JULIANA ARREGUY
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Único candidato à presidência nacional do PSB, o prefeito do Recife, João Campos, defende a manutenção de Geraldo Alckmin como o vice-presidente de Lula (PT) nas eleições de 2026 e projeta o aumento do radicalismo de direita nos cargos legislativos.
“É uma posição clara e unificada dentro do partido [o PSB na vice de Lula], com a prioridade da manutenção do vice-presidente Geraldo Alckmin numa chapa presidencial”, disse ele nesta quinta-feira (24) ao participar de um ciclo de palestras da Fundação Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo.
Para o prefeito, que comandará o PSB em ano eleitoral caso seja aclamado presidente ao fim do próximo mês, o cenário em 2026 será de maior polarização política e menor profundidade dos debates. Como exemplo, citou discussões acaloradas sobre políticas identitárias que opõem adversários de direita e esquerda: “Elas são posições legítimas, mas não representam nenhum dos maiores problemas das áreas que elas estão estão diretamente ligadas”, disse.
“A próxima eleição vai ser muito difícil, onde a gente tem uma tendência, principalmente no parlamento, de aumento do radicalismo e de uma posição mais voltada para a direita. A gente ainda vai ter um ciclo eleitoral, em 2026, muito pautado nessa disputa mais estridente e menos profunda, isso atrapalha muito o consenso”, declarou.
Segundo ele, o extremismo político pode ajudar a fortalecer o seu partido, que classificou como de centro-esquerda, por representar uma alternativa à polarização e ao que chamou de “centro muito pragmático”, em referência aos partidos do centrão. Apesar disso, negou se tratar de uma indireta ao governo Lula.
“É claro que o presidente Lula precisa construir um caminho que garanta governabilidade, que ele possa construir aprovações e ter uma base de sustentação no Congresso, mas qual é o desafio? O timing da eleição vai chegando e muitos daqueles que supostamente ajudam na governabilidade podem não estar com ele [Lula] na eleição, aí você cria uma disfunção. Agora, ela também não é fácil de ser solucionada, porque o governo precisa de governabilidade”, afirmou.
Ele defendeu que o governo federal “faz mais do que as pessoas percebem que ele faz” e disse que é necessário ter a capacidade de mostrar isso ao eleitor. A fala ocorreu em meio às críticas que o governo Lula tem sofrido sobre estratégias de comunicação.
Campos não citou nenhum caso específico, e questionado sobre a recusa do deputado federal Pedro Lucas (União Brasil-MA) em comandar o Ministério das Comunicações, 12 dias após ter sido anunciado no cargo, afirmou que “cada partido tem sua dinâmica interna” e que há “muita variável em jogo para se tomar uma decisão” – União Brasil e PP chegaram a um acordo e devem anunciar federação na próxima semana.
O prefeito também avaliou que o Brasil está inserido em um cenário de instabilidade mundial diante do crescimento de movimentos de extrema direita e de disputas comerciais, em especial o tarifaço promovido pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao qual chamou de “bullying econômico”.
“O cenário de instabilidade está instalado no mundo inteiro, nas democracias liberais, nas grandes democracias, cenários de guerra em continentes até muitas décadas não vistos, instabilidade religiosa, política, nível de intolerância plena em diversas esferas para além da política”, disse.