Do “quase zero” ao “grande sucesso”: como o ministro Fufuca tropeçou nas próprias palavras

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Quando André Fufuca assumiu o Ministério do Esporte, em setembro de 2023, uma de suas declarações causaram espanto: “Não podemos falar de uma revolução esportiva no momento em que temos um esporte de qualidade quase zero no país.” A frase, carregada de pessimismo, soava como uma pá de cal sobre décadas de construção e investimento no esporte brasileiro — especialmente se considerarmos os resultados expressivos nas Olimpíadas, Paralimpíadas e até mesmo no futebol, onde somos pentacampeões mundiais e referência no continente.

Fufuca talvez desconhecesse, naquele momento, que o Brasil encerrou os Jogos Olímpicos de Tóquio em 12º lugar no ranking geral — à frente de países como Espanha, Suécia e Coreia do Sul — e, nos Jogos Paralímpicos, somamos 72 medalhas, encerrando a competição em 7º lugar no mundo. Um desempenho que, convenhamos, está longe de ser “quase zero”.

Mas o tempo passou, e o ministro parece ter mudado de ideia. Nesta semana, Fufuca comemorou efusivamente a divulgação da maior lista da história da Bolsa Pódio, categoria de elite do programa Bolsa Atleta. Foram 435 atletas contemplados, um aumento de 25% em relação ao ano anterior. “Exemplo de política pública que deu certo na prática”, declarou ele. Curioso. O programa, criado em 2004, na gestão Lula, é exatamente a prova de que o esporte brasileiro já estava longe do “zero” muito antes de Fufuca chegar ao ministério.

O valor das bolsas, que somam mais de R$ 41 milhões até dezembro de 2025, é um investimento contínuo de um projeto que atravessou governos e colhe frutos com regularidade. Fufuca agora elogia aquilo que antes desdenhou. E o faz como se fosse autor da ideia, quando na verdade é apenas um personagem tardio no enredo.

Aliás, em 2004, quando a Bolsa Atleta foi lançada, o então futuro ministro tinha apenas 15 anos. Hoje, aos 35, celebra com entusiasmo os méritos de uma política pública que começou quando ele ainda estava no ensino médio. Ironias do tempo — e da política.

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