SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um soldado de 19 anos afirmou ter perdido o movimento das pernas após sofrer agressões de outros militares dentro do quartel do Exército, onde cumpria rotina de treinamentos desde o fim de fevereiro, em Barueri, na Grande São Paulo.
Em depoimento à polícia, o soldado contou que ficou internado após levar chutes na região no peito enquanto fazia flexões como punição por ter perdido a fivela do cinto da farda. A violência teria ocorrido em 12 de março, dentro de uma sala escura e sem presença de testemunhas, segundo a vítima. Não foi informada a patente dos acusados.
No mesmo dia, ele relatou ter sentido gosto de sangue na boca ao fazer os exercícios de treinamento e só foi levado ao pronto-socorro no dia seguinte.
De volta ao quartel, o soldado disse que foi obrigado a comer rápido durante o jantar, quando passou mal e vomitou sangue. Ele, então, foi encaminhado ao Hospital Militar de Área de São Paulo (HMASP), na Vila Mariana, zona sul da capital, onde ficou internado por oito dias.
Atualmente, ele se recupera na casa dos pais.
Segundo o advogado que representa a vítima, Eduardo Lemos Barbosa, o soldado quebrou duas costelas, perdeu o movimento das pernas e se locomove com cadeira de rodas. “Ele está profundamente prejudicado emocionalmente e só consegue dormir com uso de medicamentos. O tempo todo tem medo de que vão invadir sua casa para matá-lo”, diz. “Não pode ver ninguém fardado”, continua.
Exame de ressonância magnética apontou enfermidade em uma das vértebras da coluna lombar.
O advogado nega se tratar de uma condição pré-existente ao período no Exército.
O boletim de ocorrência por maus-tratos foi registrado cerca de um mês depois das agressões relatadas, no dia 24 de março, na 1ª Delegacia de Polícia de Barueri, onde o caso é investigado.
Em nota, o Exército informou que o “Arsenal de Guerra de São Paulo instaurou uma sindicância para apurar os fatos”. “Até o momento, não há qualquer indício de ocorrência de crime no interior daquela Organização Militar”, acrescentou. O militar vem recebendo a devida assistência médica desde o momento em que foi constatado problemas de saúde, segundo a instituição.
O Arsenal de Guerra de São Paulo foi alvo de investigação no fim de 2023 pelo desaparecimento de 21 metralhadoras, que foram desviadas no feriado de 7 de Setembro. Na época que o sumiço foi descoberto, todos os 480 militares do local ficaram aquartelados por ao menos uma semana.
Parte das armas foi localizada pelas polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo e pelo Exército.
Segundo a investigação, a venda dos armamentos foi negociada com duas facções criminosas, o Comando Vermelho e o PCC.