulheres e garotos de programa que moram na periferia de Boa Vista. Tem até perfil exclusivo para atender o público idoso, acima de 60 anos.

A Folha BV pesquisou nos últimos dias vários perfis de pessoas em Roraima, que marcam programas sexuais e vendem fotos e vídeos adultos pela internet. Entre as plataformas digitais, o Instagram é o mais utilizado pelos trabalhadores digitais do sexo, conhecidos como “packs pornográficos”.

O preço do programa sexual depende do que vai acontecer em “quatro paredes”, como conta uma travesti de 29 anos, produtora de conteúdo adulto que ela vende na rede. A conta dela já foi “derrubada” duas vezes, mas em menos de dois meses, de fevereiro passado até agora, “Amanda” (nome fictício) já conquistou quase 14 mil seguidores em seu novo perfil no Instagram.

“Ganho um bom dinheiro vendendo meus vídeos adultos, mas não exponho meus parceiros. Também utilizo o Insta para marcar programas, que variam de acordo com o pedido do cliente. Quanto mais ele pede, mais o preço sobe. Varia de R$ 300 (quando sou passiva) a R$ 500 (quando faço o papel do homem)”, detalhou.

Desde quando começou a se apresentar nas redes sociais, a travesti passou a ganhar em média R$ 6 mil por mês. Mas ela conta que já houve ocasião em que a Amanda faturou acima de R$ 10 mil em menos de 30 dias. Cada vídeo adulto seu custa R$ 300, “mas se o cliente quiser filmar na hora do programa, sai um pouquinho mais caro”, avisou.

“Este mercado só cresce em todo o mundo, e em Roraima não é diferente. Tem muita gente que me contrata para ter prazer com segurança e conforto. E este é meu serviço. Apenas realizo fetiches sexuais de quem me paga. Tudo no mais absoluto sigilo”, garantiu.

O negócio está dando tão certo que, em uma de suas postagens, Amanda reclama de meninas entrando em contato com ela, pedindo Pix. Então, a travesti ensina as “novinhas” a usarem o sexo para ganhar dinheiro.

Mas a travesti advertiu para os riscos da profissão, mesmo com a seleção dos clientes que pode ser feita na rede social. Amanda lembrou que já passou momentos difíceis ao fazer um programa com dois homens, em uma pousada no bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste da Capital. Ao se recusar a transar sem preservativo, a travesti foi agredida pelos clientes, segundo ela.

“Eu não sabia que eles usavam droga. Quando chegamos ao quarto, começaram a cheirar (cocaína) e beber uísque. Depois, me pediram para fazer sexo oral, mas como eu disse não, um me puxou pelos cabelos e me colocou ajoelhada na frente dele. O outro então me avisou que iria me matar caso não fizesse o que eles queriam. Foi difícil, mas depois eles se acalmaram, me pagaram e eu fui embora”, lembrou.

A agressão ocorreu quando a travesti ainda fazia programas em um ponto fixo na zona Oeste de Boa Vista. Depois do episódio, Amanda abandonou as ruas e passou a trabalhar somente com clientes que consegue nas redes sociais. “É mais seguro. Antes de marcar o programa, vou no perfil do interessado e vejo de quem se trata. Se for perfil falso, nem marco o encontro. A rede social nos dá mais segurança”, avaliou.

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Antes de entrar no mercado do sexo e “bombar” nas redes sociais, a travesti trabalhava como cabeleireira em um salão de beleza no bairro Nova Canaã, na zona Oeste, porém ela encontrou um ramo mais lucrativo na prostituição, o que a fez abandonar a primeira profissão, que pouco lhe rendia por mês.

“É só ter cuidado, transar com preservativo, saber antes quem é o cliente e o local do programa, se é seguro ou não. Se tudo estiver bem definido, é só dar prazer e realizar fetiches do cliente e depois faturar”, resumiu.

Jovens da periferia também faturam com prostituição virtual

As redes sociais também apresentam inúmeros perfis de jovens, a maioria da periferia de Boa Vista, que também entraram neste mercado devido à flexibilidade e ao potencial de ganho que ele oferece, apesar dos riscos de suspensão de contas, o que não é problema para quem trabalha no ramo.

É o caso de “John” (nome fictício), que diz ter 18 anos. Morador da zona Oeste da Capital, o garoto de programa garantiu, em entrevista por telefone, afirmou que a indústria do sexo online é um mercado muito rentável. A renda dele obtida com esse tipo de ocupação é variável. “Novinho”, como se intitula, ganha até R$ 3 mil por mês, fazendo programas com homens e mulheres.

“Descobri que posso faturar alto fazendo programas com a ajuda da internet. Não tem emprego com bons salários e só tenho o ensino médio. Por isso, encontrei nas redes sociais um jeito de ganhar um bom dinheiro. Acerto os programas pelo meu Insta com mulheres e homens, também. Geralmente, sou mais requisitado pelos coroas. Eles pagam melhor”, ressaltou.

O jovem disse que começou a se prostituir na rua aos 16 anos. Foi quando ele descobriu que tinha “potencial” e que podia se profissionalizar com o advento da tecnologia. “Antes não, mas hoje, eu sendo maior de idade, também vendo meus vídeos para o público adulto. Gravo tudo em casa ou na casa de clientes, com o consentimento deles, claro. Dá para tirar um bom dinheiro por mês”, revelou.

Entre as propostas, John lembrou que já passou uma semana viajando pelo Nordeste com um empresário roraimense, casado. “Ganhei um bom dinheiro nessa aventura e comprei uma moto zerada. Até hoje, quando a esposa viaja, ele me liga e me paga para dormirmos juntos. Também já me pagou para eu manter relações sexuais com a mulher dele, mas tinha que ser na sua frente. Eu topei e recebi mais dinheiro”, contou.

Massagista do sexo prefere público idoso

Foto: Ilustração Wenderson Cabrall/FolhaBV

Para os mais discretos, existem contas roraimenses nas redes sociais que tentam disfarçar o mercado do sexo, mas que também tratam da prostituição. É o caso da “massagista” Kely (nome fictício). Ela é mais uma que encontrou meios de ganhar dinheiro, marcando programas sexuais pelo Instagram, grupos de WhatsApp e outras redes sociais.

“Muitas pessoas ainda tem vergonha de entrar em um perfil, ou página destinada ao mercado do sexo. Então, eu digo que faço massagens, mas caso o cliente queira, também faço programa. Atendo em casa, no motel ou aonde o cliente estiver. O sigilo é garantido”, assegurou a massagista.

Kely falou que faz todo tipo de programa, menos com menores de idade, e que a maioria deles é acertada pelas redes sociais. Seu público alvo está concentrado no WhatsApp. Ela contou que participa de várias comunidades virtuais e que já fez sexo até em grupo com um casal de idosos.

“Neste caso foi uma senhora que me contratou. Ela mandou mensagem me perguntando se eu toparia ficar com o marido dela (de 68 anos) na sua frente. Eu disse que sim, que por mim não havia problema. Então, ficamos a três na casa deles e no final recebi R$ 800”, lembrou.

Antes de trabalhar no ramo da prostituição, com o reforço das redes sociais, a massagista fazia diárias como doméstica, mas o dinheiro era pouco, segundo ela, para sustentar seus três filhos. Hoje ela conta que ganha três vezes mais, fazendo “massagens” e outras “terapias do amor”.

Separada há mais de três anos, Kely garantiu que encontrou no mercado do sexo uma melhor condição financeira para sobreviver e sustentar a família. Seu público alvo, ela faz questão de dizer, é voltado para pessoas mais “experientes”.

“Não trabalho com gente nova. Prefiro os mais velhos porque são pessoas definidas e sabem o que querem. O público acima dos 50, 60 anos não tem “grilo” na cabeça, por isso os programas são mais seguros”, justificou.

Mas Kely informou que mantém o anonimato para resguardar sua seleta clientela. “Os mais velhos preferem fazer tudo escondido. Geralmente são pessoas com formação e status social, por isso pedem sigilo absoluto, um direito que todos têm neste mercado. Já prestei meus serviços sexuais até para homem público, muito conhecido na sociedade roraimense, mas o sigilo da identidade é garantido”, assegurou.

“Packs pornográficos”

Ainda nas redes sociais, a reportagem encontrou outras dezenas de perfis locais voltados à prostituição, o que comprova o crescimento do mercado do sexo online em Roraima.

Apesar do Instagram e outras plataformas digitais serem uma rede social gratuita para compartilhamento de fotos e vídeos, nelas também é possível faturar alto com compartilhamentos de material de nudez e pornografia amadora. Este mercado em Roraima vem se tornando a principal fonte de renda de muitas pessoas, em especial os trabalhadores digitais do sexo, os “packs pornográficos”.

A prostituição em redes sociais, com venda de vídeos adultos ou nudes com o consentimento dos envolvidos, não é proibida pelo Código Penal brasileiro, mas as autoridades policiais alertam para a exposição e exploração sexual de crianças e adolescentes, pedopornografia e pedofilia na rede, o que caracteriza crimes com pena superior a seis anos de reclusão, dependendo do caso.

Também é crime expor vídeos adultos ou nudez de quem não autoriza tais publicações. Fora isso, as redes sociais se tornaram uma das principais ferramentas do mercado do sexo em Roraima, no Brasil e no mundo.

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